O que mais preciso

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— Mas nós não podemos simplesmente demitir cinco médicos para cumprir as metas. Seria o mesmo que tirar máquinas de uma fábrica porque elas são caras — John, gerente de Recursos Humanos do hospital falou, depois de colocar molho na sua salada de uma cor só.

Estávamos numa reunião no primeiro andar do Cunard's, um restaurante flutuante, discutindo a melhor forma de baixar os gastos do hospital para conseguir cumprir a meta estipulada para aquele ano. Duas coisas que estavam me irritando: eu já tinha dado a minha ideia, que até agora parecia ser a melhor. E a outra coisa é que ainda faltavam mais de seis meses para o final do ano e eles insistiam em realizar essa mesma reunião a cada três meses, falando sempre a mesma coisa e chegando sempre à mesma conclusão.

— Acho que Day tem razão — Paul, o gerente administrativo pontuou, erguendo a taça como se fosse propor um brinde, enquanto olhava na minha direção. — Terceirizar os serviços de limpeza e reduzir o volume do estoque de medicamentos. Tivemos um prejuízo de quase cem mil dólares no último mês apenas em remédios que perderam o prazo de validade.

— E treinar melhor as enfermeiras que estão gastando muito material para curativos sem necessidade — lembrei. — Na última ronda que fiz, vi uma jogando um frasco de antisséptico só por não conseguir abrir.

— Richard disse que viu algo parecido — John falou, se referindo ao gerente financeiro que estava conosco, mas se mantinha calado há alguns minutos apenas tomando notas. — O que foi que aquela enfermeira fez?

Mas o que a mulher tinha feito, eu jamais saberia. Por que foi naquele instante que eu vi Carol Biazin entrando no restaurante.

Era como se minha mente e todos os meus sentidos fossem atraídos para ela a qualquer instante, porque nem mesmo estava sentada perto da entrada. Estava no primeiro andar, onde ficavam as mesas maiores, que geralmente eram reservadas para reuniões como a que estava tendo, ou grupos de amigos o andar de baixo, com a mesas menores que comportavam no máximo quatro cadeiras, geralmente eram ocupadas por casais ou famílias pequenas. Mas ainda assim eu vi o exato instante em que ela entrou, usando um vestido quase da cor da sua pele e seus cabelos sempre ondulados agora estavam extremamente lisos.

Meu coração disparou dentro do meu peito apenas por vê-la depois de quase duas semanas, mas ainda mais acelerado ele ficou quando vi que ela não estava sozinha — mas dessa vez não de alegria. Logo atrás dela, parecendo em dúvida se deveria colocar ou não uma mão nas suas costas, estava o tal garoto que tinha dado carona para ela depois da tarde de estudos na minha casa. O mesmo que tinha tecido elogios a respeito da inteligência de Carol.

A vontade que eu tinha era levantar naquele mesmo instante e tirar satisfações com os dois, mas no mínimo ia assustar o tal de Dreicon. E Carol, eu gostando ou não, não me devia nada. Eu era casada, afinal. Que direito eu tinha de lhe exigir qualquer coisa, e ainda mais fidelidade? Sim, eu tinha dito que ela era minha, mas aquele era apenas o meu desejo. Não significava que era verdade.

Ainda assim, foi impossível continuar me concentrando na reunião, me limitando apenas a assentir ou murmurar vagos "sim" ou "não" sempre que achava necessário. Meu olhar desviava a todo instante para os dois sentados perto de uma das janelas em uma mesa para apenas dois lugares, do outro lado do enorme salão. E eu quase gemi de frustração quando vi aquele moleque tentando pegar a mão de Carol sobre a mesa. Não sei se não percebeu sua intenção ou fez de propósito, mas ela puxou a mão no mesmo instante, passando o resto do jantar com elas sobre o colo. Mesmo àquela distância, eu consegui ver quando o idiota tentou pedir vinho depois de avaliar o cardápio apropriado com cuidado, provavelmente apenas tentando impressionar. Mas o garçom foi firme, mesmo depois de ter sido afastado da mesa com Dreicon, que pareceu ter tentado lhe passar alguma  espécie de suborno, ao que o garçom apenas meneava a cabeça com firmeza. No fim, foi com um sorriso que eu o vi voltando à mesa e depois coquetel — sem álcool, com certeza — foi servido desde a entrada até a sobremesa.

7 Minutos no paraísoOnde histórias criam vida. Descubra agora