BRIGA

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— Oi! 

Vânia levou um susto quando falei com ela, mas sorriu rapidinho e respondeu: 

— Oi!

Carmita vinha logo atrás, com Vivi e Tatiana, e não gostou. 

— O que você tá fazendo? 

Também levei um susto e, muito pouco à vontade, respondi:

— Eu disse "oi" pra... 

— É, eu vi. 

— Todas nós vimos — acrescentou Tatiana, emburrada

As três estavam aborrecidas comigo.

 — Mas eu disse apenas "oi". Que mal há nisso? 

— Nós não gostamos da Vânia — lembrou Vivi. — Pensei que você também não gostasse. 

— Eu não gosto nem desgosto. Só falei "oi" e... 

— Quer ser amiguinha dela também, é?—perguntou Carmita, cheia de maldade na voz. 

— Não, eu... 

— Acho que ela quer sim — disse Vivi, zombeteira. 

— Não quero, não! 

— Quer, sim! 

— Não quero, não! 

— Vai ver, quer ficar até pretinha como ela! 

— Não! 

— Quer, sim! 

Fiquei com medo. 

Vergonha.Meu rosto pegou fogo. Estava tão quente, que eu só podia pensar que estava pegando fogo. 

Quando Carmita riu, debochando de mim, o medo cresceu ainda mais e, assustada, eu a empurrei. Ela me xingou e me empurrou de volta. Empurra pra lá, empurra pra cá. Empurrei mais forte e Carmita caiu sentada. 

Todo mundo viu. Muita gente riu.Ela me olhou, cheia de raiva.Assustei-me e estendi a mão para ajudá-la a se levantar. Carmita deu um tapa na minha mão e resmungou: 

— Você não é mais minha amiga! 

— Mas Carmita... 

Fui empurrada para o lado. Olhei pra Vivi e Tatiana, mas as duas nem falaram comigo. Viraram as costas e foram embora com Carmita. 

Acabei sozinha. 

Pretinha, eu? (Júlio Emílio Braz) (1997)Onde histórias criam vida. Descubra agora