scene one
—Sentou-se em um banco de madeira branca com a revista de palavras cruzadas em mãos. Cruzou as pernas e então começou a deslizar a caneta sobre o papel, tentando resolver a atividade. Era tudo o que Victoria fazia todos os dias. Saía da faculdade, tirava da mochila uma revista de palavras cruzadas e a resolvia no parque, ouvindo o canto dos pássaros e o barulho do vento entrando em contato com as folhas das árvores. Sempre sentindo o cheiro de cigarro, antes incômodo, porém agora, comum.
Sempre que começava a sentir o cheiro do cigarro, se questionava quem fumava ali. Apenas questionava, pois nunca fora curiosa o bastante a ponto de ir atrás.
E nem precisava. Ao olhar para frente, notou em outro banco, uma pessoa. De primeira vista apenas se notava um par de óculos no rosto e cabelos curtos com leves ondulações, tão artificiais quanto a cor castanha que cobria ao fios. Depois de prestar mais atenção, notou o cigarro na boca e leves tragadas que o ser dava vez ou outra. Seu rosto era um tanto delicado, e bonito. Uma garota. Era aquela garota quem trazia para o parque o cheiro de cigarro que já havia se tornado parte da agradável experiência de resolver palavras cruzadas no parque.
A garota possuía um caderno no colo, aonde rabiscava com um lápis e formava desenhos. Junto de si havia uma folha de caderno que fazia papel de placa. “Desenhos à venda” era o que estava escrito no mesmo.
Se mantinha concentrada em seu desenho, alternando entre o lápis e a borracha para formar a figura. Pegava inspiração através da música que escutava em seu walkman, que tocava uma fita cassete cor de rosa.
E agora que o cheiro de fumo tomou forma humana, Victoria apresentava uma certa curiosidade sobre a desenhista fumante de cabelos curtos. Queria saber o que ela escutava em seu walkman, as coisas que ela gostava de desenhar, o porque de fumar, entre outros. Mas o principal, ela nem pensava em perguntar: seu nome.
Victoria nunca foi uma das mais envergonhadas. Mas naquele momento, a garota misteriosa a deixava desconfortável. Não porque ela desaprovaria qualquer coisa que a outra fizera, mas porque ela tinha uma aura artística muito forte. Victoria não sabia direito como interagir com artistas, principalmente os mais quietos.
Mas nada melhor do que comprar um desenho da garota misteriosa e então aproveitar para puxar assunto, ou pelo menos sentir o cheiro do fumo de perto. Victoria meio que gostava desse cheiro, por mais tóxico que fosse.
Então decidiu sair um pouco da rotina, levantando-se e indo até a garota.Encarou seu caderno por um tempo não muito longo. Não conseguiu distinguir direito o que era que a garota desenhava, mas depois de um leve esforço, notou que ela estava esboçando uma flor. Uma bela flor.
— Gostaria de comprar um desenho, por favor. — a garota de cabelos longos se pronuncia.
A fumante tira um dos fones de ouvido e sobe a cabeça, encontrando então a garota do vestido azul com xadrez.
— Quer que eu desenhe o que? — questionou.
As longas unhas pintadas de branco e vermelho logo tocam no papel aonde a desenhista esboçava a flor.
— Quer uma rosa? — sorriu, e então tragou.
— Quero.
Voltou a olhar para o papel e a deslizar a ponta do lápis pelo mesmo.
— Dez mil won. — disse-lhe o preço sem desviar os olhos do papel.
Enquanto a garota terminava de ilustrar a rosa, Victoria voltou até o banco onde estava. Abriu o bolso da frente, tirando duas notas de cinco mil won.
Tornou a ficar junto à garota, que logo finalizou o desenho. Arrancou a folha do caderno, a entregando para a desconhecida, e logo recebeu os dez mil won cobrados. Entre um sorriso e uma tragada, finalizou a conversa com um sincero “Obrigada”.
Saiu do lugar e voltou para o banco onde estava sentada anteriormente. Com o desenho em mãos. Ele ainda cheirava cigarro, aliás, tinha um cheiro muito forte. A garota não hesitou em tragar perto dele quando estava o fazendo, talvez esse fosse o motivo do cheiro.
Não que fosse algo ruim. Na verdade, para Victoria era até algo bom, pois agora levava um pedaço da garota misteriosa que levava consigo. E era esse desenho que seria o único resquício daquela tarde de 1989 cujo Victoria sempre se lembrará.
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love, drawings & cigarettes | amtoria
Fanfiction[ yuri || victoria + amber || f(x) || 80's/90's au ] de repente o cheiro de cigarro que exalava pelo parque personificou-se, fazendo victoria parar de fazer suas palavras cruzadas e prestar atenção na garota que sempre desenhava e ouvia musicas em s...