Capítulo 4

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Frank

Até então minha semana estava sendo incrível.

Quer dizer, é uma merda que o restaurante do meu pai tenha sido incendiado e tudo mais. Mas todo o resto estava se encaixando tão magicamente que eu custava acreditar que aquela era realmente a minha vida.

A começar pelo fato de que eu finalmente havia saído da casa dos meus pais e ido para o meu próprio apartamento. Todos o achavam uma porcaria — ele era constituído apenas por uma cozinha e um quarto com um banheiro anexado. Mas para mim aquele lugar era o mais perto que eu chegaria do paraíso. O prédio ficava próximo ao meu trabalho e meu único vizinho era um drogado que não se importaria se eu passasse a noite toda tocando minha guitarra e testando diversos acordes diferentes. Minha mãe fez um grande caso sobre o assunto por um tempo. (Só que isso não era novidade, ela sempre fazia.) Mas então ela cedeu um pouco quando eu disse que iria vê-la ao menos três vezes por semana.

Minha nova (ou eu deveria dizer novas?) tatuagem estava cicatrizando sem nenhum problema e eu podia tocá-las sem sentir nenhum tipo de dor. Olhar para as letras bonitas que soletram H-A-LL-O-W-E-E-N pouco acima dos nós dos meus dedos é sempre algo que coloca um sorriso bobo no meu rosto.

Mas a melhor notícia veio quando Shaun apareceu na porta do meu apartamento dizendo que Neil estava com intoxicação alimentar e eles precisavam urgentemente de um guitarrista substituto para o fim de semana. Eu estava quase brilhando e me tornando uma supernova enquanto o ouvia falar encostado contra a madeira da minha mesa de segunda mão na cozinha.

As coisas vinham sendo assim desde o fim do Ensino Médio. Eu simplesmente não conseguia permanecer na mesma banda por mais de dois meses mesmo que amasse a música com toda a minha alma. Talvez fosse uma questão de química entre os membros da maioria delas. Ou talvez fosse o universo me dizendo que eu era um merda naquilo e que deveria ir ajudar meu pai a tocar o restaurante.

Mas eu realmente gostava da Pencey Prep. E Shaun e eu nos conhecíamos desde crianças. Não tinha como aquilo dar errado. Eles poderiam perceber que precisavam de mim ali. Sempre há espaço para mais uma guitarra em uma música.

Eu estava com uma boa intuição a respeito daquilo.

Quando liguei para Mikey mais cedo eu já nem estava mais pensando duas vezes antes de fazer as coisas. Se a sorte estava ao meu lado, talvez eu devesse realmente arriscar. Mas talvez isso significasse jogar na loteria e não tentar algo com uma pessoa que só vi umas sete vezes de longe.

Só que havia algo no irmão de Michael que chamava a minha atenção. Podia ser o seu jeito misterioso ou seus olhos verdes tempestuosos ou a forma como ele se doava completamente no palco — meu pai diria que até demais. Mas, independente do que fosse, Gerard Way estava assombrando meus sonhos desde a primeira vez que o vi subir no palco do Tony's Burger. E eu já não aguentava mais ficar apenas fantasiando sobre como soaria meu nome saindo dos seus lábios ou até mesmo sobre qual seria o gosto destes lábios em questão. E tentar bater uma — ou várias — para tentar fazer com que esses pensamentos desaparecessem já não estava funcionando tão bem.

Eu tinha de fazer algo. Tinha de tocá-lo ou até mesmo apenas conversar com ele. E foi por isso que em um ímpeto de coragem estúpida me vi convidando Mikey para ir ao ensaio da Pencey em um bar do outro lado da cidade e levar o resto da sua banda.

No momento em que desliguei o telefone, me senti um imbecil. Mas então me obriguei a vestir uma capa de coragem. O que poderia dar tão errado? Se Gerard me achasse um carinha inconveniente e apenas se afastasse, eu ainda assim não estaria perdendo nada. Nós nem nos conhecíamos de verdade. A vergonha da rejeição seria só minha e eu poderia seguir para o próximo cara o mais rápido possível.

The Kids From YesterdayOnde histórias criam vida. Descubra agora