conto 4

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Ela tinha o velho hábito de discordar com  tudo que eu queria, normal, todos tem. No entanto trazia uma ternura um tanto ingênua, que me cativava e fascinava cada vez mais. Eu, um rapaz comum, sem belos olhos azuis, nem físico escultural, nem carro do papai. Um carinha desleixado, que não entende de moda e com a barba por fazer. Ela, olhos inocentes e perturbadores, com o sorriso mais lindo que já vi. Ela falava sobre tudo, os padrões da sociedade, citava Shakespeare e gostava de rock. Mas pouco importava sobre o que ela sabia ou o que dizia para mim. Eu a queria, mesmo que momentaneamente. Divagar, especular, conversar, conhecer, se aproximar, mas parecia tudo nela era sinônimo de perigo. Dizia que era a única que gostava de estar só rodeada de pessoas… o que eu queria era estar só, com ela. Até que resolvi aceitar seu convite repetido, que ela inúmeras vezes havia feito e eu inúmeras vezes negado.. apenas assistir-mos um filme em sua casa, em seu novo home tachear  Eu sempre recusava por estar “indisponível”. O endereço não foi difícil de encontrar, parei no quadradão perto de onde ela mora. Liguei enquanto andava em direção da casa dela. Esperei um breve momento, ela abriu, eu entrei. Silêncio sempre é constrangedor, ela calada, nunca a vi calada, parecia nervosa. Risinhos sem graça. Uma música qualquer. O velho golpe de derrubar alguma coisa. Os olhos que se encontram. Bocas se tocam. O suficiente para tudo se desenrolar. Ela parecia ter planejado tudo. Dizia que sempre foi louca pelos meus lábios, que sempre quis prová-los, eu achava que seu beijo teria um gosto diferente, combinado com aquele sorriso perfeito. Me disse que queria saber se os braços crescidos pela falta da prática de esportes saberiam dar o calor adequado a qualquer aquela situação. Eu a desejava, da mesma forma que ela sempre me desejou. Faltava-nos motivo, chance ou oportunidade.. mas agora não faltava mais nada. Desabotoei cuidadosamente minha camisa listrada enquanto a olhava nos olhos, sentada em seu sofá vermelho buscando uma resposta qualquer de alguma pergunta que sempre quis fazer. Seu olhar agora era mais que convidativo, seu sorriso me pedia. Me inclinei em sua direção.. O roçar dos lábios foi um mero aquecimento com gosto de aflição, com um gosto urgente. Eu tentava controlar minha respiração enquanto ouvia a dela, pesada e quente. Seu cabelo solto ainda um pouco molhado prendia na minha barba mal feita que roçava em seu pescoço fazendo-a arrepiar por inteira. Ela me arranhava o braço, apertava-o, deixando bem claro o que queria. Senti minha boca seca, pensei em ir com um pouco mais de calma, mas um momento desses não é só de apreciação, ela queria ser provada. Eu disse que sentia sede, que queria beber algo mesmo que um pouco de água antes. Ela concordou dizendo que também sentia sede. Levantou, a segui. Bebemos água, nos encarando. Não resisti. A Joguei contra a mesa e enrolei os seus cabelos com uma das mãos enquanto a outra apertava sua cintura. Sobre uma toalha xadrez, com o pão velho e uma garrafa de café, começamos ali. Fizemos amor, sem o sentido emotivo da palavra. De forma única e especial, embora tenha sido somente por prazer. Ela nem ao menos esperava, quando a encaixei entre a parede e meu corpo, e permanecemos ali alguns minutos entre suor, suspiros e gemidos. Quase não nos beijávamos, estávamos curiosos demais com a reação física um do outro. Ela assim tão frágil e sutil, eu desajeitado e meio rude. Puxa, morde, roça, geme, arranha, vira, desvira, entra e sai, várias e várias vezes. Por fim, quando nossos corpos não aguentam mais o que nossa vontade nos levou a fazer, explodimos de satisfação e cansaço. E sem dizer nada, abraçados mas sem nos tocarmos mais que o suficiente, já deitados em seu quarto, eu repousei sobre seu colo suado e ao som de nossas respirações ofegantes, dormimos. Acordamos e nos despedimos, como se nada tivesse acontecido.

Infelizmente esqueci meus filmes na casa dela… vou ter que buscá-los em breve…

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