scene seven
—O cheiro de cigarro já exalava pelo cômodo de manhã cedo, fazendo Victoria acordar. A dor nas costas era apenas um detalhe, o principal mesmo era tentar se lembrar do porque havia dormido no chão.
Ainda com a cabeça sobre o chão, voltou o olhar para frente, encontrando Amber vestindo o mais puro nada, assim como ela, com um cigarro na ponta dos dedos e fumaça saindo pela boca.
— Porque estamos no chão?
— Não se lembra de ontem? — peeguntou de volta, sem olhar para a garota.
— Ah, lembrei.
O rádio ainda tocava, porém como já era de manhã, musicas um pouco mais agitadas do que as que tocavam de madrugada, mas ainda assim eram um tanto calmas.
— Amber...
— Oi. — dessa vez olhou para a garota.
— O que você iria falar hoje para mim?
— Ah, é besteira... Nem importa tanto.
— É o que? Pode falar, eu ligo.
Tragou mais uma vez antes de falar.
— Na verdade são três coisas, é que eu só estava com coragem pra falar duas delas. Uma eu já falei ontem.
— Então? Não vai falar?
— Me demiti do bar.
— Que?
— É... Mas tudo bem, eu acho. Passei em uma faculdade pública e vou estudar para ser artista.
— E a outra coisa?
Deu risada, o que fez Victoria ficar um pouco confusa.
— Acho que você já sabe.
Prende o cigarro nos lábios e cata suas roupas, vestindo uma por uma e só tirando o cigarro da boca para vestir a blusa, logo em seguida o pondo de novo. Guarda o maço de cigarros junto com seu isqueiro no bolso da calça.
— Acho que vou embora. Te incomodei de mais por hoje.
— Espera, eu não entendi.
Amber sai de casa, deixando Victoria no chão, ainda sem roupas. Logo cata suas roupas pela sala e as veste rapidamente. Já coberta, abre a porta de casa e olha para fora.
— Amber!
E nada dela aparecer. Ela foi embora, para variar. E agora Victoria tinha uma dúvida martelando em sua mente. O que será que ela quis dizer com "acho que você já sabe"? Qualquer pessoa pensaria que significava que Amber gostava dela, mas era a Amber, ela nunca é objetiva. Então não podia ser isso. Embora todas as coisas ao seu redor apontassem que sim, era isso.
•••
lembrançaEstava sentada em um banco de madeira branca com o caderno de desenhos em mãos. Cruzou as pernas e então começou a deslizar o lápis sobre o papel, alternando entre ele e a borracha. Era tudo o que Amber fazia todos os dias. Saía de casa, ia ao parque e vendia desenhos para aumentar a renda, ouvindo música em seu walkman. Sempre com um cigarro na boca.
Nunca fazia aquilo sozinha. A sua frente, em outro banco, uma garota sempre aparecia com uma revista de palavras cruzadas e a fazia. Sempre queria saber o que ela fazia, quer dizer, ela fazia palavras cruzadas, claro, mas queria saber quais outras coisas ela gostava de fazer.
Logo notou que, naquele dia, a tal garota rezolveu olhar para frente, e então ver quem fumava ali. Amber abaixou a cabeça e fingiu que estava concentrada em seu desenho. Tirou uma ideia de desenhar uma rosa, e pegava inspiração através da música que escutava em seu walkman, que tocava uma fita cassete cor de rosa que havia encontrado no lixo faz uns tempos.
E agora que a garota havia notado a existência de Amber, ela estava com o coração acelerado e respiração falha. Queria saber tudo sobre ela desde sempre, mas no momento, só queria saber uma coisa: seu nome.
Amber nunca foi uma das mais envergonhadas. Mas naquele momento, a garota do parque a deixava desconfortável. Não porque ela desaprovaria qualquer coisa que a outra fizera, mas porque ela tinha uma aura intelectual muito forte. Amber não sabia direito como interagir com pessoas muito inteligentes, principalmente as mais quietas.
E por algum motivo, a garota havia se levantado e estava ao lado de Amber, provavelmente encarando a placa improvisada que havia ao seu lado.
Encarou seu caderno por um tempo não muito longo. Não conseguiu fazer muitas coisas bonitas e tentou fazer umas linhas que saíram tortas por conta do nervosismo.
— Gostaria de comprar um desenho, por favor. — a garota de cabelos longos se pronuncia.
A fumante tira um dos fones de ouvido e sobe a cabeça, desesperada e com medo. Tentou engolir o nervosismo e então, perguntou:
— Quer que eu desenhe o que?
As longas unhas pintadas de branco e vermelho logo tocam no papel aonde a desenhista esboçava a flor.
— Quer uma rosa? — sorriu, e então tragou, tentando esconder o nervosismo.
— Quero.
Voltou a olhar para o papel e a deslizar a ponta do lápis pelo mesmo.
— Dez mil won. — disse-lhe o preço sem desviar os olhos do papel.
Enquanto Amber terminava de ilustrar a rosa, a garota voltou até o banco onde estava. Abriu o bolso da frente, tirando duas notas de cinco mil won.
Tornou a ficar junto à Amber, que logo finalizou o desenho. Arrancou a folha do caderno, a entregando para a desconhecida, e logo recebeu os dez mil won cobrados. Entre um sorriso e uma tragada, finalizou a conversa com um sincero e nervoso “Obrigada”.
Saiu do lugar e voltou para o banco onde estava sentada anteriormente. Com o desenho em mãos. Amber lembra-se que havia tragado nele sem querer, então provavelmente ele estivesse fedendo a cigarro. Torceu para que não fosse um problema, pois queria no futuro vender mais desenhos para a garota.
Amber continuava com as mãos trêmulas por conta da garota. Não que fosse algo ruim, e sim, algo bom. A primeira coisa que cogitou fora o fato dela estar apaixonada. A única coisa ruim é que, depois não teria como tocar guitarra no bar. Mas isso era de menos, pois agora finalmente havia falado com a garota misteriosa do parque. Sempre se lembraria daquela tarde de 1989 com um sorriso no rosto.
VOCÊ ESTÁ LENDO
love, drawings & cigarettes | amtoria
Fanfiction[ yuri || victoria + amber || f(x) || 80's/90's au ] de repente o cheiro de cigarro que exalava pelo parque personificou-se, fazendo victoria parar de fazer suas palavras cruzadas e prestar atenção na garota que sempre desenhava e ouvia musicas em s...