Capítulo 11

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Frank

Estou mais desinquieto do que de costume. Não consigo parar de balançar as pernas — que mal tocam o chão do petshop graças a altura do banco no balcão — e o lápis que uso para anotar a contagem do estoque está todo marcado de mordidas. Posso sentir que Adam já está perdendo a paciência comigo. Mas... Eu apenas não consigo evitar.

Eu não estava mentindo quando disse que conhecia pessoas que me deviam alguns favores e que poderiam nos ajudar a gravar algumas músicas em um estúdio. Mas, ainda assim, comecei a pular feito um maníaco pelo meu apartamento quando um dos meus contatos retornou minha ligação dizendo que iria ver o que podia fazer por mim e que só precisaria assistir a um dos nossos ensaios.

Era tão surreal. E quando fui ao apartamento do Ray para contar a notícia, Gerard se levantou do sofá e me abraçou. Simples assim, me cercando completamente com seu aroma de frutas cítricas e cigarros. Ele estava tão sorridente e vivo. Por um segundo apenas deixei meus braços envolverem sua cintura, me permitindo a desfrutar da sensação de algo próximo a de ser dele.

Dele. Eu não sabia nem mesmo dizer em qual sentido, mas ainda assim passei toda a semana estático e pensando sobre o peso do corpo dele contra o meu. Já fazem três semanas desde todo o ocorrido no sofá-cama e no corredor, na ocasião eu havia dito para Gerard não dizer nada e não estragar as coisas. Mas agora...

Eu nunca fui de ninguém. Nunca pertenci a alguém por mais do que uma noite. Mas também nunca pertenci a algo por mais do que algumas semanas. Só que essas ainda são coisas que sempre quis.

Por isso essa banda é tão importante pra mim.

Por isso não posso ferrar tudo.

E para não ferrar tudo não sei se posso oferecer a Gerard mais do que uma foda e alguns amassos escondidos.

Não é de mim que ele precisa.

Respiro fundo, tentando parar de pensar. Aqueles lábios sobre a minha pele... Não posso pensar. Tristes olhos verdes... O aroma cítrico... Pense em outra coisa, qualquer coisa. As mãos percorrendo meu corpo...

Tomo um susto ao quebrar o lápis que já não estava em seu melhor estado.

— Chega — exclama Adam, tomando os pedaços de madeira das minhas mãos e os colocando sobre o balcão. — Você está deixando os bichos agitados desde que chegou. Dá pra aquietar essa bunda e me falar o que está acontecendo?

Afundo a cabeça nas mãos. Nós somos amigos, sempre fomos. Mas Adam e eu não falamos sobre sentimentos. Nunca. Falamos sobre festas e casos sem significado e músicas e data de validade de rações. Não sei se sei como falar com ele sobre esse tipo de coisa — ou como falar sobre isso com qualquer pessoa.

Então maquio a verdade.

— Ah, cara, só estou pilhado por causa do ensaio mais tarde — digo, esfregando os olhos. — Quanto mais a hora passa, mais perto fico dessa grande coisa que pode mudar a minha vida. Não posso ferrar isso dessa vez. Tem mais gente contando comigo.

Adam rola os olhos, apoia as cotovelos no balcão e pega meu rosto entre as duas mãos, ficando mais perto de mim do que o necessário.

— Olha pra mim — diz ele, apertando mais as minhas bochechas. — Você não vai ferrar com nada, tá bem?

— Eu não sei...

— Frank Anthony Thomas Iero Junior — Adam me corta, me repreendendo como se eu tivesse quatro anos de idade. — Você é o filho da puta mais talentoso que eu conheço. Não tem nada que você faça em que não dedique todo o seu ser. Seja lavando cachorros, tocando uma guitarra ou com um pau na sua boca...

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⏰ Última atualização: Nov 19, 2019 ⏰

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