Nick
Me ajeitei na cama, sob o olhar atento de Jubi e Dêssa.
— Você não pode ficar sozinho aqui Nick. Você não pode se esforçar... — Dêssa disse pela terceira vez, com cara de choro.
Engoli em seco — Tá tudo bem. Não fica com raiva da Isabella. Minha boa vontade agora, não apaga o que eu fiz. Então entendo. Fica de boa, tá?
— Irmão, eu fico com você se quiser...
A frase me fez olhar para ele — Afinal, por que você tá aqui, Jubi?
— Eu vim ver a Mi... Isa foi juntando pedaços da história, sabe que eu participei do negócio lá da tua mãe, mas... Cara, ela tá tão perdida no meio disso tudo... Manja, fora do ar mesmo, tem horas que acho que ela vai desabar, ela se tranca, chora, e depois vai fazer companhia para a Mi. Ela não perguntou de você nem uma vez sequer, e...
— Tá de boa, Jubi, eu entendo ela não ter raiva de você... é uma coisa boa, não se preocupa. Fui eu que armei o plano, fui eu que as enganou, eu já esperava pelo ódio dela.
— Ela não odeia você. — Dêssa falou baixo — Ela te ama, e por isso tá doendo tanto...
Dei de ombros. — O que ela sente, não tá importando muito agora. Se eu soubesse que o Al era o filho da puta do ex namorado dela... Puta merda, dei a coroa de bandeja pra ele...
Dêssa sorriu — Ainda chama ela de coroa? Admite que gosta dela...
Balancei a cabeça negativamente e baixei os olhos. — Vocês podem dar o fora agora? Tô a fim de agonizar sozinho.
Jubi revirou os olhos — Tão bom em falar de sentimentos, né mano? Da até gosto de ver.
— Se eu tivesse ar para levantar daqui agora, te daria um pau. — falei fechando a cara.
— Pra que? Essa mandioca descascada em miniatura aí não faz nem cosquinhas, fala aí Dêssa? — riu ele.
Ela virou um tapa bem atrás de sua cabeça, e eu quase ri.
— Cala a boca Antônio, vamos deixar o Nick descansar.
— Eu tenho um ódio quando me chamam de Antônio, vai toma no cu, viu! Vou lá falar tchau pra Mi, se der, amanhã apareço, qualquer coisa me liga, tá? — Jubi deu a volta em Andressa e saiu do quarto.
— Vai ficar bem mesmo? — Assenti. — Fica com isso, — disse me entregando seu celular — sei que sabe todos os números importantes de cabeça. Então...
— Valeu Dêssa, não queria trazer você para esses rolos... Eu só...
— Relaxa, bebê, tudo vai dar certo.
Ela se aproximou, me deu um beijo na bochecha, apertou minha mão e se virou para ir embora.
Assim que a porta se fechou, senti o peso do silêncio recair sobre mim, como se fosse uma tonelada. Aquele quarto, aquele lugar que me recebeu, e que apesar de modesto, foi meu lugar de paz, onde, depois de dezoito anos, eu pude fechar os olhos e dormir, dormir em paz, sem receio de qualquer barulho, de ser acordado das maneiras mais humilhantes possíveis.
E no entanto, ser o lugar onde eu fiz os planos para acabar com toda a paz dali... Eu era mesmo um filho da puta, e merecia morrer. Isabella não devia ter me jogado ali, deveria ter me jogado na sarjeta.
Fechei os olhos e apertei com força o celular de Dêssa na mão.
Tentei deitar, para esticar o corpo cansado de tanto fazer força para respirar, mas deitado, ficava muito mais difícil conseguir ar.
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Atroz
Romance(+18) Nick é o líder de uma gangue que comanda crimes e tráfico por todo o estado de São Paulo. Com poder nas mãos, o jovem de apenas dezoito anos é temido por todos, e respeitado como o chefe no lugar onde vive. Porém, o bem estar da pessoa com que...