SOZINHA

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Vou e volto sozinha pra escola. Carmita e as outras mudaram de lugar só pra não ficar perto de mim. Apenas a Bárbara ainda fala comigo e, mesmo assim, de vez em quando. Ela prometeu que vai convencer Carmita de me perdoar. 

Não entendi. 

Perdoar por quê? Eu não fiz nada errado.

Contei pra minha mãe. 

— Você brigou com sua melhor amiga por causa daquela...daquela... 

"Pretinha", era o que queria dizer. Ficou tentando, tentando,tentando... acabou não dizendo. 

De qualquer forma, não gostou. Nem me deixou explicar por que Carmita brigou comigo. Bastou mencionar o nome da Vânia pra minha mãe achar que conhecia toda a história. 

Não falei nada. Fiquei ouvindo.

—Vai pedir desculpas a ela, filhinha. Vocês são amigas há muito tempo. Amigas não devem brigar desse jeito, ainda mais por causa de um motivo tão bobo como... como... como este! 

Foi pior do que levar um tapa de Carmita. 

Preferi não dizer nada. Fui embora. Não ia pedir desculpas a ninguém, muito menos a Carmita. Não ia mesmo! 

Era melhor ficar sozinha. 

Não adiantou. Mamãe convidou Carmita pra ir em nossa casa e,como eu não saí do quarto, pediu desculpas por mim.

AAAAAAAHHHHHHHH! 

Que raiva! 

Pior do que minha mãe se desculpando por uma coisa que eu não tinha feito, só o risinho debochado de Carmita quando a gente se encontrou no dia seguinte.

— Tá desculpada! — disse, rindo pra mim, de mim, e para as outras garotas que viviam à sua volta. 

Puxa, que raiva! 

O dia inteiro ela andou de um lado para o outro com aquele sorriso de deboche e vitória pendurado na cara, se divertindo às minhas custas. 

Nem cheguei perto. Continuei sozinha. 

Pretinha, eu? (Júlio Emílio Braz) (1997)Onde histórias criam vida. Descubra agora