PARTE DOIS

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Capítulo um


LIRA

Eu odeio dias quentes, eles significam que eu irei trabalhar o dobro e para minha tia-avó significa um presságio, por que raramente tem sol onde eu moro. Eu estou falando sério, são 360 dias nublados ou chuvosos, quando o sol aparece as pessoas festejam e acreditam em todo o tipo de baboseira, como presságios ou até mesmo o fim do mundo. E eu me sinto extremamente infeliz, quando vou até a cozinha preparar meu café da manhã e vejo tia Liza, com os cabelos soltos ruivos com alguns fios brancos sinalizando os 46 bons anos de vida, presos em um coque totalmente bagunçado, suas roupas de sempre - saias longas, meia calças coloridas e muitas joias -, ela é o tipo senhora hippie esquisita, do tipo que se prende em árvores protestando e fumando um baseado de vez em quando, ela e minha irmã gêmea Kira, são tão parecidas, irradiando a felicidade e a paz, o que me irrita muito.

- Bom dia minha querida! Hoje o sol apareceu, depois de muito tempo, é um presságio, eu creio que é! - tia Liza se vira rindo para mim, mas seu sorriso some quando ela vê que sou eu e não Kira. Bom, eu e Kira somos gêmeas idênticas, exceto que os olhos de Kira são de um tom de azul lindo com gotas douradas, e os meus azuis pálidos que estão mais para cinza, e por que cortei meu cabelo na altura do pescoço. E, bom, podemos afirmar que tia Liza sempre preferiu a irmã radiante.

- Bom dia tia Liza! - digo colocando um sorriso totalmente falso e falando com a voz mais estridente que conheço - Estou tão, extremamente contente hoje! Um presságio, quem diria. Espero que não seja o inicio de alguma coisa ruim.

- A ironia não combina com você, minha querida. - diz ela sorrindo gentilmente- Fiz alguns biscoitos para você e sua irmã levarem para a loja hoje.

Reviro os olhos. Tia Liza tem uma loja de antiguidades cheia de quinquilharias e bugigangas, e ela faz eu e Kira trabalharmos lá, mas nós tínhamos combinado que dividiríamos os dias. Kira ficava com, segunda, quarta e sexta e eu com as terças, quintas e sábados. E hoje é segunda.

- Vejo que hoje terei que trabalhar mais do que tínhamos combinado. - digo a olhando por cima da xícara.

- É que hoje o dia está espetacularmente maravilhoso, e você vai ter que ajudar sua irmã na loja e fazer algumas entregas para mim, Deus sabe que você é muito melhor nas entregas do que no caixa espantando os clientes com essa carranca. E por favor, não fique irritada.

- Ah sim, eu tenho um dom que é fazer entregas, e não tia querida, não ficarei irritada se a senhora me pagar o dobro, pelo meu trabalho tão dedicado. - digo mais mostrando os dentes do que um sorriso para ela.

- Garota perversa. - ela diz como um xingamento, mas vejo a graça por trás das palavras.

- Devo levar isso como um elogio?

Ouço o ranger das escadas de madeira. Três, dois, um...

- TEM UM SOL NO CÉU! - diz Kira assim que ela põe a cabeça na cozinha. - Só pode significar um...

- Presságio, - eu digo com desdém. - eu sei, eu sei. Bom, já tomei meu café. Vou indo para a loja.

Ela sorri e diz um bom dia.

Kira é linda, cabelos negros longos e levemente ondulados apenas nas pontas. Seus traços são lindos, quando Kira sorri, eu juro que ela pode ter o mundo ao seus pés. Nós já fomos mais próximas, mas por alguma razão nos afastamos, Kira começou a ter uma vida social e eu me interessei pelos livros. Eu acho. Faz tanto tempo que não nos falamos de verdade.

Me levanto das banquetas e noto a cozinha pela primeira vez.

- Você comprou mais samambaias? - tia Liza tem compulsão por flores, então sim, nós moramos no meio do mato, rodeado por todos os tipos de plantas possíveis e para "melhorar" o aspecto da nossa casa como tia Liza diria, ela encheu a casa inteira de flores.

- São ótimas plantas. - ela diz.

Caminho até a entrada de casa e saio. Tia Liza e Kira, andam de bicicleta, mas como a maiorias dos dias chove, tivemos que comprar uma Kombi amarela. Então este é meu único recurso.

- Tenha um péssimo dia Jeramy. - digo para meu cachorro. Ele late em resposta. - Para você também, Lira. - digo baixinho.

Entro na Kombi e sigo o maldito trajeto até a loja.


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