24 Velha conhecida

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Nick

Achei que ficaria em paz o domingo inteiro. Mas apesar da interrupção de Isabella, meus planos não foram muito afetados. Graças as fofocas de Dália, eu já sabia que a festa dela seria na quinta feira, em um dos salões de festas mais caros da cidade. O que não me surpreendeu, vindo de quem vinha, ela precisava mostrar o poder da grana, já que era visada na escola de rico dela. Eu podia dizer que sentia pena. Mas não seria verdade. Aquela porra de fachada era uma escolha. Eu podia ser um bandido filho da puta ou um "matador de bebês" como ela gostava de dizer, mas eu tinha uma coisa que dinheiro algum conseguia comprar. Meus amigos! Eles fechavam comigo para tudo, eu morreria por eles, e eles por mim. Não havia hierarquia quando um precisava do outro. E era uma pena que Isabella não tivesse isso, não vivesse isso. Uma das amigas, dando em cima de mim quando claramente eu estava com ela naquela porra de festa. E ela... usando a outra amiga como desculpa para chegar em mim. Era triste, como tudo ali era falso, e frágil como um castelo de cartas, bastava uma cair, e tudo ruiria.

E lá estava eu, atolado até os joelhos em um mar de bosta movediça, e mesmo assim, pensando em Isabella. Eu tinha tanta coisa para resolver, tanto para planejar, ordens para dar, tudo teria que ser feito de forma estritamente calculada. E no entanto... Os problemas ridículos de adolescente riquinha é que ficavam voltando como uma coisa irritante para mim.

Fechei os olhos, batendo na lateral da cabeça, meu quarto estava um campo de guerra, para não fazer alguma merda, destruí tudo que estava ao meu alcance, o que foi uma grande estupidez, já que eu teria que arrumar aquele caralho todo.

Encarei meu celular sem muita expectativa.

Apagar a desgraçada do nada - fora de cogitação.

Acidente de carro - Não dava pra dar cabo do Silvão.

Bufei, e aí tive uma ideia, enquanto olhava uma das minhas cuecas quase entrando debaixo do armário no chão.

Mandei mensagem para o Jubi, pedindo para ele ajeitar tudo até quinta, e aí o plano ia começar. Dentro das minhas possibilidades, era a mais arriscada, mas também, era a única que eu conseguia pensar no pós.  Fechei os olhos, e pedi perdão em pensamento para meu padrinho. Ele jamais concordaria com aquilo, mas ele não estava mais ali, eu estava, e era minha função tomar decisões. E aquela era a minha. Tinha partes daquela história que eu ainda desconhecia, durante muitos anos ouvi sempre um único lado, e pelo menos, na minha consciência, eu precisava de mais!

Depois de repassar todo o esquema para os caras, juntei minhas forças e comecei a arrumar o quarto, e enquanto arrumava, comecei a pensar sobre minha relação naquela casa, eu estava ali há uma semana e já havia perdido complatamente o controle de tudo. Precisava retomar. Nick bonzinho, compreensivo, coitado submisso teria que voltar, e teria que ser melhor que antes.

****

Acordei na segunda de manhã, com os carros saindo, Isabella indo para o colégio, e Helena para  seu trabalho. Era minha chance de bisbilhotar, e não a perderia.

Saí do meu quarto depois de um banho e quando estava pronto, bati na porta da cozinha. Sorri para Dália e entrei depois de dar um animado beijo em sua bochecha.

— Bom dia, Dália, tem serviço para mim hoje?

Seu sorriso foi tão sincero que quase me senti culpado — Bom dia menino. Tem sim, dona Helena pediu para dar uma arrumada no escritório, vai ter uma reunião mais tarde. — Assenti animado, já passando reto — Ei, ei! Aonde pensa que vai? Pode sentar aqui e tomar café da manhã. E direito! Não sei o que te deu que não veio comer nada ontem.

Parei de andar, olhando para a bancada, estava mesmo morto de fome, não que eu não fosse acostumado a ficar alguns dias sem comer, mas eu devia saber que as pessoas achariam estranho.

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