Nick
Dêssa parou o carro na guarita e apertou o interfone.
— Com licença, vim trazer o Nickolas, ele mora aqui na casa da Senhora Helena Finkler.
Achei que seria liberado na mesma hora, mas a resposta não chegava. Até a voz dele encher minha cabeça, tirando, de uma vez por todas, a dúvida de que Isabella ainda podia não saber de nada.
—A senhorita Isabella proibiu sua entrada, senhor Nickolas, terá que pedir permissão a ela, não estou autorizado a deixá-lo entrar.
Soltei o ar com uma onda de tosse que me fez gemer e me contorcer no banco.
Dêssa tomou a frente, agradeceu ao porteiro, e afastou o carro da entrada, pegando o celular.
— Não vim de tão longe arriscando sua vida por nada, além do mais, ela tá com a sua irmã lá dentro, o que essa garota tá pensando da vida? — esbravejou ela.
Segurei sua mão que vasculhava o celular, e com pouco ar, consegui dizer — Ela tá pensando... que mandei matar a mãe dela...
Suas mãos baixaram, e ela me encarou. Juntando o pouco de forças que eu tinha, peguei o celular dela e digitei o número de Isabella, colocando no viva voz. Achei que ela não fosse atender, mas continuei esperançoso, ouvindo os toques do celular, enquanto Dêssa bufava ao meu lado.
Ela já atendeu gritando — Não quero você perto de mim Nickolas, não vou te deixar entrar, se manda! Sua irmã tá bem, e quando você arrumar um lugar para ficar, Antônio leva ela pra você. — falou em um fôlego só, e eu conseguia perceber até o quanto ela estava trêmula, só por seu tom de voz.
— Isabella.... — quase sussurrei, não tinha ar, e não tinha voz para falar rápido e alto como ela merecia ouvir. — Me deixa entrar e te explico tudo...
— Não tem o que explicar! Você traiu a confiança de todo mundo, principalmente da minha mãe, da Sua mãe!
Puxei mais ar, me encolhendo — Preciso de você... Preciso de você para trazer Helena de volta.
— O que? — seu tom mudou.
— Ela tá viva! Me deixa... Me deixa explicar.
Ela se calou, e só ouvia sua respiração pesada do outro lado da linha.
— Entra! Mas se for outra mentira, eu mato você. — esbravajou e desligou.
Relaxei no banco e assenti para Dêssa voltar, e assim que chegamos à guarita, a cancela se abriu. Mostrei o caminho a ela, e segundos depois, ela estacionou em frente a casa.
Dêssa desceu do carro, e deu a volta para me ajudar. O portão se abriu, mas não havia ninguém ali. Olhei para a rampa da entrada ciente de que eu não conseguiria caminhar. De jeito nenhum eu conseguiria passar da calçada...
Me apoiei ainda mais em Dêssa, mas senti minhas pernas falharem pela fraqueza e o pouco ar.
— Não... Não consigo... — sussurrei enquanto caía.
Ela me olhou atônita — Nick! Pelo amor de Deus, eu disse que você não podia sair da cama! Está sangrando de novo... — ofegou, apoiando a palma da mão em minhas costas. — Alguém ajuda!
Ouvi seu grito, mas foi a última coisa que ouvi, apaguei ali mesmo, na calçada.
*****
Isa
Abri o portão, e vi a mulher dar a volta no carro, continuei parada, observando, sentindo a raiva me dominar.
Vi Nick apoiado em seus ombros, mas não conseguiu dar nem dois passos, meu coração parecia uma batucada de panelas no peito, ele não podia estar fora da cama... A tal mulher havia dito que as lesões dele eram para pelo menos duas semanas de internação, e ali estava ele, se arrastando...
Quando o vi cair, não aguentei, parti em disparada antes mesmo que a mulher gritasse por ajuda. Antônio veio logo atrás de mim, com Sil, e os dois carregaram Nick, tirando-o dos braços da mulher que já estava com a roupa suja de sangue.
Engoli todo o meu ciúme por saber do caso dos dois, e a segui para dentro de casa. Pedi a Dália que não deixasse a Mi ver Nick naquele estado, e elas foram brincar no escritório.
Fiquei em silêncio e imóvel, enquanto a mulher estancava o sangramento dele, e tentava fazê-lo recobrar a consciência.
Finalmente ele acordou, e meu peito se aliviou só de vê-lo abrir os olhos. Eu não devia comemorar o bem dele depois de saber o que ele fez, mas... A parte irracional de mim, o amava tanto...
Depois dos curativos trocados, colocaram-no deitado no sofá. Seu peito subia e descia com dificuldade, e via que cada respirada era uma dor nova.
— Isabella... — sussurrou baixinho, quase nada de voz saia dele.
Me aproximei sob o olhar atento de Antônio e Sil. Como se eles quisessem me proteger, como se o Nick pudesse fazer algo naquele estado.
Fechei a cara o quanto pude, e cruzei os braços — Eu não estou com pena de você agora... Você me usou, não foi? Você me usou de álibi para matar minha mãe...
Seus olhos lacrimejaram e sua cabeça balançou levemente. — No começo sim... Eu precisava matar Helena... Eu QUERIA matá-la. Mas mudei de ideia...
— É mentira! Tudo o que diz é mentira! — me exaltei. E como era difícil aceitei aquilo tudo vindo dele, vindo daquela carinha de anjo, daquele que ficou do meu lado naquela droga de festa... Como podia?
— Não é... Eu juro... Helena está viva, e se fosse por mim, ela já estaria com você de novo Merdinha... Mas...
Trinquei os dentes — Mas o que?? E não me chame assim!
Seus olhos se fecharam pesadamente — Ela está com o Alex...
Abri a boca olhando dele para Antônio, atônita — Alex... O meu Alex?
Ele assentiu devagar — Eu bolei um plano... Era para todo mundo ter certeza que ela estava morta. Dei uma ordem ao Jubi... E uma diferente ao Al. A ideia, era eu arrancar a verdade da Dulce, dar um fim nela, e deixar Helena livre... No pouco que conheci sua mãe... Nossa mãe... Eu comecei a duvidar da história. E Dulce me confirmou enquanto me esfaqueava. Ela me roubou... Me jogou fora, para meu padrinho me encontrar. A raiva dela por mim era tão grande, que me bater, era a forma dela de lidar com a situação.
— Mas cadê a minha mãe? — chorei.
— Acho que Al vai querer algum resgate por ela... Eu... A ordem era, para que se eu morresse, que ela fosse solta, porque se eu estivesse vivo, eu mesmo faria...
— Mas...
— Ele vai entrar em contato com você Isabella... Me deixa te ajudar. Ele acha que você me odeia, que não tem mais contato comigo, eu posso ajudar a trazer a sua mãe de volta. Sou mais esperto que ele...
Caminhei pela sala encarando a todos e finalmente parei mais próxima dele — Em uma coisa ele acertou Nickolas... Eu realmente odeio você!
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Atroz
Romance(+18) Nick é o líder de uma gangue que comanda crimes e tráfico por todo o estado de São Paulo. Com poder nas mãos, o jovem de apenas dezoito anos é temido por todos, e respeitado como o chefe no lugar onde vive. Porém, o bem estar da pessoa com que...