KIRA
Eu amo dias ensolarados, por além de serem raros em Windwood, eles são iluminados e cheios de vida.
- Me espere! - grito pela janela da cozinha para minha irmã que está entrando na Kombi - vou ir com você.
Eu vejo seu revirar de olhos proposital que é extremamente típico dela. Caminho até tia Liza e planto um beijo em suas bochechas.
- Amo você, tia Lizie.
- Se cuide querida.
- Vamos logo, cacete. Eu felizmente não tenho o dia todo. - grita Lira.
Aceno pra tia Lizie e saio.
✣
Lira está totalmente concentrada na direção. Ela sempre esteve concentrada em tudo, com os pés no chão. Ela sempre foi tão segura, que me pergunto se ela sente falta deles todos os dias.
- Você está me encarando. - ela diz me olhando de soslaio. O engraçado é que somos gêmeas idênticas e eu sempre quis ser Lira. O corte de cabelo curto sempre combinou com ela. Quando eu tinha sete anos eu cortei o cabelo na altura dos ombros, um pouco mais longo do que é o de Lira agora, mas eu fiquei horrenda, eu não sei. Eu simplesmente não consegui passar a segurança que ela transmite.
- Desculpe, não era minha intenção. - digo voltando o olhar para a estrada.
Lira faz o mesmo e seguimos em silêncio pelo resto do trajeto. Nem sempre foi assim, nossos pais morreram quando tinhas quatro anos, nem consigo sequer lembrar de como eram. Dean e Sarah Del'Vingeht, queridos por toda a sociedade, tia Lizie disse que todos ficaram muito abalados quando nossos pais foram encontrados, enfim, Lira e eu éramos inseparaveis, fingiamos uma ser a outra e confundiamos todos, mas alguma coisa mudou perto dos 15 anos. Lira passou a trancar o sótao - quarto dela -, e começou a se fechar, tanto comigo quando para tia Lizie, achamos que era só uma fase, mas, cá estamos, com 17 anos sem ter um diálago com mais de duas frases.
Chegamos a loja da tia Lizie, sempre foi meu lugar favorito no mundo. A placa em cima da loja está tão vehlinha quanto ao lugar, mas é tão acolhedor...
Lira abre a porta e os sinos sinalizam nossa entrada, fazendo um som rústico de sinos.
- Barulho irritante. - diz Kira. Ela se dirige até os fundos da loja, para fazer os registros da noite passada, que cá entre nós, não precisa de muito tempo. As coisas já estiveram melhores, diz a tia Liza, mas desde que me conheço por gente, a lojinha "vodoo" nunca teve muito sucesso. Moramos numa cidade altamente rigorosa em termos de religião. E só mulheres que desconfiam da traição de seus maridos, ou pessoas com esperança em encontrar o amor vem aqui.
Me dirijo na parte das prateleiras, onde dezenas de livros se empulheiram, todos relacionados a magia ou mitos. No centro da lojinha há uma mesa feita de madeira - como todo o lugar - cheia de vazinhos pequenos de cactos e outras flores. Eu amo plantas.
A parte da leitura de cartas fica nos fundos, mas tanto eu como Lira somos proibidas de entrar, ok admito, eu já entrei um ou duas vezes, e o lugar não tem nada de muito especial. É um lugar roxo, com uma mesa, uma cadeira atrás e duas na frentes, em cima tem um baralho de cartas, e no canto esquerdo tem uma pratelheira com alguns bonecos e acessórios, e com um enorme vidro, já partido ao meio. No lado direito há apenas uma pratelheira com dezenas de frascos com liquidos de todas as cores possiveis. Lugarzinho, sem graça, sempre esperei bruxas e fumaça.
O sino soa e eu corro para atras do balcão.
- Olá, senhora no que posso ajudar? - pergunto a velha mulher, que se dirige a seção dos livros.
- Oi minha jovem, eu quero um livro. Venha ajudar essa pobre senhora.
Caminho até ela sorrindo, ela está tocando na seção de magia... hummm, interessante. Ela pode ser uma velha bruxa.
- Qual livro a senhora, deseja? - pergunto curiosa demais.
- Quero um livro de receitas.
- De poções? - pergunto.
- Se essas poções ensinarem a fazer doces e tortas, sim, por favor!
- Oh, sim! Claro, temos, ah...- como eu pude achar que uma pobre velinha era uma bruxa?
- Sim? - a velinha pergunta.
- Ah, o livro! Me desculpe, estou muito lenta hoje, amanhã começam minhas aulas e eu estou uma pilha de nervos...- procuro livros de receita, que certamente existe um - eu espero - perto dos livros antigos -.
- Achei!
A senhora pega os livros das minhas mãos e os olha.
- Vou ficar com esse, querida. - ela sorri e me entrega o livro com uma bolo de chocolate na frente. Minha barriga ronca em resposta, droga, Lira saiu tão rápido hoje de manhã que nem tive tempo de tomar café.
Passo o livro da senhora no balcão.
- Deu 3,50 dólares. - digo olhando-a sorrindo. Gosto de ser educada com as pessoas.
- Tome, - ela me da uma nota de 10 dólares - e nem pense em me dar troco, ouvi sua barriga roncando mesmo com a minha audição falhando, compre um lanche.
- Ah muito obrigada, mas...
- Sem mas... Agora me passe meu livro para cá.
Dou a ela o livro e ela sai da loja.
- Clientes a essa hora? - pergunta Lira entrando logo em seguida.
- Pois é, creio que hoje será um dia de sorte!
- Não comece com essa história de presságio novamente.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Ira
FantasyVidas passadas. Dor. Uma maldição. Duas irmãs que são muito mais que meras mortais, são as primeiras de toda raça humana. Mas elas não sabem disso. Possuem poderes incríveis mas que não sabem que existem. Elas tem pouco tempo pra descobrir a ve...