VII - seems like trouble's staying

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Como se tudo aquilo fosse uma grande piada, meu pai começou a rir. Ou melhor, gargalhar. E tão forte que as bochechas, outrora pálidas, tomaram um leve tom avermelhado. Surpresa com a reação inesperada dele, encolhi-me contra James, deixando que um braço me apertasse contra o peito dele. Não melhorava em nada o quão mal eu estava me sentindo com tudo aquilo, mas ao menos eu tinha a sensação de segurança naquele abraço. 

"Por que diabo nenhum de vocês está rindo?" Ainda que o ar de riso predominasse, era notável o grau de preocupação na voz, ligeiramente mais grave que o normal, "Lily, diga que é uma piada."

Nada deixou meus lábios, meus olhos encarando perdidos os de meu pai, que encontravam-se em uma tremenda decepção. Mamãe permaneceu em silêncio, as mãos juntas no colo enquanto os dedos massageavam o dorso da mão, tentando não deixar transparecer tanto a surpresa pela notícia. Ela esperava isso de Tuney, mas não de mim, a filha prodígio dela. Era palpável o quanto eu deixara a desejar com as minhas más escolhas. 

Os pais de James pareciam igualmente atônitos. Embora não houvesse tantos preconceitos e estigmas quanto a isso no mundo bruxo, eles não realmente esperando essa notícia tão cedo. Sabia que as chances deles ficarem felizes logo após acostumarem-se com a ideia eram maiores do que os meus pais, afinal, eles eram um casal mais idoso - mal tiveram tempo para terem filhos, quem dirá netos. Não era o mesmo com o Sr. e a Sra. Evans. 

Lentamente o ar de graça foi substituído por raiva. Era a primeira vez que eu me senti assustada com algo que o meu pai poderia fazer. Ele sempre foi carinhoso, compreensivo. Quando a minha mãe tentava me repreender por correr dentro de casa ou quebrar algo, ele sempre batia duas vezes na minha porta, um sorvete na mão e um sorriso radiante. Secava as minhas lágrimas e eu estava bem novamente. Nesse momento, eu não conseguia reconher esse pai. Era como se eu estivesse em um filme de ficção científica e alguém, um alien, confabulei, tivesse tomado posse do corpo dele. 

"Minha filha..." Os olhos subitamente cheios de lágrimas, um conflito interno tomando posse de seus pensamentos, "Onde eu falhei?"

"Papai-" Minha voz saiu rouca e falhada, uma sensação de estrangulamento tomando conta de minha garganta, "Eu-"

"Não diga nada." Ele ergue a mão, incisivo naquilo que disse. "É melhor que você fique calada e não estrague ainda mais tudo isso."

Somente quando as palavras tão rudes deixaram a boca de uma das pessoas que eu mais admirava no mundo, somente aí, eu me permiti chorar. Lágrimas quentes de tristeza e frustração. James fez uma careta de desgosto, uma que deixava explícito o quão incomodado ele estava com tudo isso. 

Euphemia e Fleamont caminharam em minha direção, as mãos calejadas apertando brevemente meu braço depois olhando ternas para o filho. Nos olhos deles nada predominava mais do que uma preocupação. Os tempos estavam mudando, Voldemort estava cada vez mais poderoso... Conseguia compreender a razão da preocupação deles. Mas não havia nenhum julgamento, nada que nos condenasse por ter cometido um pequeno erro. 

Ao fundo, minha irmã tinha um sorriso triunfante no rosto. Ela sim deveria estar satisfeita com tudo isso. Com o fato de meus pais me rejeitarem. Petunia sempre ressentiu-os por terem me acolhido quando fui convocada para estudar em Hogwarts - minha irmã mais velha esperava que eles me desprezassem como ela o fazia. Agora, com minha mãe de olhos baixos e o pai despejando uma dose de uísque num copo, nada exceto felicidade nadava nos olhos claros dela. Vernon também exalava satisfação. Por mais que eu quisesse que nós todos nos déssemos bem, cada dia que passava, via que era realmente impossível. 

Pousando o copo de forma brusca na mesa, papai parece decidido. 

"Eu quero que você saia daqui." Solucei em choque, as lágrimas ainda caindo torrencialmente. "Precisamos, eu e a sua mãe, refletir sobre a situação. Por enquanto, eu não quero você aqui. Não quero um lembrete diário de quanto eu falhei quanto pai."

Quem grávida, eu?Onde histórias criam vida. Descubra agora