✩ 𝕤𝕖𝕦 𝕔𝕠𝕣𝕡𝕠 𝕖́ 𝕓𝕠𝕟𝕚𝕥𝕠 ✩

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scene three

Acabara de sair de uma locadora, arrasada. A desenhista no parque não ajudava Victoria em nada, muito menos agora que ela inventou esse joguinho besta de adivinhar nome. Ela já sabia que era um nome ocidental e com as letras A, B e E, mas não havia pensado em nenhum nome que tivesse essas letras e não tivesse a letra L.

Em Victoria normalmente se manifestava apenas duas emoções: felicidade e indiferença. Foi muito estranho para ela ficar triste por não achar nada pela região que tivesse “Even So” como nome. Ela ainda não sabia o que isso significava, afinal eram só palavras em um desenho. Nada de mais.

Uma música alta invadiu os ouvidos de Victoria, interrompendo seus pensamentos. Um vocal forte e poderoso seguindo de uma guitarra. Não era rock nem nada do tipo, e sim uma melodia bonita e calma, algo como um R&B, porém, alta.

Victoria que antes fitava o chão, levantou a cabeça e encarou o local de onde a musica vinha, e de imediato sentiu-se cega.

“Bar Even So”.

Apressou o passo, animada para saber o que se passava ali. Se a garota escreveu o nome do bar no desenho, é porque esse lugar tem algo de importante.

E quando já estava na porta, viu de longe uma garota sentada em um banco cantando. A garota realmente cantava muito bem. Até uns garçons paravam para apreciar seu canto.
Entrou no bar, não sabendo se procurava a desenhista ou se prestava atenção na moça cantando. Até que se distraiu e pegou-se olhando para o palco improvisado onde a mesma cantava. Então depois de passar um longo tempo fitando a garota, finalmente percebeu quem tocava a guitarra atrás.

— A menina do parque...? — se questionou.

Aproximou-se de um garçom e não hesitou em questionar o nome da garota.

— Aquela garota... Como ela se chama?

— Sunyoung. Mas ela também atende por Luna.
Luna? Era da cantora que ele estava falando? A garota do parque disse que não tinha L no nome.

— Não a cantora... A guitarrista.

— Ah, não é uma mulher. Ele tem um rosto afeminado e uma voz fina, mas isso foi problema de hormônios. É um cara.

Um homem? Não podia ser, afinal mesmo que com essas justificativas, a garota tinha um jeito feminino, mesmo com cabelos curtos e um horrível costume de fumar.

— E como ele se chama?

— Adam.

A música parou, então enquanto a cantora agradecia pela reação boa do público, a garota que estava nos fundos se levanta de seu banquinho, deixando a guitarra e indo até o banheiro. O banheiro masculino.

Victoria pediu licença para o garçom e tentou ao máximo chegar ao banheiro masculino sem chamar atenção. Entrando lá, logo deu de cara com a fumante apoiada sobre a pia, com um cigarro na mão. Como ela acendia aquilo tão rápido?

A pia era um pouco longe da entrada do banheiro, por isso a fumante não havia notado a presença de Victoria. Na sua cabeça, ela estava a sós.

Olhando-se no espelho, arfou e então tirou a blusa, revelando uma faixa que cobria todo o seu tronco. Antes de tirá-la, Victoria resolveu dar um sinal de que estava ali.

— Adam?

A garota bufou, então olhou para a entrada do banheiro.

— Não me chame assim. Eu odeio esse nome.

— O garçom me disse que esse era o seu nome. E que você era um garoto.

— Eu faço uns bicos aqui como guitarrista. Nada de mais, porém eu não podia me apresentar como garota. Eu já me vestia assim antes, então aproveitei e me apresentei como Adam.

— Porque não podia se apresentar como mulher?

— Eu fumo, e namoro garotas.

Victoria ficou perplexa. A parte de fumar, tudo bem, ela já sabia. Mas namorar pessoas do mesmo sexo é um enorme tabu na Ásia, ainda maior que o de mulheres não poderem fumar. Era arriscado continuar morando na Coréia.

— Porque está na Coréia, então?

— Eu não sei. Acho que prefiro me fingir de homem do que sofrer xenofobia.

— Bem, você está certa. Eu acho.

A garota parecia triste enquanto encarava a faixa pelo espelho. Victoria não hesitou em perguntar.

— Porque iria tirar a faixa?

— Minha casa não tem espelho. Fiz questão de me livrar deles para não ficar triste com a vida que eu venho levado desde que comecei a tentar esquecer que sou mulher.
Tragou, e então levou as mãos até a faixa.

— Aqui é o único lugar que tem espelho. Eu queria ver como é o meu corpo.

Arrancou as faixas e se olhou, ainda desanimada, mas sem tirar o sorriso do rosto.

— Você me deixou muito feliz quando perguntou se meu nome era Bella. Normalmente chutam nomes masculinos.

— O que você faz quando chutam nomes masculinos?

— Desisto e falo que me chamo Adam. — falou com repúdio. — Mas como você acertou meu sexo, acho que vou continuar a brincadeira.

Victoria não sabia se sentia raiva ou pena, afinal a história da garota é bem triste, mas o fato dela não falar o seu nome a irritava de maneira profunda.

— Porque não desiste e fala seu nome logo?

— É fácil. Você descobre rápido. Só se esforça.

Enfaixou o tronco novamente, escondendo os seios e em seguida pondo a blusa e pegando o cigarro de cima da pia.

— Seu corpo é bonito.

A garota corou, mas tentando não parecer envergonhada, apenas tentou soar indiferente.

— Minhas ex-namoradas costumavam falar isso. Mas é bom ouvir isso de estranhos. Quer dizer, não é todo dia que uma estranha me vê nua, mas acho que você entendeu.

Victoria deu risada, e então juntamente à fumante, se retirou do banheiro, esta saindo do bar e aquela indo até um quartinho para buscar suas coisas que deixara lá.

Victoria não sabia nem o nome da fumante do parque, mas agora se via tocada com uma história de vida que o cotidiano escondia. Nunca viu-se tão comovida com uma pessoa desconhecida como desta vez. Agora Victoria tinha certeza de que nunca se arrependeria de ter comprado aquele desenho.

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nota: eu só postei isso porque ja estava escrito. acho que vocês já sabem do falecimento da nossa bebe gigante, sulli. eu estou muito sentida e de luto por ela, não consigo fazer nada relacionado ao f(x) sem ficar triste. eu queria que a mídia a tivesse tratado melhor.

love, drawings & cigarettes | amtoriaOnde histórias criam vida. Descubra agora