A outra

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— Eu vou conhecê-la? — Clara perguntou depois de um tempo em silêncio.

— Você quer conhecê-la? — devolvi, estranhando sua pergunta.

— Talvez eu queira conhecer a mulher que mudou a mente da minha esposa dessa forma — ela comentou dando de ombros. — É alguém do hospital?

— Não — respondi apenas. — Na hora certa vocês vão conhecê-la.

— E você vai morar com ela aqui?

Essa era uma boa pergunta.

— Eu não sei, Clara — confessei. — Nós acabamos de concordar com o divórcio. Eu ainda não consegui decidir o que vou fazer de agora em diante. Preciso pensar.

— Mas você ia pedir o divórcio antes. Não tinha planos? — ela perguntou com o cenho franzido.

— Sim, mas eles não envolviam você ir para o outro lado do país. Nos meus planos, eu iria sair de casa e não você. Nossos filhos estão aqui. Não acho que seria uma boa ideia deixá-los sozinhos nessa casa — falei, dando uma boa olhada ao redor antes de voltar minha atenção para ela. — Nós precisamos conversar com eles.

— Eu sei — ela concordou, abaixando o olhar por um instante.

— Amanhã é o último dia de aula deles. — E de Carol também. Nós duas estávamos contando os minutos para esse dia, porque assim teríamos mais tempo juntas, sem suas aulas de monitoria à tarde. — Podemos falar com eles amanhã no jantar se você quiser.

— Pode ser logo depois da aula? Poderíamos almoçar juntos — ela sugeriu. — Tenho um coquetel de despedida na empresa à noite, mas vou ter a tarde livre.

O problema naquela sua ideia era que eu queria muito passar a tarde com Carol. Mas como dizer isso a Clara sem ela achar que eu mentira sobre nunca ter lhe traído?

— Quando você vai embora?

— Dentro de uma semana — ela respondeu, sorrindo de leve. — Sei que avisei em cima da hora, mas eu precisava pensar antes de tomar essa decisão.

— Podemos conversar com eles amanhã então — concordei por fim. Ligaria para Carol ainda hoje e explicaria a situação. Apesar de não poder lhe ver amanhã, tinha certeza que ela ficaria feliz, tanto quanto eu estava. Afinal, isso significava que nós poderíamos ficar juntas mais cedo do que imaginávamos.

Na manhã seguinte, no entanto, ainda não tinha conseguido falar com Carol. Em parte foi minha culpa e de Clara, que pedira para passar a noite comigo no nosso quarto. Não fizemos nada, é claro. Nada além de conversarmos sobre esses quase vinte anos juntas, relembrando os bons e maus momentos, rindo de situações inusitadas que já tínhamos enfrentado. Era como a despedida de duas amigas. E era algo que eu sempre seria grata. Por Clara ter permitido que isso acontecesse. Porque apesar de não amá-la como mulher, ela ainda era a minha amiga e eu não queria que isso mudasse.

Tentei ligar para Carol durante seu intervalo na escola, mas seu celular ia direto para a caixa postal. Sem opção, mandei uma mensagem rápida pedindo que ela me ligasse assim que pudesse.

Mas quando cheguei à escola no horário marcado para encontrar Clara  lá, perto do final do horário das aulas, ela ainda não havia me ligado.

— É normal estar nervosa, certo? — Clara perguntou parada ao meu lado e pegou minha mão com a sua gelada.

— Também estou um pouco — confessei, olhando-a rapidamente.

— Você acha que eles vão ficar irritados comigo por ir embora assim?

7 Minutos no paraísoOnde histórias criam vida. Descubra agora