Capítulo 3

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Gerard

Sou acordado pela luz do sol que queima meus olhos e faz minha pele arder.

Só estou aqui a quatro dias e meu maior desejo é o de encontrar logo um emprego e comprar a porcaria de uma cortina para Raymond colocá-la na janela ao lado do sofá-cama. O apartamento é pequeno — apenas um quarto, um banheiro e uma cozinha ligada a sala — e Ray mantém várias guitarras, amplificadores e plantas caseiras espalhadas pela sala, então seus móveis estão todos amontoados no canto abaixo da porcaria da janela. (Eu queria deixar minhas coisas por ali quando "me mudei", mas meu amigo insistiu para que eu as deixasse no seu quarto, o que foi um alívio já que elas acabariam se perdendo em meio ao seu ambiente criativo.)

Pisco várias vezes para tentar me acostumar com a luminosidade. Ray está parado ao lado do sofá cama. Seu afro está amassado de um lado e ele está vestindo uma camiseta do Joy Division. Ele também está usando óculos, o que significa que não deve ter encontrado suas lentes de contato.

Ray chuta minha perna que está pendendo para fora do sofá-cama.

— Mikey está vindo — diz ele e é o suficiente para que eu saiba que preciso me levantar e me obrigar a parecer menos miserável.

Vou direto para o banheiro. Estou cheirando a cerveja e cigarros. Não foi uma das minhas melhores noites — mas ultimamente nenhuma tem sido. Preciso desesperadamente de um banho.

Lindsey me ligou na noite passada. Mikey havia contado a ela o que aconteceu. Foi bom ouvir sua voz. Era sempre bom. Eu sentia falta da Lynz. Do sorriso dela e dos seus braços envolvendo meu pescoço e de quão bem ficávamos juntos. Nós éramos o casal perfeito e todos podiam ver isso. E o pensamento de que ela tinha jogado a única coisa que eu tinha certeza de que me garantiria um futuro no lixo fez com que meu sangue fervesse, o que acabou causando uma briga.

Eu não queria brigar com Lynz. Mas estava tão cansado e frustrado e nervoso com tudo. Acabei, por consequência, descontando nela.

Sinto que deveria ligar para ela e tentar consertar as coisas. Não vou pedir para voltar porque sei que não é o que Lindsey quer. Mas se ela voltar atrás em sua decisão, não vou negar. Eu a aceitaria de volta. Eu a aceitaria de volta mesmo depois de uma vida toda.

É isso. Vou ligar para Lindsey quando meu irmão for embora. Vou ligar para ela e pedir perdão. Por ontem e por antes disso. Pedir perdão por todas as minhas falhas e todos os meus defeitos. E talvez, assim, ela perceba que devemos ficar juntos.

Quando saio do chuveiro posso ouvir a voz de Mikey vindo da sala. Meu irmão é o tipo de pessoa que fala pouco e ri baixo, mas por alguma razão ele fica confortável na presença de Ray. Os dois normalmente passam horas conversando sobre música e coisas bobas que fizeram na semana. A única outra pessoa com quem já o vi agir assim foi comigo.

Deixo o banheiro e sigo direto para a cozinha. Não me preocupo em dizer oi a Mikey, ele está entretido olhando alguns riffs que Ray anotou em sua escrivaninha enquanto o mesmo procura por algo com uma das suas guitarras nas mãos.

Esquento as sobras de um macarrão com queijo que Ray fez para o jantar na outra noite e despejo uma grande quantidade de café dentro de uma caneca. Estou assim tão desesperado por comida e cafeína. Ao voltar para a sala, Mikey está sentado no sofá, então puxo a cadeira da escrivaninha para mais perto e me sento nela.

— Alguma notícia sobre o James e o Felix? — Pergunta Ray, se sentando ao lado de Mikey no sofá-cama (já fechado) com sua guitarra e um paninho na mão para limpá-la.

Mikey balança a cabeça negando e diz:

— Mas Frank ligou e...

— Quem é Frank? — Interrompo, tentando acompanhar a conversa enquanto beberico um longo gole do meu café.

The Kids From YesterdayOnde histórias criam vida. Descubra agora