✩ 𝕥𝕖 𝕒𝕔𝕙𝕖𝕚 𝕓𝕠𝕟𝕚𝕥𝕒 ✩

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scene two

Victoria não conseguia tirar da cabeça a personificação do cheiro de cigarro que a atormentava todas as tardes. E o que ajudava naquela constante memória era aquele desenho de flor que comprou da garota. Havia percebido que as pessoas escolhem se irão perceber a presença alheia ou não, pois sempre achara que estava sozinha naquele parque, quando a fumante estava lá também. Sempre esteve.

Se antes Victoria já se via viciada no cheiro de fumo que exalava pelo parque, agora ela estava ainda mais viciada não só naquilo, como também em ficar perto da garota que fazia o lugar ter aquele cheiro.

Nunca mais trocou uma palavra ou olhar sequer com ela até então, pois tinha medo de ser levada a mal. E se a mulher achasse que Victoria fosse querer forçar uma amizade? Isso era tudo o que ela menos queria, pois agora que a pessoa na qual fedia a cigarro agora possuía aparência e voz, Victoria não queria que ela simplesmente sumisse e levasse a fumaça do trago consigo.

A única coisa que Victoria estava curiosa para saber — bem, pelo menos, no momento — era o nome que a fumante atendia por. Naquela tarde, semanas atrás do dia em questão, Victoria queria saber tudo, exceto as coisas mais simples: nome e idade.

A garota acaba de perceber que, mesmo sendo extrovertida, não conseguia de jeito nenhum falar com a desenhista sem ser para comprar um desenho. Já tentava tomar coragem para fazer uma perguntinha besta para a fumante. Apenas conseguia olhar, e vez ou outra, fingia alguma tosse para que a outra ao menos a notasse.

Porque era tão difícil se levantar e apenas perguntar para uma garota o seu nome? Isso era um questionamento que martelava na cabeça da garota de cabelos mais compridos já faziam horas.

Então finalmente tomou coragem. Levantou-se, e andou até a desenhista que no momento usava calça rosa e camiseta listrada. Do bolso, arrancou dez mil won e se aproximou ainda mais da garota. Sentiu o cheiro de cigarro mais forte do que o comum.

Soltou um simples “oi”, tentando parecer calma.

A garota tirou um dos fones e olhou para a outra. Victoria sentiu-se estranha por ter quase certeza de que a desenhista não se lembrava dela. Se achava completamente esquecível, já que em sua visão não era nem feia nem bonita, e pelo visto a fumante não tinha visto nenhum aspecto de sua personalidade para se lembrar tão bem de sua existência.

Victoria estava errada, pois a fumante sorriu para ela e entre fumaça de cigarro e um sorriso bobo, a desenhista falou um “eu me lembro de você” mais genuíno que a outra já havia presenciado.

Sem saber como reagir, Victoria apenas sorriu de volta, esquecendo-se do que estava fazendo ali.

— Quer um desenho? — a garota perguntou, então despertou a outra do transe.

Victoria respondeu que queria. Então a desconhecida assentiu, voltando a olhar para o caderno, e ao invés de começar a desenhar, folheou-o rapidamente, e sem Victoria ter sequer tempo para pensar no que estava acontecendo, ela já estava com uma folha na mão, que fora entregue junto à um sorriso.

Com as mãos trêmulas, levou a mistura de notas e moedas até a garota, que logo segurou seu pulso com uma mão e as pontas dos dedos com outra. Fechou a mão de Victoria e a levou até o corpo da mesma.

— Não quero pagamento. — falou, e por algum motivo, isso fez a outra sentir uma mistura de emoções em si. Batidas fortes no coração, coisas estranhas na barriga e mãos trêmulas.

— Por que? Você se lembra de mim e ainda não quer que eu te pague? Não tem como, sou muito esquecível. Você sequer sabe o meu nome.

— Te achei bonita. — respondeu.

Todas as sensações diferentes que formigavam no corpo de Victoria foram substituídas por uma tensão. A garota tirou o cigarro da boca e o apagou com o dedo, jogando em uma lixeira bem ao lado do banco.

— Eu? Bonita?

— Eu achei. — tirou um maço de cigarro do bolso, juntamente com um isqueiro. — Qual o seu nome? — perguntou enquanto acendia outro cigarro.

— Victoria.

Colocou o cigarro na boca e então falou:

— Meu nome também é ocidental.

— Como é seu nome?

— Descubra.

A garota fechou o caderno e começou a catar suas coisas.

— Você vai embora assim? Sem nem me dizer seu nome?

— Dê um palpite.

Victoria coçou a mão, então antes que a fumante fosse embora, deu seu primeiro palpite.

— Bella?

A garota estalou os dedos, dando a entender que Victoria havia acertado.

— Eu acertei?

— Não. Passou longe. Mas tirando o L, tem essas mesmas letras.

— Tem B, A e E?.

A fumante apenas sorriu e se virou, dando passos lentos e saindo do parque aos poucos.

Victoria, ainda sem entender o jogo da garota, olhou para as próprias mãos, que já estavam vermelhas por conta da coceira. O desenho estava lá ainda, e ela sequer tinha o visto.

Então se espantou quando deu de cara com uma ilustração dela mesma, sentada no mesmo banco, com o mesmo vestido que usou na tarde onde conheceu a desenhista, porém, havia um walkman nas orelhas e cigarro na boca.

Embaixo do desenho, com uma caligrafia malfeita, estava escrito algo. Algo em inglês.

“Even So”.

Será que era o nome da música que a garota ouvia no walkman? Ou talvez apenas um nome bonito que a garota havia dado para o desenho? Victoria não sabia, mas agora estava disposta a saber. A próxima parada era uma locadora de fitas próxima, então ela poderia finalmente descobrir a música que a garota misteriosa ouvia.

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nota: meu deus qian voce eh muito burra

love, drawings & cigarettes | amtoriaOnde histórias criam vida. Descubra agora