Acerto de contas

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- Para onde a senhora vai assim tão arrumada?

Ouvi a voz de Enzo um pouco atrás de mim e me voltei no meio das escadas, esperando que ele me alcançasse.

- Bom dia, filho. - Continuei descendo as escadas, mas fui detida de me afastar quando sua mão segurou meu braço.

- A senhora está indo encontrar com ela? - ele perguntou e me soltou assim que me voltei.

- Sim, Enzo. Nós vamos almoçar juntas. Algum problema com isso?

Ontem tinha feito dois meses que estávamos juntas e depois de passar mais de uma semana sem vê-la - porque os cinco minutos no domingo não contava - era óbvio que estava mais que ansiosa para encontrar Carol. Tínhamos conversado na noite anterior e eu lhe contei que tinha falado sobre nós para os meninos, dizendo que eles tinham reagido bem. Passada essa etapa, combinamos que estava na hora de conhecer a sua mãe e assim não precisaríamos mais sair escondidas de ninguém. Mas mesmo não precisando mais mentir sobre o lugar para onde estava indo, ainda me pus na defensiva quando Enzo fizera aquela pergunta como se me acusasse de estar fazendo algo errado.

- Não senhora - ele respondeu num tom mais contido.

- Ótimo. - Comecei a me afastar, mas parei no meio do caminho quando Enzo falou novamente.

- Chame-a para jantar conosco hoje - ele sugeriu de repente.

- Hoje não, Enzo - falei apenas antes de continuar andando, dessa vez conseguindo chegar à garagem sem interrupção.

Deixei o carro no estacionamento de sempre, perto do apartamento de Carol, dessa vez no entanto tendo que esperar um pouco para conseguir uma vaga, por ser manhã de sábado. Quando cheguei ao prédio, estava oficialmente atrasada e subi as escadas correndo depois que Carol abriu a porta para mim através do interfone. Bati à porta do 304 apenas uma vez antes que ela a abrisse para mim, um sorriso nervoso brincando nos seus lábios.

- Desculpe o atraso.

- Tudo bem. - Se afastando para o lado, Carol abriu mais a porta, permitindo que eu entrasse. - Minha mãe está na cozinha. Vou chamá-la.

- Carol, espera - a detive quando ela tentou se afastar, baixando o tom de voz. - O que você contou para ela?

- Não muito - ela se apressou a responder. - Só que você era um pouco mais velha.

- Um pouco?! - exclamei alarmada, ainda num sussurro.

- Não fica nervosa, ok? Eu já estou nervosa o bastante por nós duas.

Dito isso, Carol se afastou apressada em direção à cozinha, me deixando sozinha na sala com aquela metade de boneca que agora parecia me encarar como se me acusasse de algo.

Respirei fundo para recuperar a calma quase perdida, lembrando que eu não era nenhuma adolescente para ficar com medo de conhecer os pais da namoradinha da escola. Há muito tempo tinha passado dessa fase. Ainda assim, quando ouvi os passos se aproximando, foi impossível impedir meu coração de acelerar.

- Mãe, essa é Dayane Lima - Carol começou as apresentações, parando ao lado da mãe. Sua voz tremia um pouco enquanto ela falava. - Day, essa é minha mãe, Rose.

- Prazer em conhecê-la, Rose - a cumprimentei, estendendo uma mão em sua direção, que ela prontamente aceitou. Cheguei a pensar em tratá-la com um pouco mais de formalidade, como uma namorada normal faria, mas nada ali era assim tão normal. A forma como a mãe de Carol me encarava, mordendo os lábios como se tentasse conter as palavras, certamente não era normal.

7 Minutos no paraísoOnde histórias criam vida. Descubra agora