Kira se sentia sozinha, não podia conversar com a mãe por que ela nunca estava. Ela sempre estava presente, sim, mas sua alma não a pertencia mais. Kira, sempre quis rir com sua mãe. O rei mudara em um ano. Ele estava com medo. Não sabia do que era, mas tinha alguma ideia. Lira. Todos a temiam. Quando Lira fizesse dezessete anos daqui um dia, seria coroada, se casaria com Broke e governaria. Kira casaria com Blake e teria uma vida horrível.
- Não faça nenhum som. - disse Broke ao entrar pela janela nos aposentos de Kira. Já estava tarde.
Kira saltou de surpresa. Eles tinham falado disso mas ela não estava preparada. Ela o queria, mais que tudo. Mas não nessas circunstancias.
Broke caminhou até ela. Ela sentiu seu coração aquecer dentro do peito dele.
Ele se inclinou lentamente até seus lábios. Eles nunca haviam se beijado, mas logo ele estaria casado e Kira não suportaria não ter sentido o gosto de seus lábios.
Os lábios, trêmulos se encontraram, as respirações quentes se misturaram e eles se fundiram em um beijo. O beijo que era a salvação deles, o único beijo deles. Quando Broke se afastou, havia lágrimas nos olhos de ambos.
- Eu a amo. - disse o garoto, baixinho.
Kira levou as mãos aos cabelos castanhos claros e os amaciou. Ela suspirou quando sentiu a textura em seus dedos. Cada traço de Broke fazia Kira subir ao céu.
- Eu o amo. - ela devolveu e o beijou rapidamente outra vez.
Eles foram até a cama e se abraçaram.
- Não posso fazer isso - ela disse e ele entendeu, ele sempre entendia. - Não posso fazer isso com ela.
- Eu sei, meu amor. - ele a beijou na testa e a abraçou carinhosamente, eles adormeceram um nos braços do outro, os rostos colados e as lágrimas fundidas. Na manhã seguinte, Kira tinha dezessete anos, mas não tinha seu coração. Broke partiu no meio da noite deixando uma pequena carta a ela.
Espero que saiba, Kira, que sou seu de corpo e alma. Cada pedaço do meu coração indomável pertence a você. Mesmo que as situações não sejam as melhores, gostaria de dizer que eu te amo, eu a amo. Te encontro nas nossas próximas vidas.
Com amor, todo seu
Broke.
O vestido escarlate estava sobre a cama. Lira não havia dormido. Estava pensativa de mais. Se preparara todos esses anos para sua coroação, mas não sentia emoção alguma. Ela se sentia fraca, não enxergava motivos em sua vida. Será que seu pai se sentira do mesmo jeito quando fora coroado? Provavelmente não. Ela gostaria de poder governar igual ele, manter os cinco reinos em paz. Manteria o seu reino bem, masas vezes duvidava dela mesma. Quando o sol levantou as amas estavam no quarto de Lira. A lavaram, vestiram, pentearam. Ela dispensou as amas, precisava ficar a só. Mas no mesmo instante que as mulheres sairam, ecoou uma batida na porta.
- Já disse para me deixarem em paz! - ela gritou.
- Creio não ser possivel, minha rainha. - Blake entrou no quarto. Embaixo de seus olhos tinham grandes bolsas roxas, demonstrando as noites mal dormidas. Blake era dois anos mais novo que ela mas ele tinha traços de homens feitos. Blake era irresístivel.
- O que você quer? - perguntou Lira com irritação na voz. Ela não conseguia olhar ele. Ela tinha vontade de chorar.
- Você. - ele disse. A voz carregada de uma dor. - Eu só quero você.
Lira levantou os olhos. Blake estava com o maxilar trancado e os olhos vermelhos. Lira riu, uma risada triste. Não conseguia conter suas lágrimas.
- Eu também o quero. - ela disse, pela primeira vez em dezessete anos se deixou mostrar sentimentos em relação a Blake. A voz rouca pela emoção.
- Fique comigo então, você é a rainha. Pode mudar as leis. - ele implorou. - Fique comigo.
Lira já não aguentava mais. Ela teria dito sim a ele naquele momento. Mas o sino tocou, anunciando a coroação.
- Eu não escolhi isso, Blake. - ela se aproximou dele. - Não escolhi ser rainha, mas eu sou e esse cargo trás consigo coisas que eu tenho que aceitar, mesmo que eu não queira. Eu não posso mudar as regras. - ela levou os dedos até a bochecha dele, o tocou gentilmente. Os olhos de Blake se encheram de lágrimas, mas ele não as soltou. - Seria desrespeito aos meus ancestrais. Eu sou a rainha. Não posso ter o amor na minha vida.
Ele se afastou. Uma lágrima correu. Então ele sacudiu a cabeça e caminhou até a porta. Mas parou.
- Nunca irei te perdoar. - ele disse, a voz dolorosa. - Tenha um bom reinado. Minha Rainha.
Ele fez uma revêrencia e saiu, deixando Lira e seus mil pedaços de coração.
Kira estava dolorida, mas feliz pela irmã. Hoje era seu coroamento. Estavam todos ao redos do mar. E então Lira se aproximou. Vermelho caia bem nela, Kira pensou enquanto a irmã caminhava até eles com um vestido vermelho vivo. Ela não era a primeira rainha, mas fazia centenas de anos que não tinha uma. Lira estava tensa, Kira sentiu isso assim que a irmã passou por ela. Quando seus olhos se encontraram, Kira sorriu gentilmente e Lira retriubuiu o gesto.
Mesmo que todos a temessem, Kira não era uma dessas pessoas. Ela amava a irmã e sabia que a irmã a amava.
Lira estava ajoelhada diante do pai. O rei dizia as palavras que um dia ele escutou de seu pai. Ele não a tocava. Nunca. Até o próprio rei temia Lira.
Quando chegou a hora, para ver se ela seria digna da coroa, Kira congelou no lugar. Despiram Lira, ela estava nua diante de todos. Levaram ela até o pico do penhasco e a empurraram contra as rochas e mar. Kira gritou, como um animal, ela correu e esperneou. Ninguém se movia. Ninguém se moveu. Por horas, esperando uma resposta. E então gotas grossas de água caíram do céu. Nuvens cinzas cobriram o sol. E então Lira saiu da água, tossindo, e um relâmpago rugiu. Ela havia sobrevivido a morte. Ela era digna, mas tinha algo diferente em seus olhos. Tinha raiva. Ela caminhou até o povo. Sangue escorria dela, mas Lira seguiu com o queixo empinado. E com um olhar que poderia matar.
Kira nunca tinha visto nada parecido. Nada tão aterrorizante. Foi nesse instante que ela temeu. Ela temeu Lira.
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Ira
FantasyVidas passadas. Dor. Uma maldição. Duas irmãs que são muito mais que meras mortais, são as primeiras de toda raça humana. Mas elas não sabem disso. Possuem poderes incríveis mas que não sabem que existem. Elas tem pouco tempo pra descobrir a ve...