Capítulo 18: Muito além da fúria.

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Levou um tempo para Gênesi retirar todos os corpos de seu abrigo. Após realizar esse longo trabalho, se retirou para tomar uma ducha, hábito esse que adquiriu ao longo do tempo quando sentia necessidade de relaxar. Mas dessa vez era diferente. Tudo estava diferente.

As pequenas gotas de água quente rasgavam Gênesi corpo a baixo. Elas rastejavam pelas cicatrizes de suas costas e ora pela dos braços também, logo antes de se transformarem em gotículas menores ainda. O vapor circulava pelo banheiro inteiro, acalorando mais o ambiente.

Ao se retirar do chuveiro, foi caminhando até a saída, mas o espelho embaçado lhe chamara a atenção. Na verdade, era ele mesmo que se chamava a atenção. Sua própria figura no espelho lhe acometera de uma surpresa não alarmante. Seus cabelos brancos como a neve já chegavam na altura de seus ombros. Durante os dois meses que estivera ali, não havia notado mudança alguma em si mesmo. E por algum motivo desconhecido até para ele mesmo, aquilo o incomodou. Logo então correu dali, mas voltou em alguns segundos, segurando sua faca com um leve descuido. Ele, encarando o espelho levemente embaçado com sua face inexpressiva, agarra seus próprios cabelos suavemente. Eles, ainda molhados, umedeciam vigorosamente cada centímetro da palma de Gênesi. Num movimento gentil, ele elevara a faca até repousar nos tecido umedecido que o mesmo levantava. Então, passivamente, deslizou a lâmina por seu cabelos. Paciente ele fazia, como se não houvesse uma inquietância dentro de si, até enfim cortar o excesso que lhe perturbava tanto.

Saira do banheiro, com seu cabelo similar ao de antes. Ele, então, varrera destruída com o olhar. O desânimo sentido não era expressado por quem o sentia, apenas andou tranquilamente até ir para o lado de fora através de um dos buracos na parede. Ali, ele deu de frente com uma cruz feita de maneira amadora cravada no chão.

— Então... Já deve fazer uma semana que você partiu... E eu nem trouxe flores, que idiota da minha parte. Pra falar a verdade, eu nem sei quais você gostava. – Mesmo com o coração apertado, as sensações ruins que sentia amenizaram naquele instante. — Eu sei que é estranho falar com você enquanto seu corpo está logo abaixo de meus pés, mas... eu queria pedir desculpas.

Um silêncio coberto pelo vento frio penetrou enquanto Gênesi ainda pensava nas palavras que seriam melhor ditas.

— Eu não consegui cumprir o que te prometi. Eu não consegui proteger essa cidade, nem ser o super-herói que você queria que eu fosse, não sem você aqui.

Pequenas gotas esporádicas de água salgada tocavam o solo macio enquanto as palavras eram sinceramente proferidas.

— Eu peço desculpas pelo que vou fazer agora. Talvez eu fique fora por alguns dias, mas eu pretendo voltar ainda hoje. Eu preciso nos vingar de tudo o que nos fizeram passar.

Após essas palavras secas, Gênesi deu meia volta para voltar para dentro. Mas só aquilo não foi capaz de confortá-lo.

— Por que... – Ele cerrava os punhos gradativamente. — Por que você me escolheu?!!? – Soltou uma indagação gritante. — Por minha culpa... Por minha culpa você está a 7 palmos abaixo da terra! Por que você foi tão ingênua em acreditar em mim?!! Me diz, por quê?!!!!?!!

Toda a frustração, tristeza, medo, rancor e os outros milhares de sentimentos que estavam morbidamente escondidos em seu peito foram rispidamente esbravejadas. Ele não esperava nenhum tipo de resposta, mesmo não fazendo diferença. Porém, ele foi respondido pela cortante ventania gélida que castigava a cidade.

Independente, nada daquilo foi capaz de confortá-lo. Era uma dura verdade, mas que ele aceitara no momento em que Sophie partiu.

Assim que entrou em casa, partiu para a garagem secundária. Ali estava a coleção de motos de Sophie. Ainda haviam bastante, e elas eram bem exuberantes.

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