Quem não deve, não teme

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- Se você se apaixonasse por outra pessoa, você me falaria?

Meu coração quase chegou na boca quando ouvi aquelas palavras vindas de Clara, mais tarde naquele mesmo dia.

Estávamos no quarto já prontas para dormir, Clara encostada nos travesseiros ao meu lado, fechando o computador de repente. Quando chegara da casa de Carol mais cedo por sorte não a encontrara e pude ir direto tomar outro banho, apenas para o caso de ter ficado com o cheiro do perfume de Carol. E durante o jantar tudo transcorreu tranquilamente, Bruno e Enzo praticamente monopolizando a conversa, falando da viagem para a casa de praia. Então agora eu não entendia de onde vinha aquela pergunta de Clara. Mas com a consciência suja, é claro que fiquei nervosa.

- Por que você está perguntando isso? - perguntei, fechando o livro que vinha tentando terminar de ler há quase uma semana, fazendo o possível para manter a voz tranquila.

Com um suspiro, Clara levantou e levou o seu laptop até o sofá onde estava sua pasta do trabalho, só então voltando para a cama, sentando sobre os calcanhares de frente para mim. Aqueles poucos segundos que tudo isso durou, meu coração batia tão rápido e tão forte que não me surpreenderia se ela ouvisse.

- Hoje no escritório Amelia disse que viu algo quando foi ao centro na hora do almoço - ela começou e aquelas palavras me deixaram ainda mais nervosa. Na hora do almoço? A amiga dela teria visto o quê? Eu entrando no prédio de Carol? Mas o escritório de Clara ficava tão longe daquela região.

- O que ela viu? - perguntei ainda mantendo a voz calma, mas com muito esforço agora.

- Lembra de Mark, marido de Lidsey?

Aquela pergunta não fazia o mínimo sentido para mim, mas me forcei a lembrar quem era aquela pessoa, cujo nome não me era estranho.

- A arquiteta que foi transferida?

- Isso. O marido dela ficou porque não podia largar o trabalho e ela foi sozinha, deixando os filhos com ele. E hoje Amelia o viu aos beijos com uma ruiva dentro do carro. Tem noção do quanto Lindsey ficaria chateada se descobrisse isso?

Clara continuou falando e falando a respeito daquela traição, mas agora eu nem lhe dava mais ouvidos. Na verdade, eu nem conseguia ouvi-la. Me controlei para não suspirar aliviada ao descobrir que aquele assunto não era nada sobre mim e meu coração batia tão forte agora que sentia meu ouvido zumbir, deixando minha cabeça leve. Só voltei à mim quando a vi sorrindo a minha frente e ela levou uma mão à minha, entrelaçando nossos dedos.

- Você diria para mim, não é? Se isso acontecesse com você?

- Eu me apaixonar por outra, você diz? - perguntei, tentando soar o mais natural possível, vendo-a assentindo. - Você seria a primeira a saber, meu amor. Mas não precisa se preocupar quanto a isso - continuei, puxando-a para perto e beijei seus cabelos quando ela repousou a cabeça no meu ombro -, porque você é a única mulher que eu já amei na minha vida e sempre vai ser assim.

- E quando eu ficar velha e cheia de rugas? - ela perguntou, erguendo um pouco o rosto para me encarar.

- Então eu vou ficar velha e cheia de rugas com você - respondi, beijando seus lábios suavemente em meio ao sorriso que surgiu neles.

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- Carol, acorda. Vamos lá, Carol, acorda - chamei de novo, falando num sussurro, mesmo estando sozinha no meu escritório.

- Day?- sua voz sonolenta finalmente ficou mais fácil de entender, depois de quase um minuto que eu passei tentando fazê-la perceber que ela estava com o telefone no ouvido. - O que aconteceu? Que horas são?

7 Minutos no paraísoOnde histórias criam vida. Descubra agora