COLANDO FIGURINHA

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Eu me assustei quando meu pai entrou no quarto e atirou um punhado de fotografias e o nosso álbum de família sobre a cama. 

— O que foi, pai? — perguntei. 

Ele sorriu e sentou-se ao meu lado.

— Nada — respondeu. — Eu só achei que você gostaria de me ajudar a colar algumas figurinhas no álbum.

Olhei de novo e todos estavam lá. A família de meu pai. Pretinhos, pretinhos. Aquele primo, aquela tia, meus avós. Muita gente. Sorri para meu pai e entendi tudo.

— Eu acho que andei me preocupando com muitas coisas importantes e esquecendo outras tantas. —Apontou para as fotografias e acrescentou: — Como a minha família.

— A mamãe...

— A sua mãe não gosta de alguns dos meus parentes, como eu também não vou com a cara de muitos dos dela. — Papai beijou minha testa com carinho e tomou a sorrir: — A gente se entende.

— É mesmo? De verdade?

— Verdade verdadeira. E então? Você vai ou não vai me ajudar a colar as figurinhas?

E claro que ajudei.

Finalmente a minha família estava completa.

Pretinha, eu? (Júlio Emílio Braz) (1997)Onde histórias criam vida. Descubra agora