19 Não é ele!

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Isa

Bati na porta insistentemente até Dália abrir para mim. Joguei as roupas dele no chão da cozinha e subi para meu quarto sem nem conseguir dizer um bom dia a ela.

Como ele podia ser uma pessoa assim tão instável? Em um momento era a pessoa mais doce do mundo, no outro, começava a brigar, e por coisas sem sentido, como se eu fosse uma criança e não soubesse me cuidar! É claro que eu confiava nele, e é claro também que amei o beijo, que quase perdi o último grão de sensatez que eu ainda tinha.

Nick me atraía só por aquela cara linda, mas isso era pouco, ele tinha que ter uma história triste, ser um fofo e ainda cuidar das pessoas? É claro que tinha! Desgraça pouca é bobagem! Ele tinha que ser diferente de todos os caras que já havia conhecido. Ele era perfeito demais, e isso sempre me deixava perdida, esperando as máscaras caírem, mas impressionantemente elas só ficavam cada vez mais fortes.

Entrei em meu quarto, e vi pela janela quando ele saiu correndo pelo jardim, correndo desesperado. Fugindo... De mim!

Baixei os olhos sem querer admitir o medo real no meu peito. O medo de ele não voltar mais. Eu precisava dizer a ele as coisas que estavam borbulhando em minha cabeça, a forma como eu pensava nele a cada momento do meu dia, e como eu me escondia pela casa só para ver o que ele estava fazendo. No começo, era só uma tentativa de pegá-lo em alguma atitude suspeita, mas só o  via trabalhando duro, limpando, arrumando coisas, fazendo tarefas que nem eram responsabilidade dele, ajudando a Dá até a carregar compras. Um príncipe... Um amor de pessoa, como Dá me confessou. Até ela, que era desconfiada de tudo e não dava muita confiança para ninguém, adorou ele, e seu jeitinho com aquela merda de leite com leite condensado. Eu queria morrer... Precisava falar com ele de novo.

Fechei os olhos me jogando na cama, a dor de cabeça da maldita ressaca havia me pegado de jeito e o fato de eu não parar de chorar, não ajudava muito... Nem me lembrava mais por que decidi encher a cara... Ah é... Eu apresentei o matador de bebês para a minha melhor amiga, e o remorso me corroeu. Eu era uma trouxa, isso sim!

Ouvi batidas na porta e tapei o rosto com os braços.

— Isa... Posso entrar? — a voz era calma, mas parecia que tinha uma certa expectativa.

Revirei os olhos, não estava com humor para encarar dona Helena naquela hora — Tô cansada mãe. — respondi tentando disfarçar a voz de choro.

A porta se abriu do mesmo jeito, como se eu ao tivesse dito nada.

— O que aconteceu? Só chegou agora? Já são sete e meia Isa...

— Mãe... — Suspirei — me deixa quietinha, por favor. — tentei ser educada, mas podia imaginar a minha cara de cocô amassado e dessa vez sem chantilly.

Ela fechou a porta, e momentos depois, senti o colchão afundar ao meu lado — Onde está o Nickolas?

— Não sei, ele acabou de sair. — respondi estranhando a mágoa em minha voz.

— A festa foi tão ruim assim? Que eu saiba, não é chorando que a gente se diverte.

Revirei os olhos — Mãe... Por favor, me deixa em paz, não quero falar disso.

— Você brigou com ele?

Me sentei, limpando o rosto com raiva — Ele me beijou, e me tirou da festa antes que eu entrasse em coma alcoólico, depois me levou para a casa do jardim, e dormi lá com ele. Tá satisfeita?

— Dormiu com ele Isabella?

— Na mesma cama mãe! Você acertou na mosca com ele, é um príncipe, incapaz de fazer algo errado. O seu sonho de filho. Aliás ele nem tem um sobrenome, por que não o adota de vez?

— Que jeito é esse de falar, comigo? — ela me olhou quase assustada.

Cruzei as pernas para ficar de frente para ela. — Eu sei que você tem coração mole, Nick não é o primeiro que você ajuda. A idade dele bate, e a história dele também. Acha que sou idiota? Ele não é seu filho mãe! Acorda, aquele bebê nunca foi encontrado, porque ele deve estar morto!

Seus olhos baixaram quase como se tivesse sido pega no meio de uma arte de criança. Como se estivesse comendo um sorvete delicioso e eu jogasse areia nele.

— Não pode sair por aí pegando todo garoto abandonado achando que é ele! Já era, tá?  Nem eu sou tão iludida quanto você!

Seus olhos se encheram de lágrimas. — Isabella... Você entenderia se conseguisse sentir o que eu sinto. A dor, a culpa... Não me julgue, eu já passo tempo demais fazendo isso.

— Mãe, pelo menos três dos melhores detetives do Brasil já te garantiram que nenhum bebê deu entrada em nenhum hospital do estado inteiro. E você sabe que não teria como ele sobreviver sem cuidados médicos, sua busca acaba aqui. Para de se enganar!

— Nunca vou parar de procurá-lo Isabella, nunca. E não preciso que você acredite em mim. Pode não ser o Nickolas, mas eu sinto, no meu coração que é ele. Quando olho para ele... Eu vejo meu filho... Eu nunca consegui esquecer aquele rostinho. E... Nickolas me encontrou... Foi o destino.

— Ótimo, então faz logo a porra do exame de DNA, e assim, você pode me deixar em paz.

Ela balançou a cabeça negativamente — Você sempre encontra uma forma de ser a vítima da situação, não é? Eu encontrá-lo, não anula nossa história, muito menos o amor que sinto por você, Isabella. Você é minha filha, a filha que o amor da minha vida me deu, então por favor, não faça isso comigo. Eu só quero uma chance de saber se ele está bem, se meu filho sobreviveu, se é uma boa pessoa...

— Devia falar com Nick sobre isso. Ele não tem a mínima vontade de saber quem é a mãe dele. Se acha que vai ser como um conto de fadas, é melhor pensar direito. Ele tem ódio da mãe, e não tiro a razão dele para isso.

Seus olhos se arregalaram — O que ele disse?

— Disse que foi jogado no lixo, que quase morreu, e que um homem o adotou. — omiti a parte de que esse homem era um puta de um bandido.

— Não pode ser...

— Mas é! Nick tem todas as razões para odiar a mãe dele, e como você não me conta nada... — me deitei na cama, virando de costas para ela — Boa sorte pra você.

Ouvi seus suspiros de choro, mas não me virei de volta, só esperava que ela saísse dali o mais rápido possível.

Ela saiu. Mas antes chorou muito, e eu sabia que estava fazendo outra vez, destruindo um pouco mais a nossa relação desgastada. Mas a ideia de que Nick fosse o filho dela, como ela estava imaginando, me deixava louca. Não podia ser, era coincidência demais. Era irreal. O filho dela estava morto, e ninguém jamais iria encontrar. Ela tinha que aceitar isso e continuar a viver. Talvez assim ela parasse de se punir por isso.

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