Pequena Confusão - Sakura Haruno

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Girei meu corpo mais uma vez, o vento batia em meu rosto enquanto a música agitada me obrigava a se remexer, a essa altura eu já podia sentir que iria cair, mas não estava suficientemente tonta para isso.

— Saky! — Ino gritou ao meu ouvido, pude jurar que todos meus neurônios balançaram. — Já chega, você já bebeu demais!

— Bebi? Mas esse é meu primeiro copo. — eu ri e ela me olhou com cara feia, se bem que era totalmente impossível para ela fazer uma cara que realmente fosse feia. — Não seja igual todo mundo, Ino…

— Não quero te controlar, só estou tentando impedir que você entre em colapso de novo. — ela choramingou com um olhar preocupado. Eu juro que quase me convenci, mas tentei lembrar do meu lema.

Beba tudo que puder, sem ninguém ouvir.

Caminhei para o balcão, os saltos pesados pareciam duas âncoras nos meus pés, mas todos me diziam que eu me saía bem sobre eles, não sei se por querer algo ou por realmente ser verdade. O rapaz atrás do amontoado de madeira usava a típica roupa de trabalho, os cabelos longos estavam amarrados num rabinho baixo e seu olhar lembrava muito alguém que eu já conhecia.

— O que vai querer, senhorita? — sua voz neutra me fez relembrar o que eu planejava pedir.

Apontei com o olhar para a garrafa de Tequila atrás dele e logo me sentei esperando pelo pedido. Ino sentou ao meu lado e cumprimentou o menino com certa intimidade.

— Eu devo lembrar de algo? — questionei baixinho.

— Neji, primo da Hinata. — ela afirmou e logo uma imagem da família Hyuuga veio a minha mente.

Eu tinha uma pequena inveja da namoradinha do Naruto, tão perfeitinha, adorava agradar os pais com o jeito simples e infantil de ser e agir. Mas quando comecei a pensar igual gente, sabia que aquilo tudo não passava de uma boa encenação, ninguém consegue ser perfeito, ela com toda certeza devia ter um defeito muito podre.

Neji era seu primo, os pais já mortos e uma personalidade cheia de sacrifícios, com toda certeza estava trabalhando para ser independente. Talvez fosse essa alternativa que eu devesse tomar, mas eu já era independente.

O copo deslizou sobre o balcão e o líquido deslizou pela garganta, abrindo passagem para a coragem e me transformando no meu verdadeiro eu. Me ergui cheia de poder e voltei para o meio da pista, Ino parecia ter desistido de me seguir, e era melhor assim, eu não precisava de cão de guarda em momento nenhum.

Minha cabeça girava enquanto meu corpo se balançava, tive a impressão de esbarrar em alguém e tudo voltou a girar.

I'm caught up in your expectations
[Estou presa em suas expectativas]

You're trying to make me live your dream
[Você está tentando me fazer viver seu sonho]

But I'm causing you so much frustration
[Mas estou te causando tanta frustração]

And you only want the best for me
[E você quer o melhor pra mim]

Talvez eu não fosse totalmente independente, talvez eu apenas tentasse me convencer de que era alguém melhor que meus pais, mas eu estava errada. Meu peito começou a palpitar enquanto inúmeras lembranças voltavam em minha mente. Eu estava bem. Eu não estava bem.

Como as ondas, ora vem e ora vão, mas nunca deixam de se movimentar. Eu nunca deixava de reagir.

You wanted me to show more interests
[Você queria que eu mostrasse mais interesse]

To always keep a big bright smile
[Que mantivesse sempre um grande sorriso brilhante]

Be that pinky little perfect princess
[Que eu seja a princesinha rosa perfeita]

But I'm not that type of child
[Mas eu não sou esse tipo de criança]

Quando me dei conta estava do lado de fora da boate, os carros iam e vinham pela avenida a minha frente e eu só podia ouvir o tilindar dos meus saltos contra o asfalto duro. Minha visão escurecia a cada segundo e eu tinha certeza que minha pressão estava baixa o suficiente para não me deixar chegar até meu carro, e para falar a verdade, eu não fazia ideia de onde a chave dele estava.

— Sakura! — ouvi uma voz me chamar, mas não quis saber de onde vinha. — Sakura! — e tudo rodou.

— Segura ela. — pude ouvir outra voz dizer, parecia cheia de preocupação e isso me deixava feliz, desejei sorrir por saber que alguém se preocupava comigo, mas meu corpo não correspondia aos meus comandos. — Vamos levá-la para casa!

Mentalmente eu sorria, mas por fora estava incapacitada de tentar dizer alguma coisa. Depois disso o silêncio reinou, meu corpo ficou pesado e eu finalmente sosseguei.

Mirrors - KakaSakuOnde histórias criam vida. Descubra agora