12: O pior dos crimes

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Me remexi algumas vezes no sofá antes de espreguiçar e esfregar os olhos com as costas das mãos. Apesar de ter dormido um tanto considerável, acabei por não sonhar. Eu simplesmente havia apagado. E, ao lembrar que eu havia apagado nos braços de Changkyun, me sentei no estofado escuro em um pulo, com os orbes arregalados.

— Acordou? — Changkyun perguntou baixinho, de forma retórica. Ele digitava incansavelmente em seu notebook, ora olhando para um bloco de papéis, ora olhando para a tela de seu aparelho — tem comida na mesinha, é melhor se alimentar um pouco — eu apenas o observava. Seus óculos de aros dourados caíam pela ponta de seu nariz, o dando um ar ainda mais sério.

— Obrigado — murmurei.

Estiquei o braço para pegar o copo de café que se encontrava ao lado de um pequeno pacote amarronzado.

— Quando acabar de comer, vamos visitar o suspeito do seu caso — ele disse. Eu apenas assenti ao bebericar o café — você já leu sobre ele? — quando neguei, Changkyun suspirou profundamente. Eu havia dado uma olhadela enquanto pesquisava algumas palavras, mas não era lá a melhor das leituras. Parte de mim estava com medo de descobrir o que nem mesmo meu pai pôde defender, mas a outra estava ansiosa para saber como aquilo havia derrotado o dono do mundo.

Changkyun continuou a digitar e, assim que eu terminei de comer, ele recebeu um telefonema. Optou por atender quem quer que fosse no lado de fora da sala, voltando cinco minutos depois, claramente irritado, massageando as têmporas ao sentar-se.

— O que houve? — questionei, meio hesitante.

— Queriam cancelar nossa visita ao local do crime, alegando que o suspeito é culpado e não há o que se possa fazer — ele franziu o cenho — o que não faz o menor sentido fazerem isso — suspirou.

— Deve ser meu pai querendo me atrapalhar mais uma vez — falei à contragosto ao me levantar. Changkyun acompanhou meus movimentos com seus orbes escuros.

— Para onde vamos primeiro? — o Lim me questionou. Dei de ombros.

— Você é o advogado, eu só estou me aproveitando dos seus conhecimentos — Changkyun, pela primeira vez que estava comigo, riu baixinho, o que me fez dar um pequeno sorriso.

Changkyun se levantou e pegou o sobretudo, que estava pendurado no cabide atrás de sua cadeira, para então cortar o escritório em direção ao elevador, afim de que fôssemos para onde seus conhecimentos mandassem.

[...]

O local do crime era situado nos subúrbios de Seoul, em um bairro não muito afastado, e a casa era próxima à uma escola de ensino médio. A casa, de dois andares, era pequena, porém, era mais que o suficiente para que somente uma pessoa vivesse ali. O advogado, após um minuto inteiro encarando a residência, deu um passo em direção à casa, e eu, receoso, o acompanhei. Changkyun me entregou um par de luvas para que, caso eu tocasse em algum objeto, minhas impressões digitais não ficassem neles; em seguida, abriu a porta e acenou, com a cabeça, para que eu entrasse.

O cheiro de sangue era evidente e bem marcado logo no corredor de entrada. Um calafrio percorreu minha espinha assim que dei o primeiro passo.

— O crime aconteceu há dois meses, se não me engano — Changkyun se pronunciou — então não há corpo, somente os desenhos e esse maldito cheiro.

Bem como o advogado disse, havia desenhos na sala de estar: um corpo, cuja silhueta me parecia feminina, estirado no chão, com os braços ao lado da cabeça e as pernas espaçadas.

— O que aconteceu aqui? — murmurei.

— Um assassinato — olhei para Changkyun e semicerrei os olhos — o que? Você que perguntou.

— Foi uma pergunta retórica — revirei os olhos.

— De forma resumida, o suspeito matou a própria namorada, que havia chegado de viagem no mesmo dia. Nos autos, o suspeito não diz nada, só há a narração dos fatos do vizinho, que foi quem encontrou o corpo e o suspeito.

— Que coisa horrível — sussurrei ao apertar a barra do tecido de minha blusa. Como Changkyun consegue agir normalmente após ver fatos tão horrendos como esses?

— Isso é o ser humano, Kihyun. Você devia abrir os olhos e entender que há mal em todo lugar.

— Até mesmo em você?

Changkyun abriu a boca para responder, mas fomos interrompidos por um ruído que veio do lado de fora da casa. Pareceu o tilintar de muitas chaves juntas. Nós nos entreolhamos e o Lim não hesitou em me puxar pelo braço e esconder na dispensa da cozinha, o cômodo que ficava há somente três passos de distância. Ele fechou a porta o mais rápido que pôde, e se xingou quando quase derrubou uma pequena lata de alumínio ao andar para trás. Tampei sua boca, com minha destra, para que ele não xingasse mais alto e respirei fundo.

Pela quantidade de passos, haviam duas pessoas na casa, que conversavam. Porém, graças ao meu medo, tudo o que eu conseguia ouvir eram ruídos e as chaves se chocando na mão de um dos indivíduos. Changkyun tirou minha mão de sua boca e, com cuidado, abriu uma fresta para que pudesse tentar ver alguma coisa.

— Como eu disse, pode ficar despreocupado — a voz era relativamente grave, não tanto quanto a de Changkyun; tinha algo nela que fazia minhas mãos congelarem — Hyunwoo vai apodrecer na cadeia. Ninguém vai pegar o caso para defender.

— Um empecilho a menos na minha vida — e riu.

Se antes minhas mãos estavam congeladas por ouvir a voz do cúmplice, ao ouvir aquela voz áspera, que mais parecia uma teia de aranha que estava preparada para imobilizar e desnortear sua presa, todo o meu corpo congelou. Eu estava assustado o suficiente para não conseguir falar nada.

Ao abaixar a cabeça e encarar o chão, acinzentado e encardido, a mão de Changkyun se encontrou com a minha, e ele a apertou. Ergui o rosto, surpreso, e o advogado ainda se concentrava em ouvir e tentar ver quem quer que fosse que estava na casa.

Não há mal em você, Changkyun.

A LEI DO AMOR「 Changki 」Onde histórias criam vida. Descubra agora