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Respirei fundo pela terceira vez desde que sentara naquele sofá, esperando Bruno e Enzo chegarem para poder conversar com os dois.
Fazia mais de um mês desde o episódio da casa de praia e, infelizmente, o comportamento dos dois não tinha mudado muito. Tirar seu dinheiro e o carro não teve o efeito que esperava, já que seus amigos e namoradas eram prestativos demais para deixá-los na mão. Eles também já sabiam sobre meu namoro com Carol. Há pouco mais de uma semana meus filhos tinham recebido os amigos em casa e dois deles vieram falar comigo, dizendo que achavam um absurdo o comportamento de Bruno e Enzo e que eu tinha todo direito de ser feliz com quem eu quisesse. Uma das pessoas foi Maria, namorada de Bruno.
Ela fora uma das primeiras a saber, porque no dia seguinte mesmo à nossa volta da casa de praia, Carol tinha me ligado à noite para dizer que Maria a visitara durante o dia para saber a versão dela dos fatos, porque Bruno tinha lhe ligado xingando de vários nomes. Depois de horas conversando, Maria acabou se voltando contra o próprio namorado, defendendo a mim e a Carol, o que foi muito bem vindo depois da reação dos meus filhos.
Carol estava se sentindo culpada por me fazer brigar com eles, mas acabou percebendo, graças à amiga, que o comportamento dos dois não era aceitável.
Uma das minhas maiores provas de paciência se deu ao final do mês de julho, quando estava saindo para encontrar Carol para comemorar nossos três meses de namoro. Era sexta feira e eu tinha feito reserva num restaurante. Nós duas estávamos um pouco nervosas porque aquela seria a primeira vez que sairíamos como um casal, na frente de todos.
Ainda assim, o passar dos dias não foi fácil para nenhuma de nós.
Quando estava prestes a sair de casa, ajustando a roupa enquanto descia as escadas, dei de cara com Enzo, que estava parado ao final dos degraus com um olhar superior. Antes que eu perguntasse alguma coisa, ele ergueu seu celular clicou em algo que fez sua voz soar no ambiente, junto com a de Clara. Era uma ligação entre os dois.
— A senhora não pode ficar sem fazer nada a respeito, mãe! — Enzo falava com a voz alterada. Obviamente aquele não era o começo da conversa.
— Mas ela é sua esposa!
— Ex-esposa — Clara o corrigiu.
— Tanto faz. Só não venha dizer que a senhora está feliz com esse namoro, porque eu sei que é mentira.
— É claro que eu não estou feliz, Enzo. Quem poderia gostar de saber que foi substituída por uma criança?
— Uma pirralha interesseira, é o que ela é!
— Não exagere, Enzo! Eu falei com sua mãe a respeito. Carol não está atrás do dinheiro dela.
— Isso é o que ela diz! Mas eu estudo na mesma escola que ela, lembra? Ela se aproximou de mim e de Bruno primeiro. Provavelmente queria um de nós, e quando viu que não ia conseguir nada, partiu para a dona do dinheiro.
Eu já tinha ouvido aquela mesma ladainha ao menos umas dez vezes nos últimos dias, por isso foi natural para mim apenas ignorar e continuar meu caminho até a garagem. Mas Bruno me seguiu, ainda me obrigando a ouvir a conversa com Clara.
— Além do mais, é uma pouca vergonha da Dra. Lima ficar com alguém daquela idade. Como ela pode nos envergonhar dessa forma na frente dos nossos amigos, mãe?
— E você acha que eu não me sinto envergonhada? Essa semana mesmo uma amiga ligou para mim dizendo que ficou sabendo que Day estava com uma ninfetinha. Ninfetinha, Enzo! Foi essa a palavra que ela usou. Queria abrir um buraco no chão para me enterrar.