Ébrio

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Olhem-na. É tudo que peço.
Olhem-na e admirem-na com cuidado.
Com cuidado, pois é uma oportunidade única
Se maravilhar pela primeira vez

Reparem a estética barroca e o corpo renascentista
Observem os detalhes, filmem os movimentos
Fotografe os olhares
Com cuidado, sempre

Tente não tocar
Por mais que soe loucura
Não a suje com toques imundos

Toca-lá, em sua pureza
Plena perfeição
Seria pecado sem perdão

Admire sem pressa
Observe com respeito
À sua altivez e elegância

Sinta o cheiro dos campos primaveris
Sinta sua presença como a de Deus em pessoa
Em energia cósmica, quase subversiva

Imagine seu toque, mas não o seu beijo
Imagine a boca, rosada em cereja
Pense na língua, inteligente e feroz

As curvas, como as montanhas mais perfeitas
Gastas pelo vento
Desenhadas por dezenas de milhares de anos

Pense na pele
Suave ao toque, macia e perfumada
Em cor nácar de veludo

Desça até os seios
Quentes e aconchegantes
Lar de cadáveres que morreram sorrindo
Somente por terem se aproximado

Caminhe até o dorso... cuidado, não caia
O caminho é estreito e a paisagem tentadora
Mas não se jogue no precipício dos sonhos
Inalcançáveis

Não se deixe cair no infinito
Escuro, indefinido e maravilhoso
É inebriante na medida que avança
É sedutora na medida que afasta

É poesia e caos
É a prova da fraqueza
Dentro de nós
Dentro de si.

Onde Lágrimas Se Tornam RiosOnde histórias criam vida. Descubra agora