Nick
Caminhei com dificuldade até em casa, estava sentindo meu abdômen arder, mas consegui passar pela porta cambaleando.
A vi na cozinha, com uma faca nas mãos, cortando a carne que provavelmente tinha acabado de comprar.— Aonde é que você estava? — perguntou já em seu tom raivoso, erguendo a faca e colocando uma das mãos na cintura.
— Não é da tua conta! — respondi irritado.
Passei pela cara de espanto dela e caminhei devagar pelo corredor até o quarto da Mi. Entrei, fechei a porta, puxei sua cadeira da pequena escrivaninha e me ajoelhei diante dela. Ela me olhou com tristeza, como se já estivesse lendo minha despedida.
— Oi Monstrinha... — tentei sorrir apesar da dor no rosto.
Seus olhinhos lacrimejaram — Nick...
Respirei fundo segurando suas mãozinhas. — Escuta Monstrinha, presta atenção no Nick agora, tá? — Ela assentiu, e meu olhos começaram a lacrimejar. — Eu te amo mais do que tudo, Mi. Te amo do tamanho do universo inteiro...
Ela me olhou confusa e esticou uma das mãozinhas até minha bochecha limpando uma lágrima. — Nauo gostoo de te ver chourar.
Aquilo me destruiu, eu não suportava ver ela sofrendo, mas agora eu tinha que arrumar aquilo.
— Eu sei... Me desculpe, mas eu tô cansado Monstrinha... Não queria estar, mas... O Nick tem que descansar um pouco agora, tá?
Seus olhos transbordaram e ela me abraçou — Nick... Naaao faaiz issooou. Euo te amoou. Naou..
Limpei seu rosto me entregando até aos soluços — Eu também te amo, eu te amo desde antes de você nascer, porque você deixou aquele demônio de cama, e não apanhei por quase nove meses... Eu amo você pequena, por tudo o que já fez por mim e por... — segurei sua mão abrindo seus dedinhos atrofiados e pousando sua mão espalmada sobre minha tatuagem no peito — Você é a peça que faz meu coração funcionar, Monstrinha. E se ele parar, vai ser por você também. Eu te amo. E vou sempre cuidar de você. — peguei meu celular, abrindo a foto que salvei do aniversário de Isabella que saiu em algum blog de fofoca. — Olha só... Seu Nick tem até asas... Seu monstrão vai cuidar de você sempre. Vou seu seu anjinho, e vou sempre estar com você. — Sorri para ela.
— Nauo... Nãaaou. — gritou ela tentando agarrar meu braço.
Apertei os olhos e me levantei, dando um beijo em sua testa. — Até mais, Monstrinha. Você vai ficar bem. Vai ser a mulher mais linda desse mundo. Eu prometo.
Me afastei, e ela tentou vir atrás de mim, mas saí, e fechei a porta, trancando e deixando a chave na fechadura.
Peguei meu celular, mandei uma mensagem curta para o Al, e liguei para Jubi, esperei que ele dissesse alô.— Eu te amo cara. — falei e coloquei o celular no chão, empurrando-o para debaixo da porta da Mi.
Respirei fundo, voltando para a cozinha.
— Tia Dulce? — falei baixo, saindo do corredor. Ela estava me esperando com um cabo de vassoura na mão.
— Você não aprende Nickolas? Quantas vezes tenho que ensinar modos a você?
Sorri — Modos? A senhora não me ensina nada. Então faça um favor por mim, pelo menos uma vez... — olhei para a pia, vendo as duas facas apoiadas no escorredor, lhe dando a ideia — Me mata.
Ela baixou os braços soltando o cabo de vassoura no canto da parede — Nickolas. Eu... Meu Deus, querido, de onde tirou essa ideia? Eu não quero matar você, nunca!
Ia começar a encenação... Mas eu não tinha muito tempo, Jubi apareceria logo. Eu precisava acabar logo com aquilo, se ela havia evitado me falar até agora, com o que eu trazia ela falaria, ou então, ia levar o segredo para o túmulo.
Suspirei — Isabella acabou de me mostrar os papéis do meu nome. Nickolas Finkler. — Caminhei devagar, me aproximando um pouco mais dela — Conseguiu o que queria, o dinheiro da coroa é meu. E Pedenga tem um documento que eu assinei passando tudo o que eu tenho direito para a Mi. Não precisa mais de mim. — abri os braços. — Finalmente pode se livrar do estorvo da sua vida. Não é assim que sempre me chamou? O Bastardo que você tão caridosamente pegou do lixo? — dei mais um passo em sua direção. — Eu sei que nunca me suportou. Agora acabou... E estou feliz por isso.
Sua cara de choque sumiu rapidamente quando seu braço se esticou para a pia. — Nickolas...
Desviei o olhar ouvindo a Mi bater na porta — Acaba com isso logo! — sussurrei.
Ela fingiu limpar o rosto de lágrimas e abriu os braços também, me abraçando apertado. — Ah Nickolas... Não sabe como eu esperei por isso, querido... Desde que saí com você daquele apartamento... E pensar que torci tanto para você morrer! Mesmo tendo prejuízo, eu queria que você morresse... Mas você é como um parasita, amor, você se adere a qualquer coisa, suga a vida de todos a seu redor. Denilson foi o primeiro... Sabia que ele foi morto tentando proteger você? — tentei me soltar dela, mas senti a ponta da faca nas costas — E a Mi... Tão frágil... Todas as vezes em que ela sofreu os AVCs foi por sua causa! Por você deixá-la nervosa, por gritar...
Deixei as lágrimas escaparem de mim outra vez, de tudo o que ela podia falar para mim, aquilo, era o que mais me machucava. — Gritar enquanto você me espancava? — falei baixo, usando seu mesmo tom amigável.
Ela assentiu, me abraçando mais forte. E senti os primeiros milímetros da faca entrarem em minhas costas.
— Eu coloquei você no lixo Nickolas! Eu acabei com a sua vidinha de príncipe, porque a tonta da sua mãe não sabia o que queria da vida. E aí... Por que não usar você? Eu sabia que seria útil para mim, as coisas aconteceram muito fácil para a sua querida mãe madame, faculdade paga, vida boa... Eu sabia o quanto ela era frouxa, que iria se arrepender e te procurar. E aí seria a minha vez de ter as coisas de jeito fácil... E agora eu consegui. E foi tão fácil Nickolas, te jogar no lixo, sabendo que Denilson te acharia. Ele não podia saber que eu te conhecia... Mas tudo o que fiz com você querido... Queria ter feito com a sua mamãezinha. Ainda bem que fez por mim. — sorriu ela.
Como eu imaginei, já havia pensado nessa hipótese desde a conversa com Helena na piscina. Ela era mesmo "amiga" dela, e havia sumido comigo... Eu já devia ter certeza, mas... Mas eu precisava ouvir dela, precisava ter tudo certo para arrancar a verdade dela.
Soltei o ar rindo — Então você fez eu matar a minha mãe, enquanto a culpada de tudo, era você? Genial! Meus parabéns. Conseguiu tudo o que queria mesmo...
— Ainda não! — disse afundando a faca em mim.
Prendi o ar sentindo a dor da lâmina entrando devagar, ela estava mesmo saboreando aquilo. Fechei os olhos e estiquei a mão para a pia.
— Obrigado por fazer de mim quem eu sou. — sussurrei — Ou não conseguiria fazer isso. — empunhei a faca e a cravei em suas costas também, a retirei sorrindo e a enfiei novamente, mais três vezes.
Soltei a faca no chão, olhei para sua mão e tive certeza de que a faca dela, ainda estava em mim. Sentia como se o ar se tornasse ácido enquanto eu tentava respirar, ela se soltou, cambaleando para trás sem conseguir fazer mais nada.
Ela caiu, e eu continuei em pé, vendo-a morrer, de um jeito que eu sempre quis. Tentei puxar ar, mas senti o sangue chegar a minha boca. Tossi, sentindo minha garganta se encher cada vez mais, e caí de joelhos lutando contra a dor.
Eu também estava morrendo...
Fechei os olhos, e meu corpo tombou de lado. Os espasmos percorriam meu corpo, mas estava tranquilo, sabia que estava agonizando e logo tudo acabaria, toda a dor acabaria... Era o que eu queria, era o que eu sempre quis. E o que devia ter acontecido há muito tempo.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Atroz
Romance(+18) Nick é o líder de uma gangue que comanda crimes e tráfico por todo o estado de São Paulo. Com poder nas mãos, o jovem de apenas dezoito anos é temido por todos, e respeitado como o chefe no lugar onde vive. Porém, o bem estar da pessoa com que...