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Na manhã seguinte, levantei muito antes do horário que Clara costumava ir trabalhar. Silenciosamente tomei um banho e me vesti, pegando logo minha mala antes de sair do quarto sem deixar qualquer aviso que estava saindo. Apenas a cozinheira soube que eu estava saindo, quando passei na cozinha para comer algo rápido antes de pegar a estrada.
Tinha combinado de pegar Carol a dois quarteirões da sua casa, perto da estação de metrô e quando cheguei lá, por volta das sete e meia da manhã, a encontrei no lugar marcado, encostada numa grade baixa que protegia um pequeno restaurante de esquina, com uma mala preta aos seus pés.
Assim que viu meu carro se aproximando, ela se adiantou até o meio fio e abriu a porta de trás para colocar sua mala junto da minha, só então entrando no carro e sentando ao meu lado.
— Carinha de sono — comentei com um sorriso depois de beijá-la.
— Isso, chama de horrorosa quem já está se sentindo um trapo — ela reclamou, puxando o cinto de segurança com uma força excessiva.
— Eu não falei que você está horrorosa, pequena — esclareci, levando minha mão à sua coxa completamente exposta pelo short curto. — Apenas disse que você está com cara de sono. De quem acordou há pouco tempo.
— Eu acordei há pouco tempo — Carol retrucou com a voz começando a ficar irritada.
Aproveitei o semáforo fechado à minha frente e tirei meu cinto, praticamente colando nossos corpos, puxando-a pela nuca para que ela ficasse com o rosto de frente para o meu.
— Você com essa cara de sono me lembra de cama — falei com a boca quase encostando na sua —, e isso me faz pensar em acordar ao seu lado, depois de uma noite exaustiva, abrindo os olhos e te vendo ali do meu lado com essa mesma expressão. Entendeu agora?
— Uhum — ela murmurou apenas e eu a beijei rapidamente quando ouvi buzinas atrás de mim avisando que o semáforo estava aberto.
Cerca de meia hora depois chegávamos na rodovia que levaria ao interior. Bem antes disso Carol já sintonizava o rádio do carro, ela passou a acompanhar as músicas, cantando animada.
— Posso perguntar uma coisa, pequena? — pedi, quando encerramos uma pequena discussão acalorada e divertida sobre quem era melhor ator, se Chris Evans, na opinião dela, ou Robert Downey Jr, na minha opinião.
— Claro.
— Não interprete mal o que vou perguntar, está bem? É só algo que preciso saber — avisei, vendo-a se voltar levemente na minha direção, atenta às minhas palavras. — Por que você aceitou se envolver comigo?
— Como?
Lancei um rápido olhar para ela, vendo-a de cenho franzido.
— Eu sou casada — falei apenas, voltando a atenção à estrada.
— Eu sei que você é casada — ela falou como se o que eu tinha falado fosse a coisa mais óbvia do mundo, tão óbvia que era um absurdo ter sentido a necessidade de lembrá-la. — Por que você está perguntando isso?
— Até ontem eu pensei que isso não te incomodava, mas depois percebi que não é bem assim.
— Ontem?
— Você ficou chateada por eu ter te escolhido como segunda opção para essa viagem. Mas você sabe que sou casada e sabe que não posso simplesmente fazer uma viagem assim e dizer a minha esposa que vou sozinha, porque ela vai desconfiar.
— Eu sei disso — ela concordou com a voz impaciente.
— Mas ainda assim você ficou chateada.