Capítulo 15

273 30 49
                                    

Rebeca

A humilhação pela qual Alexander me fez passar na presença de Pietra foi a gota d'água.
Chegando na porta do hospital, desci do carro sem olhar na sua cara,  segui direto para falar com a recepcionista.
Eu precisava ficar longe dele o mais rápido possível.
Ainda estava em choque, muito abalada pela situação à que me submeteu naquele domingo.
Então com a desculpa que queria ficar com minha tia, para lhe fazer companhia, não voltei para casa naquela noite.
Por fim decidi voltar só quando tia Norah recebesse alta médica.
Deixei para tio Enrico a missão de informar à  Alexander que eu não voltaria com ele.
Eu não suportaria ter que ficar mais um minuto aguentando tantos desmandos.
Não sei o que houve, não quis nem perguntar, mas ele voltou meia hora depois muito tenso. Acredito que mais uma vez teve uma férrea discussão  com o filho. Eu não quero que as coisas entre eles piorem, não gosto de ser o pivô para desavenças, mas bem ou mal, tio Enrico é o único capaz de de tê-lo.
Depois de quatro dias no hospital, hoje retornaremos para casa.
Tento me preparar psicologicamente para a batalha árdua que terei que enfrentar. Alexander não conhece a palavra limites.
Tem sérios problemas para receber um não.

O carro para enfrente a mansão.
Desço do carro com um dos bebês nos braços, tio Enrico sai com o outro bebê todo orgulhoso, ao mesmo tempo ajudando a esposa à subir os pequenos degraus da escada para entrar em casa.
Logo avistamos Brianna e tia Gabrielle vindo nos receber com sorrisos de orelha à orelha.
_ Ai que fofa! Está cada dia mais linda! _ Brianna comenta maravilhada com a pequena nos meus braços assim que chega perto. _ Dá ela para eu segurar Rebeca!
_ Não! Ela está dormindo. _ Nego, já atravessando a porta.
Tio Enrico vem logo atrás com tia Norah e tia Gabrielle já com o outro bebê nos braços.
Ao chegar no meio da enorme sala, um arrepio de apreensão corre pelo meu corpo, Alexander está acomodado em um dos sofás de maneira relaxada, seus olhos brilhantes e frios encontram-se em cheio com os meus.
Desvio o meu olhar incapaz de suportar a intensidade do seu escrutínio. Mas sinto a minha  face em brasa viva
_ Vem ver Alexander, como suas irmãzinhas são lindas! _ Tia Gabrielle convida afetuosa, mas já indo até ele.
_ Linda mesmo! _ Concorda.
_ Lembra você! _ Afirma a tia. _ Elas se parecem muito com Enrico, igual Alexander. A única diferença de Alexander para Enrico são os olhos azuis que herdou da Eva. Mas no resto é o pai todinho _ Descreve tagarelanfo com ternura.
Ele continua examinando o bebê nos braços da tia, mas dessa vez não faz nenhum comentário.
Levanta -se do seu lugar no sofá carregando sua áurea de poder, e vem em minha direção.
Minhas pernas ficam bambas.
Estuda o outro bebê nos meus braços, inclinando o corpo, à ponto do seu rosto ficar à poucos centímetros dos meus.
A fragrância da loção pós- barba entra nas minhas narinas. Suspendo a respiração para não inalar seu cheiro tão famíliar.
Não ouso erguer meu olhar para ele.
Permaneço  imóvel sem conseguir mexer um músculo se quer. 
_ São muito bonitas! _ Sentencia sem emoção, alguns instantes depois, voltando a sentar novamente.
Arrancando forças subo a escada concentrando meu peso nas pernas trêmulas com medo de desabar feito um fruta podre de tão fraca que me sinto.
Tia Norah, Enrico, Gabrielle e Brianna, vêm atrás subindo a escada também numa comitiva alegre entre risadas e conversas, enveredando por assuntos paralelos.
Na entrada do quarto das crianças entrego o bebê que carrego para a babá.
Sigo apressada para meu quarto como uma desesperada.
Ao entrar me certifico de passar a chave duas vezes para trancar bem a porta.
Me encosto na porta, puxando o fôlego dos pulmões pausadamente.
Passo minhas mãos trêmulas nos meus cabelos numa atitude nervosa.
Tirando a roupa entro no banheiro para acalmar meus nervos em frangalhos, com um banho quente de chuveiro.
Ligo o jato d'água e direciono meu rosto para a água caindo intensamente.
Ao me virar para pegar o xampu.
Levo o maior susto da minha vida.
Alexander está em pé do lado de fora do box.
O olhar penetrante em minha figura, é comparado à um gato estudando sua presa, antes de dar o salto para o ataque fatal.
Um grito abafado escapa da minha garganta. Enquanto automaticamente tomada de vergonha tento cobrir meus seios e minha intimidade.
_ SAI DAQUI!_ Expulso -o sentindo o pânico _ Como você entrou? Eu tranquei a porta!
Os olhos cínicos passeiam suavemente pelo meu corpo, enquanto surge o esboço de um sorriso provocante em seus lábios.
_ Achou que iria fugir por quanto tempo?
_ Você não tem o direito de invadir minha privacidade! _ Protesto entre indignação e envergonha.
_ Ver você pelada não é novidade para mim... lembra? _ Anota esboçando uma careta de desdém.
_ Se você não sair eu vou gritar! _ Ameaço com a voz tremulando .
_ Que medo! _ Satiriza.
_ Por favor, sai daqui.
Ao invés de fazer o que peço, ele entra no box com roupa e tudo, me  beijando com urgência, praticamente me devorando. Suspirando em agonia, sua língua contorna o interior da minha boca com luxúria e prazer. Involuntariamente meu corpo incendeia com seu toque. As mãos acariciando minhas costas, puxando meu corpo para unir -se ao seu ávido por satisfazer o desejo latente, abrasador.
Ele interrompe o beijo com os olhos fixos em meus lábios, enquanto desenha-os com o polegar.
Me sinto indefesa, à deriva, pronta para naufragar no mar dos seus olhos azuis cintilantes, num ato de desespero apelo para sua consciência.
_ Por favor Alexander, não me submete à isso! _ Imploro sentindo as lágrimas quentes no meu rosto.
_ Isso o quê? _ Sua voz soa rouca e ofegante.
_A humilhação de ser sua segunda opção. _ Argumento com voz baixa sem levantar a vista.
_ Você não é minha segunda opção! _ Descarta levantando meu rosto com o indicador para encontrar seu olhar relampejador.
_ Sou sim, não adianta querer mudar a ordem dos fatos _ Confiro com desgosto. _ E sabe o que vai acontecer se eu aceitar essa situação?
Ele não fala nada, mas continua com o olhar duro em meu rosto. Parece atento às minhas palavras.
_ Vou ser a mulher escondida nas sombras. Àquela que todos olham com desprezo... com o tempo perderei completamente o respeito por mim mesma. E enfim perderei minha essência, minha esperança. Não vou passar de uma mulher amarga, cheia de ressentimentos.  _ Enumero aniquilada.
Ele se afasta, parecendo perdido.
Os olhos azuis escurecem de repente indecifráveis. 
_ É assim que você se sente? _ Indaga com voz perturbada olhando-me diretamente. 
_ É! _ Sussurro angustiada. 
Nos encaramos em silêncio por um longo período de tempo. De certa maneira minhas palavras surtiram algum efeito.
Ele parece atônito, seu rosto se contrai como se estivesse segurando a emoção, abre a boca para dizer algo, mas desiste.
Sem me dizer uma única palavra, desaparece da minha zona de visão.
Confesso que quero morrer nessa hora.
Então é assim?
Nadei, nadei, para no fim morrer na praia?
Um choro violento escapa da minha garganta incontrolável.
Novamente a sensação de derrota me apavora.

UMA TRAMA DO DESTINO Onde histórias criam vida. Descubra agora