Guardo o telemóvel no bolso traseiro das minhas calças. No mesmo instante, uma voz suave faz-me virar.
Giulia: O meu pai já saiu? - esfrega os olhos.
Eu: Sim. - senta-se no sofá e liga a televisão.
Giulia: O que vamos fazer hoje?
Eu: Ainda não sei... Mas tens alguma ideia?
Giulia: Aos domingos fico sempre aborrecida. Por isso eu aceito fazer qualquer coisa. - ajeito o meu cabelo.
Eu: Sabes o que me entretia, quando eu dia a tua idade?
Giulia: O quê?
Eu: Pintar com os dedos.
Giulia: Não vou sujar as minhas mãos. - joga o cabelo para trás.
Eu: É divertido. E podes fazer uma pintura bonita para o teu pai. - ela vira a cara.
Giulia: Não quero.
Eu: Vais gostar. - volta a olhar para mim.
Giulia: Há um problema.
Eu: Qual?
Giulia: Não tenho essas coisas de pintar.
Eu: Não há problema. Podemos ir ao shopping comprar. - ela sorri e levanta-se.
Giulia: Então vou me arranjar. - sai da sala, desfilando.
...
Tento tapar a cara ao entrar na loja de materiais de pinturas.
Eu: Giulia, para de sorrir para as fotos. - puxo-a pela sua pequena mão.
Giulia: Deixa-me. - solta-se - Despacha-te com isso. Já consigo ouvir daqui as câmeras a me chamar. - joga o cabelo para trás.
Eu: Para de dar tanta importância à fama. Um dia, ainda vais te aborrecer com tanta falta de privacidade.
Giulia: Até parece que percebes alguma coisa de fama. - solta uma pequena risada pelo nariz. Respiro fundo e ignoro a sua provocação.
...
Eu: Sem medo, Giulia. É só tinta.
Giulia: Esta coisa sai com água, não sai?
Eu: Claro que sai. - ela fecha os olhos e mete, lentamente, um dos seus dedos no frasquinho de tinta verde. Ela vai abrindo os olhos ao mesmo tempo que tira o seu dedo, já coberto de tinta. Passa o dedo pela grande folha branca à sua frente, desenhando algo aleatório.
Giulia: É divertido. - sorri.
Sebástian: Giulia? - ouço a sua voz ao longe. Olho para trás. O Sr. Copolla aparece na porta do quarto da sua filha. O seu olhar pousa sobre mim, fazendo o meu corpo aquecer. Desvio o meu olhar, virando-me para o desenho da loirinha - O que estás a fazer, Giulia? - ouço-o a se aproximar.
Giulia: Estou a pintar com os dedos. - mostra os seus dedinhos sujos.
Sebástian: E importas-te que eu leve a Sra. González por uns minutos?
Giulia: Não me importo. Ela está a desconcentrar-me. - olho para o seu pai, que me fez sinal para irmos. Sigo-o até ao seu escritório. Ele fecha a porta.
Sebástian: Finalmente temos um tempinho a sós. - solta uma pequena risada que me contagia - Sente-se, por favor. - sento-me numa cadeira ali perto. Ele puxa outra cadeira para perto de mim - Então... Fale-me de si.
Eu: O que o senhor quer saber?
Sebástian: Para já, eu queria que me tratasse por tu.
Eu: Ah, tudo bem. - coloco uma mecha do meu cabelo atrás da minha orelha - Mas só se você... Quero dizer, tu, me tratares por tu também.
Sebástian: Claro. - sorri e cruza os braços. Desvio o olhar. Controla-te, Luna... Sinto-o colocar a sua mão no meu queixo, virando a minha cabeça, novamente, para ele - Pareces desconfortável. - tira a sua mão.
Eu: Claro que não... - o meu telemóvel toca. Tiro-o de dentro do bolso se trás das minhas calças. Peter... De novo! Desligo.
Sebástian: Podia ser importante.
Eu: O Peter nunca diz nada de importante.
Sebástian: Esse tal de Peter... - passa a mão pela sua barba curtinha - Não é a primeira vez que ele te liga. E pelo que me lembro ele estava a precisar daquele tipo de ajuda. Talvez ele precise novamente. - sinto o meu rosto arder.
Eu: É capaz. - desvio o olhar - Mas isso não interessa.
Sebástian: Então... Será que aceitas se eu te convidar para jantar cá? - deixo escapar um pequeno sorriso envergonhado.
Eu: Depois tenho de ir treinar. Já não vou ao ginásio há uns dias e estou me sentindo um pouco enferrujada.
Sebástian: Tu não páras. - solta uma pequena risada - Estás sempre ocupada. Então e amanhã? Tens um tempinho livre para mim?
Eu: Amanhã combinei de ficar o dia com a Willow. Mas acho que não há problema se vieres... - endireito-me na cadeira.
Sebástian: Não, não. Há mais dias. - levanto-me.
Eu: A Giulia pode estar a precisar de alguma coisa. - ele também se levanta.
Sebástian: Talvez. - dirige-se até à porta, abrindo-a. Saio e ele vem logo atrás. Ao longe, ouço vozes e passos.
Kimberly: Que dia incrível! - aparece nas escadas com a Francesca e o Pablo. O seu olhar fixa em nós - Sebas, não vais acreditar! - esboça um grande sorriso enquanto se aproxima dele - Os teus pais pagaram uma reserva num hotel na Argentina para nós os dois! - desvio o olhar enquanto sinto o meu peito apertar, lentamente - Umas mini férias que tanto merecemos.
Sebástian: Eu não tenho tempo para isso, Kim.
Kimberly: Mas já está pago.
Francesca: Não nos vais fazer uma desfeita destas, querido. - olho para ele pelo canto do olho. Ele estava a fazer o mesmo...
Sebástian: É de quanto tempo?
Pablo: 1 semana. - ele parece estar a pensar.
Sebástian: Só desta vez.
Kimberly: Obrigada! - abraça-o fortemente - Quem sabe, desta vez voltamos muito mais do que simples amigos.
Sebástian: De novo essa conversa não... - afasta-se.
Giulia: Ouvi umas mini férias. Espero estar incluída. - sai do seu quarto, com os dedos todos sujos.
Francesca: Meu deus, Giulia! Os teus dedos!
Giulia: É tinta. Foi ideia da Luna.
Kimberly: Uma ideia tão... Estúpida, só podia ter vindo dela.
Sebástian: Não é uma ideia estúpida! Pelo contrário, é uma ideia excelente para a Giulia!
Giulia: E eu ainda quero saber se estou incluída nessas mini férias!
Pablo: Não, querida. É apenas para a Kim e para o teu pai. - ela revira os olhos e desce as escadas.
Eu: Eu vou indo, até amanhã. - esboço um pequeno sorriso antes de descer, rapidamente, as escadas e sair pela porta da cozinha.
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Desistir Não É Opção
Non-Fiction" Desistir não é e nunca será uma opção! A vida não é o mar de rosas que tanto desejamos, mas isso não é motivo para desistir de tudo! Eu própria sei do que falo... " - Luna González " You're good enough for this world "