5: O destino gosta de pregar peças

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Quando cheguei no apartamento, Jooheon já estava pronto para ir para o trabalho. Devo admitir que o jaleco branco caía bem nele, o deixava mais sério e o fazia parecer um médico de verdade. A cor branca contrastava com suas vestes, geralmente escuras, e seu cabelo, igualmente escuro.

Desamarrei Zen da coleira e ele correu até a sala, se deitando, cansado, no tapete em frente ao sofá.

— Aqui — falei ao pôr o que havia comprado para Jooheon em cima da mesa — seus favoritos.

O Lee abriu um largo sorriso, deixando à mostra suas covinhas doces.

— Você é o melhor amigo do mundo! — bajulou Jooheon. Diante disso, dei uma risadinha, já que ele me elogiava somente quando eu fazia algo por ele ou quando queria algo.

— Certo, certo — murmurei — vou tomar banho e passar o dia todo vendo série — o avisei quando dei a volta pelo balcão da cozinha. Jooheon, porém, limpou a garganta e deixou o bolo de lado para me olhar com pesar nos orbes escuros — o que foi?

— O secretário do seu pai deixou isso pouco depois de você sair — com a destra, Jooheon empurrou a pasta de cor creme até mim. Ao vê-la ao lado dele, pensei ser algo sobre um de seus pacientes, por isso nem havia questionado o motivo de ela estar na mesa.

— Ele por acaso disse o que queria? — indaguei ao pegar a pasta.

— Disse apenas para te entregar caso você quisesse fazer o novo dorama do diretor Park — arqueei a sobrancelha direita, intrigado com aquela atitude de um dos secretários de meu pai.

Ao folhear a pasta, pude ver o resumo da história do dorama e o elenco escolhido: Hoseok e eu seríamos os atores principais, e o enredo parecia ser realmente envolvente por se tratar de um romance diferente daqueles que eu já havia trabalhado. O diretor Park mencionou, algumas vezes, durante a gravação do filme com Hoseok, que tinha um novo dorama para nós, mas nunca disse mais que isso. Então como meu pai, o homem que sempre foi contra minha carreira artística, tinha ciência disso?

— Kihyun? — Jooheon estalou os dedos na frente do meu rosto. Pisquei múltiplas vezes até voltar para a órbita terrestre — eu vou trabalhar agora, não estou afim de fazer plantão extra hoje — assenti, recebendo um singelo beijo na testa por parte do Lee.

Assim que Jooheon deixou o apartamento com suas coisas, eu sabia o que aquela pasta significava: meu pai estava declarando guerra mais uma vez.

[...]

Após tomar banho, esforcei-me para escolher uma roupa não muito chamativa, já que não queria que meu pai falasse mal até sobre a forma como me visto. Optei por um terno preto e sapatos igualmente pretos, da maneira que ele gostaria que eu me vestisse.
Ele nunca gostou do fato de eu querer ser um ator ou modelo. A todo momento me dizia coisas sujas e que me machucavam, o que me fazia simplesmente querer desistir e, se não fosse por minha mãe, eu teria me tornado um advogado deplorável e infeliz.

Pedi um táxi para ir até a firma em que ele era o presidente e, segundo ele, era seu mundo particular pois todos seguiam o que ele queria e acatavam suas ordens com sorrisos falsos nos lábios. Meu pai ansiava pelo dia que eu diria que queria ser um advogado como ele, porém, essa ideia sequer passou pela minha cabeça. Desde então, ele tem tentado me tirar, à força, do caminho até meu sonho.

Ao que o veículo estacionou na porta do enorme, largo e luxuoso prédio da firma, respirei profundamente e paguei o motorista. Demorou um minuto inteiro para que meu corpo destravasse e eu desse o primeiro passo até a porta giratória de vidro. Empurrei-a sem muito ânimo e fui imediatamente reconhecido por seus empregados, já recebendo reverências e sorrisos que eu duvidava serem verdadeiros. A secretária que estava atrás do balcão havia dado menção para me guiar, porém, com um gesto com a mão, indiquei que não era necessário sua companhia.

Peguei o elevador situado no corredor direito e apertei o último andar, local em que o dono do mundo trabalhava em seus casos. Calafrios percorriam por minha espinha e eu suava frio, estava apreensivo e ansioso; curioso com o que ele planejava. Bati à porta duas vezes e pedi licença ao entrar, tornando a fechar a porta no momento em que atravessei o portal de madeira.

Era a primeira vez em dois anos que nos encontrávamos. Nosso último encontro foi, infelizmente, no enterro de minha mãe.

— Sente-se — sua voz continuava autoritária e severa, ainda que mais grave devido aos cigarros que fumava. Fiz como pediu: sentei-me no sofá, no centro da enorme sala, e deixei a pasta na mesinha à minha frente. O silêncio pairou e eu não sabia se devia iniciar a conversa ou deixar que ele o fizesse. Conhecendo meu pai como eu conhecia, a segunda opção era melhor, apesar de ser a mais complicada. Meu pai suspirou e limpou a garganta antes de começar a falar — aposto que já viu o que tem na pasta. Meio óbvio que caso não tivesse visto não estaria aqui — ele, que antes estava sentado em sua poltrona, levantou-se.

— Por que me enviou isso? — questionei.

— Porque eu vou te dar uma chance de provar seu valor, saco de estrume.

E lá estava um dos milhares de apelidos que ele me chamava quando não estava satisfeito com uma atitude minha.

— Eu comprei o set de gravação desse dorama — apontou para a pasta — e impedi as gravações, que começariam mês que vem — meus olhos saltaram para fora. Franzi o cenho e entreabri os lábios, buscando palavras para contestar aquele comportamento infantil; contudo, preferi ficar em silêncio, já que sua feição fechou-se por completo — como eu disse, vou te dar uma chance.

— Você não pode fazer isso — sussurrei, encarando a pasta.

— Já fiz, Kihyun — ele umedeceu os lábios e levantou-se. Foi até sua mesa, pegou um enorme bloco de papéis e o colocou na minha frente — eu vou te reconhecer na sua profissão se você conseguir defender esse caso, que nem mesmo eu consegui defender.

— O que?

— A tinta do seu cabelo entrou nos seus ouvidos? Defenda o caso e eu vou reconhecer você como um ator ou seja lá o que você faz. E como sei que você é um burro que nunca pisou em uma academia de direito, vou deixar você com um dos meus melhores advogados.

Engoli em seco.

— É pegar ou largar.

Com a fúria transbordando por meus poros, peguei o bloco do caso e me levantei, com meus orbes fixos em seu rosto.

— Quem é o tal advogado? — indaguei ao morder o lábio inferior.

— Ele está no andar abaixo desse, na sala três — meu pai colocou as mãos nos bolsos da calça social e sorriu de canto — e, se você perder esse caso, você vai trabalhar aqui na firma.

Meu coração gelou. Era muita informação de uma vez, eu com certeza estava cavando minha própria cova.

Eu aceito o caso — cerrei os dentes ao dizer.

A LEI DO AMOR「 Changki 」Onde histórias criam vida. Descubra agora