12 - EVA

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(será corrigido depois)

Querida! Está me ouvindo? Sou eu, Eva!

Escuto a voz de minha melhor amiga como um eco bem distante. Como um sonho. Tento abrir os olhos, me mexer, falar.

Uma tentativa falha atrás da outra que me faz ficar extremamente frustrada.

Será que estou tendo um pesadelo?

Querida, estamos orando por você, tá? Você sairá dessa logo-logo! Você é forte, é uma guerreira, eu amo você!

Sinto-me exausta, sonolenta.

A escuridão pouco a pouco vai me consumindo, me faz flutuar. Estou frustrada, mas não tenho forças para reagir.

************

-Como ela está doutor? – Eva pergunta aflita.

-O quadro clínico dela é muito bom apesar de ainda não ter acordado do coma. Ela tem reagido muito bem ao tratamento e seu corpo tem se recuperado cada dia mais. Mas esse tipo de recuperação leva tempo. Teremos que ter toda paciência.

-Já tem um mês que ela está em coma, o senhor mesmo já disse que removeu toda medicação e ainda assim ela não desperta. – Eva já está aos prantos olhando para o médico com expressão de súplica.

-Eu entendo seu desespero, sei o quanto é difícil a espera, mas você precisa ser forte, logo sua amiga estará acordada. Mandarei fisioterapeuta mais vezes durante a semana para acompanhar tanto a parte física quanto a respiratória da senhorita Valéria. Se estiver como esperado o tubo de oxigênio será retirado para verificar se ela já respira sem ajuda de aparelhos.

-Tudo bem. Tentarei ser mais paciente. Menos ansiosa.

-Vá para casa, descanse. Qualquer novidade entraremos em contato.

Eva sai do hospital inconformada, mas sabe que não há muito o que ser feito. O que cabe a ela nesse momento é esperar pela recuperação completa de Valéria. Ela sabe que não será fácil, mas estará ao lado da amiga para o que der e vier.

O desgraçado do Fábio ainda está sumido, mas a polícia já tem um mandado de prisão contra ele e assim que ele der as caras será preso e espero que apodreça atrás das grades pelo que fez a minha amiga e ao pobre homem que tentou ajudá-la.

As imagens do homicídio e tentativa de homicídio que o síndico do prédio deu a polícia serão mais que suficientes para encarcerá-lo por muito, muito tempo.

Tenho ido duas vezes na semana a casa da Val para deixar tudo sempre em ordem, minha amiga é muito cuidadosa com suas coisas e não quero que ela encontre uma desordem quando voltar para cá.

Os moradores do prédio ficaram chocados com tamanha violência e decidiram contratar uma empresa de segurança o que me deixa menos nervosa ao vir aqui.

Ouço o som da campainha.

-Oi Eva, o porteiro me disse que você estava aqui e vim ver se tem novidades sobre a Valéria. A semana tem sido extremamente corrida, mal pude ficar com ela por mais tempo.

Dou espaço para que entre fechando a porta em seguida. O guio até o sofá.

-O médico me disse que seu quadro está muito melhor do que ele esperava. Fez diversos testes e disse que seu corpo respondeu muito bem a todos, só temos mesmo que esperá-la acordar.

-Está demorando demais, essa espera é angustiante. – Fala passando a mão no coração.

-Eu te entendo. Não suporto mais ver minha amiga lá deitada, inerte, sem ver seu lindo sorriso e seu jeito espontâneo de falar. – Digo saudosa.

-Eu definitivamente sei do que você está falando. Cada dia que se passa eu me sinto mais vazio sem a presença dela. Pior é saber que nós havíamos tido uma pequena briga e não estávamos falando. Poucos momentos antes do acontecido eu havia avistado seu carro entrando na garagem e não fui atrás dela. Eu queria muito ir falar com ela e resolver nosso problema, mas fui orgulhoso. Eu devia ter ido. Poderia ter salvado ela.

-Ou poderia ser você quem estivesse morto agora. O pobre homem nem teve chance.

-Me mata que nunca saberei se teria conseguido ajudar ela ou não. Eu teria feito o impossível para que ela estivesse bem, disso eu sei.

-Você gosta mesmo da minha amiga, não é?

-Gosto muito! Pena que ela não me aceita.

-Não fica assim, Danilo. Logo ela estará aqui nos dando ordem e nos enchendo de ternura com seu sorriso meigo. Ela é como uma irmã para mim e me recuso perder a fé.

-Eu também.

-Ok! Agora me deixa terminar de ajeitar aqui que irei embora para minha casa.

-Não tem mais nada para arrumar aqui, nem poeira dá tempo de se formar que você já limpa. Porque não dá um tempo para você mesma. Descansa. Se quiser eu divido a responsa com você. Venho uma vez na semana alternando com você.

-Não mesmo. Isso aqui que faço deixa minha mente ocupada e faz eu me sentir mais perto de minha amiga. Faz eu me sentir útil para ela já que não consigo acordá-la.

-Você sabe que não é culpa sua, não sabe?

-Sei sim, Danilo. Mas ainda assim me deixa menos ansiosa fazer algo por ela. Algo concreto, entende?

-Entendo sim. Amanhã pela tarde terei uma reunião na empresa, mas quando terminar eu vou para lá ficar com ela um pouco. Não se preocupa, aproveita para resolver alguma coisa que você precise. – Ele fala comigo como um irmão mais velho mesmo eu sendo mais velha que ele. É engraçado.

-Tá certo. Preciso mesmo resolver algumas pendencias e revisar o nosso estoque. Tentarei fazer isso amanhã.

-Fechado! Agora vou indo, vê se não sai daqui muito tarde. _ ele se levanta e me dá um beijo fraternal na cabeça.

Assinto levemente e lhe dou um aceno com a mão. Ele se vai e eu volto a varrer a casa e passar uma flanelinha nos móveis do jeito que sei que ela gosta.

Penso comigo mesma que minha amiga tirou a sorte grande. Que rapaz educado, respeitoso, inteligente. Bem se vê que ele gosta dela mesmo. Só espero que ela também perceba isso, as vezes ela é meio tapadinha.

Rio com o pensamento.

Só quero que minha amiga seja feliz, ela merece toda felicidade do mundo.

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O GAROTO DO ANDAR DE BAIXOOnde histórias criam vida. Descubra agora