Capítulo 9

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Gerard

Ele estava bem alí. Meu corpo estava sobre o dele e minhas mãos o percorrendo por inteiro. A forma como Frank tremulava e ofegava sobre o meu toque ainda estava reverberando em minha mente.

Ele ainda está sentado ao meu lado. Mas não tão próximo quanto antes. Não com sua perna sobre mim e seu rosto enterrado na curva do meu pescoço. Alongo minha mão, tentando resistir ao desejo de tocá-lo. Resistir ao desejo de ter mais uma vez a sensação de correr os dedos pelo corpo dele. Havia sido algo completamente diferente de tudo o que eu já havia feito. Tocar Lindsey era como tocar uma boneca de porcelana envolta em veludo. Tudo em Frank era mais bruto e afiado. Mordo meu lábio inferior, tentando resgatar alguma lembrança de como havia sido beijar o queixo dele e sentir o roçar da barba recém feita contra a minha boca.

Mesmo que tudo ainda estivesse fresco em minha memória fazendo minha pele pinicar e meu corpo ansiar pelo calor do dele, Frank estava certo. Eu não sabia o que estava fazendo. Era como se meu corpo estivesse se movendo de forma automática enquanto minha consciência havia sido espancada, amarrada e trancada no porta-malas. Por mais que parte de mim quisesse, eu não estava no controle. Aquela não era a primeira vez em que me sentia ligado no piloto automático. Mas a dormência que tomava conta do meu corpo todas as vezes era algo que eu nunca conseguiria explicar ou esquecer. Eu queria gritar, mas havia um cadeado na minha garganta e na parte traseira do meu cérebro que me impedia de me comunicar.

Frank se mexe ao meu lado. Assisto ele pegar do chão a folha amassada com a letra que eu havia composto e tratar aquilo como se fosse seu bem mais precioso. Um calor que não consigo explicar aquece meu peito.

— O que é isso? — Mikey pergunta, desencostando-se da cadeira e se prostrando para frente.

Frank abre a boca para responder, mas desiste. Então ele me olha, como se estivesse pedindo minha permissão. Dou de ombros. Não tenho porquê esconder isso de Mikey. Nunca mantive segredos dele nem mesmo quando éramos crianças e o mundo acabaria em chamas antes que eu fosse capaz de mentir para ele.

Por muito tempo, meu irmão foi meu único amigo. Até eu conhecer Ray e ele resolver que queria ficar ao meu lado. Nós tínhamos doze anos, eu havia mudado de escola e Raymond era o garoto grande demais para a idade de quem todos tinham medo, apesar de ele ser incapaz de ferir uma mosca. No começo ele apenas me seguia para todos os lugares e se sentava comigo durante o intervalo. Nós não conversávamos e nem mesmo mantínhamos contato visual, mas dividíamos o lanche vez ou outra. Até que em um dia, enquanto saíamos da escola, ele me convidou para ir a sua casa jogar RPG e escutar música.

Por que? — Eu havia perguntado.

Porque somos amigos e é isso que amigos fazem — ele respondeu. Ray estava comendo um cupcake, no momento eu não disse nada, mas as costas da mão dele estava completamente suja de glacê.

Somos? — Indaguei, enfiando as mãos no bolso do meu casaco.

Eu espero que sim — ele respondeu, me olhando como se eu fosse um enigma a se resolver —, eu só tenho dois amigos. Se você não for meu amigo, estarei reduzido a apenas um.

Agora Ray volta da cozinha e se senta no sofá entre mim e Frank, roubando uma batatinha do tubo de Pringles na mesinha de centro.

— É uma música — Frank responder, sem desviar os olhos de mim. — Gerard escreveu e eu estava ajudando com a melodia.

— Sério? — Ray me olha, me obrigando a desviar os olhos de Frank.

Dou de ombros mais uma vez.

The Kids From YesterdayOnde histórias criam vida. Descubra agora