Capítulo dois

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O reino estava comemorando. Edria esperava o primeiro filho. Que com sorte nasceria para continuar mantendo a paz em Haendra. 

Adam se sentia feliz, pela primeira vez em muito tempo. Ele conheceu melhor Edria, e achou-a uma pessoa muito dócil. Eles continuaram transando mas se olhavam nos olhos agora, e era bom para os dois. Mas nunca se beijavam. E Edria já tinha perguntado o porquê daquilo, a sua resposta foi um batido de porta e um rei fugitivo. 

- Com sorte, será um garoto muito saúdavel. - disse o antigo rei, um homem que Adam, odiava. 

- Não precisa ser um garoto para governar Haendra, pai. - disse ele. 

- Ora, mas o que você quer? Uma garotinha frágil? Você sabe como as garotas pensam. São tão fúteis... - ele revirou os olhos. O antigo rei, tinha uma barriga gigante, uma pele oleosa e estava calvo. 

- Não importa se for homem ou mulher governando Haendra. O que importa é que mantenha a paz nos cinco. 

- Você e seu papo de paz. Você sempre foi um garotinho estúpido. - cuspiu o rei. Adam o odiava, e foi por isso que virou as costas e saiu dos aposentos. 


No meio da tarde, uma ama entrou nos aposentos do rei, gritando. Desesperada. 

- Vossa Alteza, nossa rainha entrou em trabalho de parto! - gritou a mulher. Adam congelou. Ainda estava cedo, não estava? 

Ele correu, correu até alcançar Edria. E quando a encontrou, ela estava deitada, muito pálida em uma poça de sangue. Ele se ajoelhou do lado dela. Ela olhou para ele e sorriu. 

- É uma menina. - sua voz estava fraca, mas a felicidade estampada em seu rosto. 

- Shhh - disse Adam. Ele não queria que ela fizesse esforço e se machucasse. 

- Eu... eu ainda não a vi. - disse a pobre mulher. - Traga-a para mim, meu rei. 

Adam se levantou e caminou até uma ama. Ela olhava para a criança, de uma maneira desrespeitosa. Quase assustada. Oras, que mulher, o que um bebê poderia ter de tão assustador? 

Foi quando ele a viu. 

Os cabelos brancos, muito brancos. A pele do bebê, muito branca também. A primeira coisa que ele pensou quando viu os tufos brancos foi que o bebê seria do grupo Ahua. Os controladores de água, mas não. Tinha algo mais, a pele. A pele do bebê tinha mordidas, e parecia dura, impenetrável. Os ossos do bebê eram muito visiveis. Quando a criança abriu os olhos, eram negros como a noite. Adam nunca tinha visto algo assim. Ele tremeu. 

- Adam? - chamou Edria, a voz fraca devido a dor que sentia. Ela não aguentaria saber que seu bebê fora vitima de uma maldição, Adam não quaria contar, mas ele não podia mentir. - Trague a nossa filha. 

Adam pegou a criatura em seus braços e levou-a até Edria. Ela tinha um sorriso fraco mas desaparecera no instante em que segurou a coisa em seus braços.

- Não. - sussurou a mulher. - Cadê a nossa filha? Isso, isso aqui. - apontou para a criança. - Não é minha filha. 

Edria chorava. E tremia. Adam pensou que ela se desmancharia, mas então Edria gritou. Tão forte. Grigt. O poder do grito. Ela poderia destruir o que fosse, se gritasse. 

Adam nunca havia escutado um Grigt, e no momento que escutou, desejou nunca ter acontecido. 

- Tire essa monstruosidade daqui! - gritou Edria, mais fraco dessa vez. Os ouvidos de todos na sala vertiam sangue. 

Adam segurou sua filha nos braços e saiu, correu. Quando estava longe, a mesma ama que fora o chamar, estava ao seu lado. 

- Meu rei. - disse a mulher. - O que irá fazer? 

O que ele iria fazer? Adam não fazia ideia. Olhou para sua filha pela primeira vez. Ela estava quieta. Muito quieta. Adam a chacoalhou. Nenhuma resposta da bebê. Levou os dedos ao pescoço pequeno e não sentiu nada ali, estava tremendo de mais. Mas ele achava que a criança estava morta. 

- Está morta. - anunciou. 

A mulher suspirou. Adam não sabia se era de alivio ou tristeza. 

- Chamarei um soldado. Para destruir todo resquício. 

- Não - disse Adam. - É sangue do meu sangue e será enterrada. E eu mesmo enterrarei. 

- Mas meu rei, nenhum pai deveria enterrar o pró... - Adam a cortou. 

- Eu já disse. - agora avise aos outros que minha filha, nasceu saúdavel mas morreu no parto. - ele dirigiu a ama seu olhar mais sombrio. -Será perdoada por essa mentira. 

A ama assentiu e disparou. O rei correu. Pegou um cavalo e correu com um bebê em seus braços. Ninguém sabia onde ele estava indo, mas não se importaram em perguntar. O assunto era que o bebê havia falescido. 

O rei só parou o cavalo, quando viu a neblina. Saltou do alto e segurou firme a criança. 

Ele não sabia o que sentia. Mas sabia que mesmo morta o lugar da bebê era no leste. 

Ele entrou na neblina. Não sentiu medo, não sentiu nada. Mas ele viu. E nada no mundo mudaria isso. Ele largou a criança ali. Sentiu uma mão segurar ele. Ele fechou os olhos. Mas ainda sentia. O rei juntou toda sua força e correu de volta ao palácio. Correu como nunca. 

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