✩ 𝕖𝕤𝕡𝕖𝕝𝕙𝕠 ✩

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scene five
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Voltava do bar, com cigarro na boca e seus objetos de desenho em mãos. Amber ia em direção a sua casa, que não ficava muito longe do Even So. Não conseguia tirar Victoria da mente, por mais que a garota não tivesse feito absolutamente nada além de acertar seu sexo. Não acreditava que era amor, afinal não se apaixona por pessoas tão rápido assim. Talvez fosse apenas um desejo besta.

Se bem que Amber não achava amor a primeira vista uma completa bobagem. Meio que ela sentiu que a garota que sempre fazia palavras cruzadas estava apresentando certo interesse em si. Isso já não era muito impressionante, o que fez a fumante se surpreender mesmo foi o fato dela saber de cara que é uma garota.

Passou direto por uma loja de cosméticos e acessórios, mas logo voltou atrás. "Será eles que vendem espelhos ali?" pensou.

Entrou na loja, perguntando para o primeiro funcionário se lá vendiam espelhos de mão. Foi-lhe apresentado o modelo mais barato, e Amber teve uma vontade de sorrir ao se olhar através dele. Não se achava a mulher mais bonita do mundo, mas naquele dia, estava com uma autoestima altíssima, e ao notar os cabelos tingidos de castanho, se achou a mulher mais linda que vira no dia.

Sim, a mais linda. Não uma das. A mais. Porque Amber não se via como mulher faz tempo. E sim, como um homem afeminado e besta. Mas agora ela olhava e se via como ela era. Como ela nasceu e como ela se identificava: uma mulher.

- Vou levar esse.

E assim foi. Saiu da loja, se olhando no espelho, com um sorriso no rosto. Era a primeira vez em anos que Amber se olhou no espelho e ficou feliz. Pois agora ela poderia ser quem ela era pelo menos para uma pessoa. Agora ela poderia finalmente ser uma mulher.


•••

Victoria já tinha visto Amber fazer de tudo: ouvir música, fumar, tocar guitarra, desenhar... Só não esperava encontrá-la se olhando no espelho e sorrindo. Era de fato o que ela fazia sempre já tinha semanas. E isso deixava Victoria intrigada.

Não se lembra muito bem de quando pegou intimidade com a fumante. Mas agora ela tinha um certo grau de amizade com ela. Saiam vez ou outra e faziam compras, além de raramente se curtirem quando estavam entre quatro paredes.

Estava tudo perfeito para Victoria e Amber. Ou quase, pois ficaria mais perfeito ainda se Victoria soubesse o porque de tanto narcisismo. E foi isso o que ela perguntou para a amiga.

- Aprendi a me ver como mulher. Não posso deixar que os outros saibam, mas eu pelo menos percebi que mesmo que eu me finja de homem na rua para autodefesa, eu posso me olhar e me achar mulher.

- Está certa. - sorriu. - Você é muito bonita.

- Você também! - tirou os olhos do espelho e encarou Victoria. - Você é uma das mulheres mais bonitas que eu já vi.

- Então eu acho que sou um espelho. Como pode olhar para mim e ver algo bonito, se a pessoa mais bonita que tem aqui é você?

Amber corou, mas tentou não demonstrar nenhum constrangimento.

- Obrigada. - sorriu. - Mas você é muito bonita, sim.
Amber encarou o relógio de pulso, tragou e levantou-se.
- Acho que vou embora. Já está tarde. - começou a catar suas coisas.

- Tchau.

- Tchau!

Passos lentos assim como a música que ouvia no walkman. Amber andava em direção à sua casa, como em todos os dias. Não morava no pior lugar do mundo, mas para chegar lá precisava pegar um atalho. Um atalho não tão seguro.
Enquanto andava despretensiosamente, um carro da polícia parou ao seu lado, e então dois policiais desceram do mesmo.

- Se importaria de verificarmos sua identidade?

- Oh, não sei se trouxe. Não costumo andar com ela.

Enfiou a mão no bolso da calça, e, por sorte, lá estava a identidade. A entregou para os policiais, que a checaram direitinho.

- Adam Joseph Liu... Um estrangeiro. - o primeiro policial lê em voz alta.

- Suspeito... - pega no queixo da garota e sobe a cabeça dela para olhar para o rosto melhor.

- Como assim? - Amber não entende o que acontece, mas ainda mantém a calma. Afinal, ela nunca fez nada de errado.
- Seu rosto é delicado de mais para um homem.

- Problema genético. - disse, e então tragou propositalmente no rosto do policial, que tossiu incomodado e logo voltou a falar.

- Se incomodaria de fazer uma revista física?

- Bem, não.

Se vira de costas, então o policial começa a tatear o corpo da mesma a procura de algo. Chega na região da calça, então começa a tatear com cuidado a cintura e logo chega na região íntima, aonde toca descaradamente, obrigando Amber a se mexer para se livrar do mesmo.

- Ei, isso é falta de respeito.

- Você não é um homem, espertinha.

- Isso não é da sua conta. O que vai fazer? Me prender? Me abusar?

- Claro que não. Só porque você é feinha.
O outro policial chega por trás, pegando sua carteira e seu maço de cigarro.

- Ei! Meu dinheiro, meus cigarros!

- Mulher não fuma.

- Eu não ligo. Se eu morrer, o problema é meu. Devolve meu dinheiro!

- Precisamos de trocados, esse dinheiro vai ter um bom uso.

- Mas ele é meu!

- O que você vai fazer? Denunciar? Uma mulher que se finge de homem para fumar vai perder a moral.

Arranca o cigarro da boca da mesma, então entram na viatura novamente, deixando o local, e jogando a identidade pela janela.

Amber corre atrás de sua identidade, a pegando do chão e a guardando no bolso. Fecha as mãos em punho, tentando conter a raiva. É claro, tudo estava bom de mais para Amber ultimamente. Não é surpresa que, mais uma vez, alguém que teoricamente promove o bem faça algo do tipo com ela. Ela já estava acostumada com isso. Infelizmente.

love, drawings & cigarettes | amtoriaOnde histórias criam vida. Descubra agora