Cartas

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eu não sei o que é o amor.
apesar de que, pra alguém que fala tanto sobre ele, eu devesse saber.

essa noite, pensei sobre a primeira vez em que tive certeza de que estava apaixonada por você
e por bem (ou não), vejo que não é exatamente o que sinto agora.

agora, meus sentimentos estão mais maduros e desenvolvidos; como um vinho envelhecido.

torço em silêncio pra que não seja amor,
porque se o for, significa que estou fadada a amar-te para todo o sempre
e amando assim, cumprir a pena de nunca te ter.

agora enxergo você.
mas por muito tempo enxerguei apenas sombras de projeções de um alguém ideal

um alguém que ninguém jamais será, uma vez que quis uma extensão de mim mesma.

por muito tempo, tentei te encontrar usando lentes quadradas
sem parar pra perceber que você era, na verdade, redondo.

depois que apercebi-lhe, imperfeito e irregular, te gosto mais

percebi que dentro de coisas redondas, há infinitos ciclos, sem saber o início ou o final.

te vi eterno.

obrigada, redondo, por amar alguém triangular

alguém que, pontuda e muitas vezes desigual, não encaixa e machuca suas formas

obrigada por ter se estendido para que coubéssemos juntos dentro de um dos seus infinitos internos

você também está no meu. és minha hipote(m)usa.

~

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