Capítulo 6

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Frank

Já estou me arrependendo da decisão no momento em que sinto o vibrar da máquina na minha nuca.

Nunca tive problemas em mudar meu cabelo. Nunca tive problemas em mudar nada no meu corpo ou na minha vida. Mudanças são sempre recebidas de braços abertos por mim. Essa é a razão pela qual tenho diversas tatuagens, dois piercings e um alargador em cada orelha.

Cada pequena mudança em mim mesmo conta uma história e fizeram sentido para mim no momento em que foram feitas. Há algumas decepções, claro — como os dreads que usei por cinco meses sem que me dissessem quão horrível aquilo estava. Mas nunca me arrependi de nada.

Porém, nem ao menos consigo encarar o espelho enquanto o barbeiro passa a máquina pela minha cabeça. Nunca tive um cabelo tão curto. Mas aquele tom laranja já estava feio e mesclado com a raiz escura e eu não via a hora de me livrar dele. Eu deveria ter pintado em vez de surtar e raspar tudo. Eu deveria ter pensado nisso antes.

Fecho os olhos e tento não me focar muito em todos os fios caindo no chão da barbearia. Mas fechar os olhos significa pensar nele. E quase tudo o que eu faço desde sexta-feira é pensar em Gerard.

Passei quase todo o fim de semana enfiado em meu apartamento revivendo a noite antes disso. Como o seu sorriso era bonito apesar dos olhos tristes. A forma que seu nariz pontudinho era levemente empinada. O momento em que eu achei que ele estivesse flertando comigo de volta. O jeito que suas bochechas ficaram vermelhas enquanto ele me observava sem camisa dentro daquele banheiro.

Eu não me sentia assim desde o Ensino Médio quando me apaixonei pelo capitão do time de futebol graças ao gosto musical incrível dele. Na época eu havia acabado de descobrir que gostava de garotos e aquele foi um ano bastante interessante que poderia se resumir em uma quantidade de sonhos acordado e eu aprendendo a lavar minhas meias. Encontrei Garrett em um bar no ano passado e acabei descobrindo que ele também não era assim tão hétero. Minhas fantasias sexuais foram saciadas, mas só. Nós não vivemos um romance nem nada do tipo.

O que me faz pensar a respeito de Gerard. Se algo acontecer entre nós, será se estarei satisfeito e pronto para encanar com outra pessoa? Ou será que isso — esses pensamentos incessantes sobre ele — é algo diferente?

Nunca me apaixonei. Não sei qual a sensação de amar alguém romanticamente e quais as consequências disso.

Adam diz que é porque sou movido pela minha libido e penso mais com o meu pênis do que com o meu cérebro. Eu, normalmente, mando ele ir se ferrar.

A prova disso — ele havia dito mais cedo — é que você já provou várias vezes desse corpinho e nunca se apaixonou por mim.

Isso só acontece, Lazzara — eu respondi, ajeitando algumas latas de comida nas prateleiras —, por você ser tão promíscuo quanto eu.

Adam e eu trabalhamos em um pet shop. Ele já trabalhava lá quando fui contratado e acabamos nos tornando amigos por conta da falta do que fazer e de com quem conversar. Eu não sei o que ele considera como "provar do corpo", mas pra mim alguns amassos e chupar o pau do seu colega quando os dois estão caindo de bêbados definitivamente não é isso.

Ele se debruçou sobre o balcão do caixa para poder me ver melhor e uma mecha do seu cabelo caiu em frente ao rosto. Adam tem o cabelo comprido na altura do queixo, como Gerard, mas o dele é loiro escuro. E tudo nele é bizarramente infantil. Desde os grandes olhos castanhos até a textura da pele e os traços do rosto. Ele é bonito, mas nada demais. É como se o homem fosse ter eternamente quinze anos, mesmo com a barba por fazer.

Você acha mesmo que com esse Gerard vai ser diferente? — Ele perguntou, afastando a mecha e fazendo eu me arrepender de ter falado sobre aquilo.

The Kids From YesterdayOnde histórias criam vida. Descubra agora