Capítulo: 5 √

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Lauren Jauregui

Fiquei estática no meio da sala enquanto Demi saia de casa. Peguei um copo do bar e joguei no chão com força. Que inferno! Que inferno tinha virado nossa vida! Subi para o quarto e bati a porta com força. Que se danasse ela também. Não precisava passar por isso. Se pelo menos eu estivesse errada, mas não estava. Tentei de todas as formas preservá-la e ainda assim tinha levado a culpa por algo que eu não tinha feito. Mas o que mais me irritava nisso tudo era que ela não tinha acreditado em mim quando disse que Amanda estava dando encima de mim. Demi não havia me dado o mínimo credito, nem mesmo o beneficio da duvida. Os amigos tinham prevalecido em primeiro plano. Andei de um lado para o outro, transtornada. Não sabia o que fazer. Não fazia a mínima ideia de onde Demi tinha ido, mas mesmo se tivesse não iria atrás. Eu não estava errada.

Ouvi meu celular tocar no andar inferior e sai correndo pelas escadas pensando no que Anahi poderia querer me falar por telefone, depois da cena patética que tinha feito. Atendi sem olhar o visor tentando controlar meia dúzia de palavrões que vieram a minha boca no lugar do alô.

- O que você quer? – perguntei com os olhos fechados.

- Falar um oi pra você, mas vejo que liguei em uma má hora – falou Camila, uma amiga da galeria.

- Oi Mila – falei respirando fundo, tentando fazer meu corpo relaxar – desculpa.

- Você está bem? Te ligo em outro momento...

- Tá tranquilo. Meio zuado, mas tranquilo – falei me jogando em um sofá – e você?

- Eu estou bem. Te vi pouco na galeria a semana passada.

- Estava trabalhando muito. Mas você também nem foi lá me dar um beijo. Ficou correndo atrás daquele babaca da São João.

- Meu coração é pra sempre seu, meu amor – falou Camila fazendo sua melhor voz melosa – a Demi está por ai.

- Não.

- Então fala que me ama também...

- Eu te amo sua doidinha – respondi levantando do sofá passando as mãos no cabelo –
O que você está fazendo agora?

- Contando as horas para fechar a galeria. Você tem uma proposta pra mim?

- Vamos dar uma volta? Passo ai em meia hora.

- O que você vai fazer de bom pra mim?

- Não vou ficar com você, mas a gente pode se divertir um pouco. Estou precisando espairecer.

- Demorou gata. Vem.

Subi correndo para o quarto pegar uma jaqueta e sai em seguida. Naquela hora da tarde o transito estava insuportável na Radial, mas fiz a moto deslizar rapidamente nos corredores que se formava entre os automóveis. Quando cheguei na São João, o relógio já marcava Sete e quinze da noite. Deixei a moto em um estacionamento perto e segui a pé até a Galeria. Camila já estava me esperando do lado de fora, conversando com uma garotada ao lado de uma banca de jornal.

- Oi – cumprimentei passando a mão em sua costa, dando um beijo em seu rosto.

- Foi rápida. Achei que demoraria mais por causa do transito.

- Estou de moto. Vamos lá pra Bela vista?

- Vamos. Tchau pessoal. To indo nessa.

Segui ao lado de Camila até o estacionamento e entreguei o capacete extra a ela. Assim que ela montou atrás de mim, senti seu corpo grudar no meu. Se fosse em outro momento, teria recuado para frente, mas deixei meu corpo relaxar de encontro ao seu. Camila tinha uma beleza incomum. Era uma loira de um metro e oitenta e poucos com um corpo escultural. Diziam que ela já tinha feito alguns filmes pornôs. Eu nunca tinha tido coragem de perguntar se era verdade ou não. A vida era dela e não me dizia respeito. Havia conhecido no estúdio, onde fiz uma borboleta na sua virilha. Daquele dia em diante ela passou a frequentar o lugar, indo me dar beijos e bom dia a todo o momento. Raquel sempre havia me dito que eu era um pote de mel num enxame de mulheres. Não pensava desse modo até ter quase quinze garotas da galeria querendo ficar comigo. Ela me dizia que o meu cabelo vermelho era que chamava a atenção e que eu tinha a pomba-gira no corpo. Se tivesse ou não, também não era um assunto que eu pensava muito. Sabia apenas que não tinha dificuldade de arrumar mulher. Na minha época de solteira brincava com isso. Se a mulher não fosse gay a converteria, se ela já fosse, ficaria apaixonada. Até que um dia fiquei de quatro por uma bela morena de dezoito aninhos com estilo rebelde sem causa, cantando em um bar na Vila Olímpia. Na ocasião desfrutava dos meus vinte e quatro anos e de um estilo agressivo. Nunca havia me esquecido um detalhe do dia em que havia conhecido Demi. O dia em que havia conhecido a mulher da minha vida.

Mas agora, depois de cinco anos parecia que tudo estava virando fumaça. Lembrava de nossas juras de amor que nunca havia passado de juras. Éramos duas adolescentes transitando para a vida adulta achando que tudo seria para sempre. E o pra sempre estava cada vez mais chegando ao fim. Parecia que só eu via isso.

Fiquei até onze e meia da noite tomando cerveja com Camila em um barzinho perto da Augusta. Como era plena segunda feira o proprietário praticamente nos enxotou para fechar o estabelecimento. A levei para casa na vila Cachoeirinha e voltei para a zona leste. Não estava com a mesma vontade de correr que sempre me pegava na noite. Ia devagar pensando na noite agradável que tinha tido. Camila era divertida, sabia me fazer rir como ninguém. Talvez o fato de manter a velocidade baixa era a vontade de não chegar em casa e ter que brigar com Demi mais uma vez. Parei em um posto para abastecer e tomei uma Ice sentada na calçada. Junto comprei um maço de cigarros. Havia parado de fumar quando conheci Demi. Tínhamos um acordo na verdade. Eu não fazia o que ela não gostava no meu caso fumar, e ela não faria nada do que eu não gostasse, no caso dela, algo bem mais pesado que um inofensivo cigarro.

Cheguei em casa já ia dar uma hora da manhã. O carro já estava na garagem de casa e havia somente a luz do corredor de dentro acesa. Entrei sem fazer muito barulho e subi para o quarto. Demi estava sentada na cama com o violão na mão olhando para o nada. Tirei meu casaco e o coturno e fui para um banho. Meia hora depois sai pegando um travesseiro e um cobertor no quarto. Desci para a sala e cai em um sono profundo no sofá. Não havíamos dito uma única palavra.

- O que aconteceu morena? – perguntou Raquel assim que me viu entrar no estúdio.

- Bom dia Raquel, tudo bem? – cumprimentei dando um beijo em seu rosto.

- Comigo tudo bem, mas sua noite não deve ter sido das melhores. Que roupa é essa? Pegou no exercito da salvação?

- Vai se Foder. To puta com a Demi. Não queria ficar em casa enrolando para escolher roupas.

- Ok, mas devo dizer que esse estilo grunge já saiu de moda há uns quinze anos...

- Eu não estou com estilo grunge.

- Não é o que parece com esse jeans rasgado e puído com regata e camisa de flanela.

- Acabou com sua consultoria de moda? Tenho um desenho para fazer.

- Trouxe o que você quer que eu faça?

- Tá na minha mochila. Já passei para o papel.

- Deixa eu dar uma olhada – pediu estendendo a mão. Tirei a mochila das costas e procurei pelo papel cuidadosamente guardado dentro de uma pasta.

- Já tá na medida da sua perna?

- Já.

- Vai me contar o que aconteceu?

- Agora não. Almoça comigo?

- Claro. Só se for no sujinho aqui da São Joao.

- Pode ser. Vou trabalhar. Meu cliente chegou.

- Tá com cabeça pra isso? Não vai machucar ninguém,

- To sim. Acho que isso é a minha maior distração.

Passei a manhã inteira tentando não pensar, mas a cada vez que ficava sozinha minha mente voltava para Demi. Uma coisa dentro do peito apertava, me dizendo que não passaria mais um ano novo ao seu lado. Agora com esse contrato e uma carreira promissora pela frente, Demi se afastaria de uma vez por todas. Sua musica já nos separava, mas agora, com fama, dinheiro e uma legião de garotas correndo atrás dela, não haveria espaço para mim. Demi havia se envolvido comigo muito jovem, não tivera tempo de curtição e nem de galinhagem. Ela teria isso agora, da forma mais fácil.

Sai do estúdio perto da uma da tarde. Raquel reconhecera meu estado de espirito e tentava de todas as formas me fazer rir e não pensar. Comi pouco me concentrando mais em uma garrafa de Coca-Cola. 

LAUMI √ •𝗦𝗲𝗰𝗼𝗻𝗱 𝗖𝗵𝗻𝗮𝗰𝗲 𝗙𝗼𝗿 𝗟𝗼𝘃𝗲Onde histórias criam vida. Descubra agora