Capítulo 7

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Gerard

Ele não vai vir.

Não sei no que estava pensando quando o convidei. Nem mesmo tenho uma casa. Ainda estou morando no apartamento do Ray. Mas no momento em que vi Frank deixando a loja senti meu coração acelerar e as mãos gelarem e tive de reagir. Algo me dizia que aquilo era a coisa certa a se fazer.

Mas agora estou parado, as costas apoiadas na vitrine da loja e um cigarro pendendo dos meus lábios, enquanto repenso minha decisão.

Ele não vai vir.

Por que viria?

Eu notei que Frank estava flertando comigo na outra noite, não sou idiota. E ele também flertou mais cedo, quando estava me provocando a respeito da música. Ao menos eu acho que era o que ele estava fazendo. Ainda não aprendi a lê-lo completamente. O garoto é bem confuso sendo atrevido em um momento e então tímido e preocupado em outros.

Mas eu não o convidei por conta dos flertes — ou ao menos estou tentando me convencer de que não foi inteiramente por causa disso. Eu gosto de Frank. Não daquele jeito, mas sim da forma que ele age como se nada importasse no palco e te olha como se tudo importasse.

Durante toda a noite de sexta-feira eu assisti seus olhos dançarem atentos entre as pessoas na mesa enquanto ele se esforçava para participar de todas as conversas — mesmo daquelas sobre as quais ele não sabia absolutamente nada. Frank era esperto e tinha a língua afiada. E a forma como ele não se preocupou em fazer rodeios para dizer na minha cara quão ferrado eu aparentava, foi algo que eu meio que precisava. Todos — inclusive Mikey e Ray — agem como se eu fosse frágil e prestes a quebrar a qualquer momento. Mas Frank sabia a respeito da minha avó — tenho certeza que ele sabia —, mas ele não se preocupou se a forma como iria dizer machucaria meus sentimentos ou não. E foram as palavras dele que fizeram ter vontade de sair da cama no outro dia e irritar Raymond sobre o fato de que eu precisava arrumar um rumo para a minha vida e não as palavras calculadas e gentis do meu melhor amigo ou do meu irmão.

Eu estava em dívida com Frank, mesmo que ele não soubesse disso.

Dou uma tragada em meu cigarro e tento pensar em outra coisa que não seja aquele cara baixinho.

Eu desenhei durante a madrugada de sexta para sábado quando não consegui cair no sono facilmente. Então me foco nisso — na sensação de voltar a encostar um lápis contra o papel e conseguir fazer derramar minhas ideias sobre ele. Não foi nada demais, apenas uma lanterna de abóbora com um sorriso largo e olhos cheios de malícia. Eu já havia feito coisas muito melhores. Mas é um começo. É um primeiro passo para voltar a ser o Gerard que um dia fui.

Estou tentado a apagar o cigarro e ir embora quando finalmente o vejo cruzando a esquina. Frank trocou de roupa, mudando do que antes eu julguei ser um uniforme para um moletom listrado de vermelho e preto, jeans escuros e um cinto cor de rosa que se destacava entre toda sua pose punk. Eu havia gostado do cabelo curto, mas ele não parecia combinar em nada com a personalidade dele.

— Você está atrasado — digo, com um falso tédio, quando ele se já aproximou o suficiente pra me ouvir.

— E você ainda está esperando por mim — rebate ele, abrindo um sorrisinho cafajeste. — Cuidado, Way — Frank toma o cigarro entre meus dedos e traga lentamente antes de continuar —, ou eu vou achar que você está interessado em mim.

Deixo uma risada nasalada escapar e começo a andar, esperando que ele me siga. O sol está começando a se pôr, tingindo o sol em tons de laranja e roxo. É bonito de se assistir e a pele de Frank ganha um tom dourado sobre essa luz. O apartamento de Ray não é tão longe, então opto por ir andando em vez de chamar um táxi e perder todo o espetáculo acontecendo no céu e ao meu lado.

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