LAGARTA DE FOGO

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Ana Júlia está correndo por uma floresta densa e úmida. A chuva não lhe dar tréguas. Os galhos das árvores, rasgam-lhe as peles dos braços e pernas. Ela percebe que está usando saia. Como? Ana Júlia não gosta de usar saia. Um momento. A moça percebe que ela é... ruiva?

Ana para e começa a se analisar. Vestido rosa? - Ela detesta rosa. - sandálias de couro? E sua pele está branca igual leite, e os cabelos vermelho da cor do fogo.

— Onde estou? — A pergunta é feita para ela mesma. Mas não muito alto. — Em que ano estou? Quem sou eu? Que loucura é essa,

Ana escuta um relinchado. Olha em sua volta e só ver árvores cinzas. A chuva aumenta. A jovem volta a correr, mas com a chuva aumentando, a lama sobe e ela começa a atolar os pés, fazendo-a correr menos.

"Que lugar é esse? Eu não estou no Brasil e muito menos em Pernambuco."

A respiração do cavalo está cada vez mais perto. O sentimento de morte está em toda sua volta. Ana Júlia quando olha para trás, não percebe que há uma tora grossa de um galho bem na sua frente.

A porrada é grande.

Ana Júlia, bate a cabeça e cai ribanceira a baixo. A queda é longa e dolorosa. No percurso da queda, outros galhos vão rasgando-lhe a carne e a roupa.

A dor dos ferimentos ardem e não cessam.  A jovem ruiva termina a queda com a cara dentro da lama. Ana Júlia levanta-se, mas cai. A Terra parece que deu um giro de trezentos e sessenta graus com ela em pé. O frio está aumentando. A asma está queimando seus pulmões.

"Asma" — Pensa Ana Júlia. — "Eu não tenho asma!" — A moça levanta-se segurando num tronco e não cai.

"Uma casa de madeira! Preciso me esconder lá!"— A sua roupa encharcada, mesmo rasgada, está atrasando-a mais ainda. O cavalo está mais perto. A respiração do animal parece está nas suas costas.

Ana Júlia não atreve-se a olhar para trás.

— Socorro! Socorro! — Os murros que são dados na porta são fortes e os gritos são altos. Mas ninguém vem abrir a porta de madeira para ela entrar.

Ela para de gritar.

Engole seco.

Continua olhando para a porta de madeira. O cheiro podre está ali... bem atrás dela. Ana Júlia fecha os olhos e faz uma prece. Uma voz demoníaca chama-lhe por um nome que não é o seu.

— Eu não me chamo... — O cavalo marrom empina-se relinchando. Ana Júlia coloca as mãos no ouvido, não suportando o brado maligno do animal.

A chuva aumenta, porém, mesmo assim, o metal do machado reluz, seguro na mão do cavaleiro sem cabeça. O golpe é dado.

— NÃO! — Grita a menina acordando.

Ana Júlia desperta do pesadelo angustiada e com as duas mãos segurando o pescoço. O sonho foi tão real que ainda podia sentir o cheiro podre em seu quarto, exalado por aquele homem sem cabeça. Com cuidado, passa a mão em volta do pescoço sentindo uma ardência. A dor queima. É como se estivesse usando um colar feito de lagartas de fogo.

— Meu Deus... que pesadelo! — O relógio digital marca três e quinze da manhã. E quem disse que ela conseguiu voltar a dormir?

Ana ficou olhando para o teto e pensando no pesadelo. Ainda bem que seus pais não acordaram. Menos mal. Principalmente seu pai, iria começar a dizer que a culpa do pesadelo, era por causa dos filmes de terror que ela sempre assiste.

O pescoço ainda queima.

Ana Júlia levanta-se e vai até o banheiro, acende a luz e assusta-se. Ela levanta os cabelos pretos encaracolados e percebe que o vermelhão circula todo o pescoço.

— Que merda foi essa que aconteceu comigo? — Ana Júlia continua vidrada e assustada olhando para queimadura.

Ela volta para cama, deita do lado direito olhando para janela. As músicas dos sapos, preenchem a madrugada, e escutando-os gorjeia, Ana Júlia dorme novamente.

DULLAHAN - A LENDA DO CAVALEIRO SEM CABEÇA - Lançado em 23/10/2019 - COMPLETO. Onde histórias criam vida. Descubra agora