21: Me deixe cuidar de você

1.7K 262 145
                                    

Em menos de 48 horas, Changkyun havia adquirido a habilidade de me deixar sem fala por mais de um minuto inteiro. Desde o dia em que eu desmaiei, percebi que o toque de Changkyun não é tão rude quanto suas palavras nos primeiros dias que nos conhecemos.

— Está tarde — procurei desconversar — pode me deixar em casa?

Changkyun, como se saísse de um transe, piscou duas vezes antes de sorrir de forma amena e assentir, indicando para que eu o seguisse com um aceno. O fato de ele ir na frente me dava espaço para encará-lo; suas costas pareciam mais largas e seus ombros tão vastos quanto uma cordilheira. Seu fios já estavam longos o suficiente para que fizesse um coque ou, caso ele preferisse, cortá-los. A mera ação de andar deixa bem claro que Changkyun é um homem confiante.

Algo que me deixou pensativo durante todo o caminho de volta — além do silêncio mórbido —, foi a lembrança da lei do amor de Changkyun. Pessoas como ele são as que mais precisam de amor para se reconstruir. E, por mais que eu tivesse o achado frio e amargo, no fundo, Changkyun é um homem romântico — e ele vem provando isso sendo doce comigo. O que além de me surpreender me deixa também congelado em meio à tantas palavras quentes.

— Minha proposta para você continua a mesma — Changkyun disse ao desligar a ignição. O olhei — a parede. Pode escrever lá quando quiser.

Umedeci os lábios ao fazer um singelo movimento positivo com a cabeça.

Ao que abri a porta do carro, por algum motivo, esperei que Changkyun inventasse uma desculpa para me fazer ficar dentro. Minha cama e o quarto gélido pareciam ameaçadores demais para mim, ainda mais naquele estado. Mesmo tendo ansiado por um chamamento de Changkyun, ele nada disse ou fez. Apenas esperou que eu entrasse no prédio para que ele pudesse voltar para sua casa.

E eu, deprimentemente, me joguei no colchão, tendo Zen ao meu lado, e fechei os olhos. Mordi o lábio inferior ao lembrar daquela noite e respirei fundo. Dê tempo ao tempo, Kihyun. Tudo correu rápido demais, como um tufão. Eu me encontrava no meio de toda as casas quebradas e arrancadas do solo; todo o vento bagunçou meus fios, meu corpo, desenhando cicatrizes em minha pele. Cicatrizes essas que me relembravam que Changkyun tinha razão. Eu não estava vivendo por mim mesmo. Eu estava sendo influenciado, não era mais a mesma coisa que antigamente.

Esperneei freneticamente, de maneira a assustar Zen, e o abracei como forma de pedir desculpas.

Demorei para criar coragem e levantar da cama, para que fizesse minhas higienes e, finalmente, me deitasse novamente. Dessa vez, porém, demorei a pegar no sono, encontrando, em meus sonhos, Changkyun.

[...]

Jooheon havia passado em meu apartamento e me arrastado para a padaria, para que eu tivesse um café da manhã decente antes de ir para a firma. O Lee havia insistido em me levar, contudo, recusei. À pé parecia mais tentador; precisava resolver todo esse conflito.

O conflito interior, por outro lado, não foi resolvido, apenas tornou-se maior à medida que eu andava e me aproximava da firma. As palavras de Changkyun começavam a ter um teor mais... romântico a cada vez que eu as lembrava. Até mesmo trombei com um rapaz devido à minha desatenção, e pedi desculpas em seguida.

Ao chegar na firma, respirei fundo e optei por subir as escadas ao invés de pegar o elevador. O andar estava vazio, mas isso não o impedia de estar recheado de murmúrios dos clientes dos oficiais. Bati à porta, como de costume, indicando que havia chegado e, no lugar de ouvir Changkyun dizer bem-vindo de volta, eu o vi dentro de sua sala com quem supus ser um cliente. O advogado, ao notar minha presença, tirou os óculos de aros dourados que estavam pousados na ponta de seu nariz e, com um aceno, me chamou para dentro.

Hesitante, eu atendi seu pedido.

— Este é Kihyun, meu assistente — Changkyun apontou para mim. Sorri para o cliente e me sentei no sofá, afastado de Changkyun — e este é um cliente que veio reportar um caso de agressão.

— Olá — ele sorriu ao estender a mão, a qual apertei.

— Olá.

Olhei para Changkyun, como se indagasse o que diabos aconteceu com a boca e olho desse homem?

Porque encarei demais, o cliente tornou a olhar para baixo, desviando seus orbes dos meus. Desajeitado, ajeitei-me no estofado e contraí os dedos.

— Jeonghan — apontou para o terceiro na sala — é a vítima da história. Basicamente, seu noivo, Park Seojun o bateu e... — meus lábios tremelicaram.

— Park... Seojun? — sussurrei de forma compassada.

— Você o conhece? — o advogado questionou.

Era meu ex-namorado, Changkyun. E ele tem sérios problemas temperamentais, por isso, terminamos.

— Ele é uma figura pública. Como não o conhecer? — menti.

— Kihyun, você e ele não... — Jeonghan iniciou a fala, porém, o interrompi com uma olhadela do tipo não mencione nada sobre minha relação com ele.

— Por que ele te agrediu? — indaguei.

— Não pude sair com ele devido ao trabalho. Fiquei na loja até tarde para cobrir o turno de um amigo meu. Ainda não moramos juntos, mas ele tem a chave do meu apartamento. Então, pela noite, ele entrou e começou a brigar comigo.

— Até chegar ao ponto de ele socar você — murmurei. Apertei minhas unhas nas palmas das minhas mãos tão forte que sangue começou a circular minhas unhas.

— E você quer processá-lo? — Changkyun perguntou. Jeonghan assentiu, olhando para o chão — vou pesquisar sobre ele, para termos algo a nos apegarmos. E até mesmo se ele tem outros processos. Entrarei em contato com você o mais rápido possível.

— Tome cuidado — sussurrei.

Jeonghan, antes de levantar-se para nos agradecer, sorriu largamente e deixou a sala de Changkyun. O acompanhei sair silenciosamente, até que me levantei e caminhei para minha mesa. Vez ou outra eu olhava para Changkyun, o qual estava, na maioria das vezes, escrevendo furiosamente em seu computador e em inúmeras folhas ao seu lado. O Lim também fazia pequenas pausas, girava a cadeira e, quando ficava zonzo, massageava suas têmporas.

Como Changkyun não saiu para o almoço, pedi comida para ele e para mim. Deixei-a em cima de sua mesa quando ele decidiu dar uma volta pela firma, a fim de esfriar sua mente.

E, quando ele voltou da caminhada, tinha uma expressão furiosa. Changkyun, ao entrar, fechou a porta com toda a força que tinha, assustando-me.

— Kihyun, eu juro que tentei entender — franzi o cenho — tentei entender o motivo de você não ter me dito nada sobre Seojun. Mas eu não entendo — ele suspirou profundamente.

Me levantei da cadeira.

— E o que tem pra dizer sobre ele?

— Por que não me disse que ele é seu ex-namorado e você teve um escândalo com ele logo no início da sua carreira?

Diante do silêncio, encolhi os ombros.

— Deste caso você não vai participar, Kihyun — meus orbes se arregalaram.

— O que? Eu quero ajudar Jeonghan, ele não merece passar por isso! — exclamei.

— Você vai ter que atuar como testemunha nesse caso e acredito que não queira colocar sua carreira em risco outra vez — Changkyun pareceu rosnar dada a raiva que sentia.

— Por que está tão bravo? — contorci os lábios.

— Porque eu não sei o que aconteceria se eu visse você perto de Seojun — contornei a mesa e toquei o rosto do Lim, cujo assustou-se com o repentino contato.

— Não vai acontecer nada, então fique calmo.

Changkyun, com a destra, pousou sua mão sobre a minha e a acariciou.

— Eu não sou uma criança, Changkyun. Então não se preocupe porque eu sei me cuidar, hm?

— Mesmo assim. Eu vou cuidar de você.

A LEI DO AMOR「 Changki 」Onde histórias criam vida. Descubra agora