Capítulo 9

11 1 0
                                    

Guardo o telemóvel no bolso traseiro das minhas calças. No mesmo instante, uma voz suave faz-me virar.

Giulia: O meu pai já saiu? - esfrega os olhos.

Eu: Sim. - senta-se no sofá e liga a televisão.

Giulia: O que vamos fazer hoje?

Eu: Ainda não sei... Mas tens alguma ideia?

Giulia: Aos domingos fico sempre aborrecida. Por isso eu aceito fazer qualquer coisa. - ajeito o meu cabelo.

Eu: Sabes o que me entretia, quando eu dia a tua idade?

Giulia: O quê?

Eu: Pintar com os dedos.

Giulia: Não vou sujar as minhas mãos. - joga o cabelo para trás.

Eu: É divertido. E podes fazer uma pintura bonita para o teu pai. - ela vira a cara.

Giulia: Não quero.

Eu: Vais gostar. - volta a olhar para mim.

Giulia: Há um problema.

Eu: Qual?

Giulia: Não tenho essas coisas de pintar.

Eu: Não há problema. Podemos ir ao shopping comprar. - ela sorri e levanta-se.

Giulia: Então vou me arranjar. - sai da sala, desfilando.

...

Tento tapar a cara ao entrar na loja de materiais de pinturas.

Eu: Giulia, para de sorrir para as fotos. - puxo-a pela sua pequena mão.

Giulia: Deixa-me. - solta-se - Despacha-te com isso. Já consigo ouvir daqui as câmeras a me chamar. - joga o cabelo para trás.

Eu: Para de dar tanta importância à fama. Um dia, ainda vais te aborrecer com tanta falta de privacidade.

Giulia: Até parece que percebes alguma coisa de fama. - solta uma pequena risada pelo nariz. Respiro fundo e ignoro a sua provocação.

...

Eu: Sem medo, Giulia. É só tinta.

Giulia: Esta coisa sai com água, não sai?

Eu: Claro que sai. - ela fecha os olhos e mete, lentamente, um dos seus dedos no frasquinho de tinta verde. Ela vai abrindo os olhos ao mesmo tempo que tira o seu dedo, já coberto de tinta. Passa o dedo pela grande folha branca à sua frente, desenhando algo aleatório.

Giulia: É divertido. - sorri.

Sebástian: Giulia? - ouço a sua voz ao longe. Olho para trás. O Sr. Copolla aparece na porta do quarto da sua filha. O seu olhar pousa sobre mim, fazendo o meu corpo aquecer. Desvio o meu olhar, virando-me para o desenho da loirinha - O que estás a fazer, Giulia? - ouço-o a se aproximar.

Giulia: Estou a pintar com os dedos. - mostra os seus dedinhos sujos.

Sebástian: E importas-te que eu leve a Sra. González por uns minutos?

Giulia: Não me importo. Ela está a desconcentrar-me. - olho para o seu pai, que me fez sinal para irmos. Sigo-o até ao seu escritório. Ele fecha a porta.

Sebástian: Finalmente temos um tempinho a sós. - solta uma pequena risada que me contagia - Sente-se, por favor. - sento-me numa cadeira ali perto. Ele puxa outra cadeira para perto de mim - Então... Fale-me de si.

Eu: O que o senhor quer saber?

Sebástian: Para já, eu queria que me tratasse por tu.

Eu: Ah, tudo bem. - coloco uma mecha do meu cabelo atrás da minha orelha - Mas só se você... Quero dizer, tu, me tratares por tu também.

Sebástian: Claro. - sorri e cruza os braços. Desvio o olhar. Controla-te, Luna... Sinto-o colocar a sua mão no meu queixo, virando a minha cabeça, novamente, para ele - Pareces desconfortável. - tira a sua mão.

Eu: Claro que não... - o meu telemóvel toca. Tiro-o de dentro do bolso se trás das minhas calças. Peter... De novo! Desligo.

Sebástian: Podia ser importante.

Eu: O Peter nunca diz nada de importante.

Sebástian: Esse tal de Peter... - passa a mão pela sua barba curtinha - Não é a primeira vez que ele te liga. E pelo que me lembro ele estava a precisar daquele tipo de ajuda. Talvez ele precise novamente. - sinto o meu rosto arder.

Eu: É capaz. - desvio o olhar - Mas isso não interessa.

Sebástian: Então... Será que aceitas se eu te convidar para jantar cá? - deixo escapar um pequeno sorriso envergonhado.

Eu: Depois tenho de ir treinar. Já não vou ao ginásio há uns dias e estou me sentindo um pouco enferrujada.

Sebástian: Tu não páras. - solta uma pequena risada - Estás sempre ocupada. Então e amanhã? Tens um tempinho livre para mim?

Eu: Amanhã combinei de ficar o dia com a Willow. Mas acho que não há problema se vieres... - endireito-me na cadeira.

Sebástian: Não, não. Há mais dias. - levanto-me.

Eu: A Giulia pode estar a precisar de alguma coisa. - ele também se levanta.

Sebástian: Talvez. - dirige-se até à porta, abrindo-a. Saio e ele vem logo atrás. Ao longe, ouço vozes e passos.

Kimberly: Que dia incrível! - aparece nas escadas com a Francesca e o Pablo. O seu olhar fixa em nós - Sebas, não vais acreditar! - esboça um grande sorriso enquanto se aproxima dele - Os teus pais pagaram uma reserva num hotel na Argentina para nós os dois! - desvio o olhar enquanto sinto o meu peito apertar, lentamente - Umas mini férias que tanto merecemos.

Sebástian: Eu não tenho tempo para isso, Kim.

Kimberly: Mas já está pago.

Francesca: Não nos vais fazer uma desfeita destas, querido. - olho para ele pelo canto do olho. Ele estava a fazer o mesmo...

Sebástian: É de quanto tempo?

Pablo: 1 semana. - ele parece estar a pensar.

Sebástian: Só desta vez.

Kimberly: Obrigada! - abraça-o fortemente - Quem sabe, desta vez voltamos muito mais do que simples amigos.

Sebástian: De novo essa conversa não... - afasta-se.

Giulia: Ouvi umas mini férias. Espero estar incluída. - sai do seu quarto, com os dedos todos sujos.

Francesca: Meu deus, Giulia! Os teus dedos!

Giulia: É tinta. Foi ideia da Luna.

Kimberly: Uma ideia tão... Estúpida, só podia ter vindo dela.

Sebástian: Não é uma ideia estúpida! Pelo contrário, é uma ideia excelente para a Giulia!

Giulia: E eu ainda quero saber se estou incluída nessas mini férias!

Pablo: Não, querida. É apenas para a Kim e para o teu pai. - ela revira os olhos e desce as escadas.

Eu: Eu vou indo, até amanhã. - esboço um pequeno sorriso antes de descer, rapidamente, as escadas e sair pela porta da cozinha.

Desistir Não É OpçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora