Mirrors - KakaSaku

Do paraíso ao inferno

Você é especial, uma original
Porque não parece assim tão simples
E eu não posso deixar olhar, porque
Vejo a verdade em algum lugar nos seus olhos

As essências brilham de formas diferentes.

Essa frase se repetiu pela cabeça de Sakura durante toda a fala do juiz de paz, ela sequer conseguiu prestar atenção no que os noivos discursaram, como se por alguns instantes a única coisa que fosse realmente necessária fosse a ideia de poder viver feliz e longe de toda a hipocrisia das pessoas que a rodeavam.

Kakashi não era nada do que tinha imaginado, e não foi necessário muito tempo para a Haruno perceber isso, era como os livros diziam: as atitudes é tudo que devemos levar em conta; palavras são apenas palavras enquanto não concretizadas. Algo dizia ao coração de Sakura que ela precisava mudar, não se tratava de se comportar como uma dama, tratava-se de se libertar das correntes do acomodismo e dar a sua vida um verdadeiro sentido.

— Perdida demais para prestar atenção? — Kakashi lhe ofereceu uma taça com um líquido laranja, ela não sabia exatamente do que se tratava, mas sabia que beber a deixava imersa na possibilidade de errar. — Não é álcool. — a confirmação do Hatake a fez sorrir sem jeito.

— Desculpa, — sua mão aceitou a taça com delicadeza e ela pôde finalmente respirar em paz. — não estava perdida, eu só nunca havia presenciado algo assim…

Com "algo assim" ela se referia a festa, depois da cerimônia de casamento eles foram para debaixo das tendas que estavam erguidas no imenso gramado, as pessoas dançavam qualquer música que tocava e conversavam alegremente sobre qualquer assunto, e por incrível que pareça isso era novidade para Sakura. Acostumada a noites de bebedeira e pessoas que só conversam por segundas intenções a ricaça achava impossível que pudesse frequentar um local desses sem sentir perdida.

— Imaginei, — os olhos do professor pararam nos dela e ela não soube dizer se era timidez ou medo, mas desviou o mais rápido que pôde. — era disso que eu estava falando, quero te ensinar algo melhor do que boas maneiras, a vida não é feita apenas das regras e da hierarquia. Pode até ser que você seja quase uma princesa para seu pai, mas perante o mundo, você só precisa viver de verdade.

— Quando você fala as palavras parecem leves, Kakashi. — e ela tinha razão, por alguns instantes Sakura achava que tudo podia se resolver da noite pro dia, mas isso não era verdade. — Mas não é bem assim, por mais que eu tenha tentado viver, meu pai sempre esteve presente para limitar meus passos.

— Então acho que está na hora de cortar dele as formas de te limitar. — ela respirou fundo, olhou bem nos olhos do professor e sentiu que seu coração não podia estar mais apertado, era como se esconder dele seu passado a fizesse sofrer. — Por trás dessa garotinha medrosa existe uma mulher muito forte, Sakura, deixe-a dar as ordens. 

[…]

Ela tomou a liberdade de dirigir no domingo a tarde, apesar de preocupado, Kakashi gostou da ideia, o percurso até a mansão Haruno não era muito longo e ele poderia finalmente descansar em paz, embora em sua cabeça as coisas estivessem se aproximando de um colapso.

— Sabe do que se trata o jantar de amanhã? — aquela pergunta martelou a cabeça do Hatake.

— Sei, mas é uma surpresa para você, infelizmente não posso dizer. — a resposta fria bateu contra o rosto da Haruno e ela sentiu que havia, novamente, voltado a estaca zero.

Kakashi era indecifrável, ora agradável ora absoluto, as vezes carinhoso e preocupado, mas também frio e indiferente. Será que o problema era com ela ou ele mudava de humor a cada frase que dizia sem perceber?

— Eu odeio surpresas, sensei. — ela jogou de lado a frieza do Hatake e rebateu cordialmente, estava quase convicta que ganharia aquela pequena batalha. — Desculpa voltar nesse assunto, mas você perdoou seu amigo?

— E porquê não perdoaria? — os olhos dele estava novamente sobre ela, e ele sentia que estava começando a se desviar de sua verdadeira missão. — Ele esteve comigo nos meus piores momentos, tenho que estar com ele da mesma forma.

— Mas ele destruiu tudo que sua família construiu, talvez não seja ele que esteja num momento difícil. — Sakura notou uma risada saltar do professor, ela sabia que havia dito merda.

— Sakura, perder dinheiro não significa nada pra mim, nunca significou. — o prateado se mexeu no banco do passageiro. — Obito entrou num colapso mental pela perda de parte da família num incêndio, isso sim é estar num mau momento. 

A Haruno se aquietou. Havia sido ingênua e egoísta, como podia pensar que o dinheiro significaria algo para Kakashi quando o melhor amigo dele vivia momentos realmente perturbadores? Realmente a prioridade para ambos era muito diferente, e ela já tinha certeza que a errada dessa conversa era ela.

[…]

O dia amanheceu ensolarado em Konoha, e o universo conspirava a favor do senhor Hizashi, o clima estava perfeito para um voo calmo e seguro até Iwogakure, e ele fez o favor de ligar pela manhã para saber como a filha estava, Kakashi sabia dar suas voltas e já admitia que não concordava com a abordagem do patrão, mas ainda assim sua mente refletia se valia a pena se meter na vida de pessoas que ele não podia tocar.

— Sakura… — voz do prateado saiu cordial, ela dormia agarrada a uma pelúcia, os cabelos estavam agitados e tudo que a cobria era uma camisola de tecido fino. — hora de acordar, princesa.

— Pensei que pudesse dormir e ficar inconsciente o suficiente para pular o dia de hoje. — a rosada devolveu enfiando a cabeça pelos lençóis. — Ainda posso fugir?

Kakashi riu e tomou a liberdade de sentar a beirada da cama. — Depende, quer que seu pai venha te buscar pessoalmente?

Sakura sentou. — Eu odiaria isso, você acabou de estragar minha piada. — a mais nova se livrou dos lençóis e saiu pisando duro em direção ao banheiro.

O professor suspirou, se Hizashi achava que Sakura iria aceitar as condições que ele tinha para impor, ele estava muito enganado. O prateado não sabia se era pior saber que ela precisou crescer longe da mãe somente por causa da condição financeira da mesma ou saber que em algumas horas ela se encontraria com o mesmo destino que o pai teve há alguns anos.

— Kakashi, eu acho que você devia me contar o que vai acontecer, para que eu já vá me preparando. — os devaneios do professor foram arrancados pelo vácuo da voz da menina. — Desembucha!

— Desculpa, não posso dizer nada. — ele deu meia volta tentando se esquivar da pergunta. — Assim que estiver pronta me avise, vou chamar um táxi.

— Não seja covarde… — o prateado pausou com a mão sobre a maçaneta, suas orbes castanhas caíram sobre o corpo da menina, apenas uma toalha felpuda a envolvia, os cabelos pingavam lentamente e era possível sentir o cheiro de flor que ela tinha. — Estou cansada desses jogos de esconder, eu vivi minha vida escondida, não seja como meu pai.

A mão do prateado chegou a doer com a força que ele empregou contra a maçaneta.

— Não sou como seu pai, Sakura, mas isso não me diz respeito. — a frieza retornou nas palavras do Hatake.

— É isso mesmo que seu coração quer dizer? Ou só está tentando se convencer que não se importa com o que meu pai vai fazer? — o jogo dela foi baixo demais, como conseguiria mentir se ela jogava em sua cara seus sentimentos como se fosse dona do seu coração? — Esquece!

O professor se aproximou, naquele instante ele deixou tudo de lado e a enlaçou pela cintura trazendo-a para si.

— A realidade é que eu gostaria muito de te fazer minha! — o coração da rosada acelerou o suficiente para ela perceber que aquelas palavras mexiam com seu coração. — Mas nem sempre eu posso o que quero, você é meu trabalho, e eu não costumo misturar o pessoal com o profissional.

Da mesma forma que ele a tinha agarrado ele a rejeitou, a fez sentar sobre a cama e se afastou na direção da porta e a enfiando no batente com toda a força que conseguiu. Sakura não sabia se aquilo havia sido uma declaração ou se o interesse dele era somente físico, mas sabia que seu coração não tinha batido daquela forma atoa. Tinha algo acontecendo e ela precisava descobrir, antes que fosse tarde demais.