i'll go, the end

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- Shawn Mendes -

– Você não precisa ir, Shawn. – Ouço a voz do meu pai.

Ergo a cabeça, buscando com o olhar.

– Eu vou.

O rosto do meu pai está sério mas sereno. Sei que ele não quer que eu vá, para me preservar. Mas eu não seria eu se não fosse. Devo me despedir.

Seguro a gravata preta, que parece me sufocar. Folgo e tiro por cima da cabeça, abrindo o primeiro botão da gola.

Ainda estou em um dos assentos da van quando a minha mãe aparece com um copo de café de uma cafeteria próxima. Ela beija meu rosto e me dá o café.

– Come alguma coisa, filho. – Ela diz, erguendo uma sacola de papel.

– Eu não consigo. – Sussurro. Meu estômago está um reboliço, como se estivesse congelado.

– Filho, você ainda não comeu desde... – A voz dela vai sumindo aos poucos. – Desde o que aconteceu. Toma pelo menos o café.

Aceito, acenando com a cabeça. Tomo alguns goles do café quente, me aquecendo um pouco. Está chuviscando lá fora, fazendo um som tranquilizador quando a água acerta a van.

Não consigo não pensar nela. Em Avalon perfeitamente saudável ao meu lado, falando daquele jeito super inteligente sem nem ao menos perceber. Nela embaixo de mim, e suas mãos nos meus cabelos enquanto eu me empurrava contra ela. E todas as vezes que desperdiçamos tempo brigando, quando poderíamos estar fazendo amor.

Se ela estivesse aqui, diria com um sorriso convencido: eu não prometi que você ficaria bem?

Meus olhos pesam e eu respiro fundo. Não posso chorar de novo. Meus pais já estão preocupados demais com meu estado psicológico desde o atentado. Eu não posso deixar que eles achem que estou sem controle.

Baixo os óculos escuros da minha cabeça para o meu rosto. Não quero que eles vejam meus olhos marejados.

Ela se colocou na minha frente. Tomou aqueles tiros no meu lugar. Ela disse que me amava, nos meus braços.

– Está tudo bem, querido. – Minha mãe sussurra, passando a mão nos meus braços. Percebo que estou chorando, de verdade.

– Está na hora. – Meu pai diz, pegando alguns guarda chuvas. Ele estende um para mim e outro para a minha mãe.

Quando deixamos a van, eu vejo ao longe algumas poucas pessoas concentradas por ali. Todas estão em volta da cova, e há um padre bem em frente.

Eu não consigo prestar atenção em nada além do caixão assim que meus olhos o veem. Tenho certeza que o padre está falando alguma palavra de conforto, mas eu não consigo focar em nada além daquele maldito caixão de madeira clara.

Talvez seja a minha mente tentando me preservar, para não ouvir as palavras que confirmam a tragédia. Para não ver a verdade que dói tanto.

A madeira é firme, envernizada. A cor é tão clara quanto um tronco de árvore pode ser. Pensar apenas no aspecto da madeira me faz melhor que pensar na pessoa lá dentro.

– Shawn? – Alguém chama, me tirando de órbita. – Quer dizer algumas palavras?

Eu apenas balanço a cabeça negativamente, sem tirar os olhos do caixão. Não sei quanto tempo leva até que o caixão começa a descer lentamente. Quando para, sinto alguém colocar algo na minha mão livre. Ao olhar, percebo que é uma flor... Uma rosa branca.

Me aproximo do túmulo, apertando com força o guarda chuva enquanto jogo a flor dentro, por cima do caixão.

Dou alguns passos para trás e continuo ali por tempo demais. O suficiente para ver a cova ser cheia de terra novamente, e ver alguém cravar na terra uma lápide de madeira, temporária.

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