NECROTÉRIO

119 28 176
                                    

Dia 07 de dezembro 2019, sábado, Bucareste, Romênia. 01:00pm — Necrotério Municipal da Cidade de Bucareste.

— Qual o nome dele? — Pergunta o legista Serguei Polov. O necrotério está na penumbra, somente o corpo decapitado encontra-se iluminado. Tem apenas mais uma luz, na porta, na parte superior que acende a placa ENTRADA/SAÍDA

— Duna Kriska. — Responde o investigador Andrei Vasile.

— E qual o valor dele para vocês, investigadores? Posso saber? — Andrei olha para Polov, que tem a metade do jaleco branco, o qual está vestindo, dentro da penumbra.  As mãos vestidas com luvas cirúrgicas, sempre estão expostas na claridade e analisam o pescoço da vítima.

— Nenhum e muito. — Andrei acende um cigarro. — Ele era um morador de rua. Mas, já foi das forças armadas. O maior problema é que não encontramos a cabeça dele. E muito importante, porque vamos poder ter de você, todos os detalhes possíveis que esse corpo possa dizer.

A vítima foi encontrada por um casal de namorados, que estavam se dirigindo para o colégio.

O casal, o viu com os pés saindo de dentro de um beco. O homem estava usando um sapato social marrom, desgastado, e o par de meias com cores diferentes. Lilás e verde. Eles só puderam perceber isso, porque a calça do defunto, fora de alguém bem menor que ele.  Ao verem a desgraça do corpo sem cabeça, a jovem vomitou todo café da manhã. O rapaz que é caucasiano, ficou ainda mais branco, fugindo-lhe todo sangue. Parecendo um outro morto.

Andrei Vasile sabe que todos os dias, algum morador de rua  é alvo de alguma atrocidade, chegando até mesmo às fatalidades. As ruas de Bucareste, nas madrugadas, não são nada amigáveis com os seus moradores.

Porém, a pergunta que não quer calar e parece uma tijolada em sua mente, é se, esse caso está ligado aos que vem acontecendo em outros países. Mesmo Andrei sendo um investigador renomado, as informações vindas dos órgãos policiais são escassas. A única coisa que informam, é que a cabeça não foi encontrada. Somente isso. A cabeça nunca está no local do crime.

Andrei Vasile sabe que há vários tipos de serial killers, mas um que ande pelo mundo? Ou talvez um copycaty (Um imitador)? O mundo está louco" pensa o investigador.

— Andrei — Polov interrompe os pensamentos do investigador. —, a decapitação foi cirúrgica... apenas um golpe.

— Apenas um golpe?

— Apenas um. E olha isso! — O legista fala com excitação na voz. — Até mesmo o osso do pescoço, não foi impedimento algum. — O investigador fica suspenso com Polov. Ele é sempre comedido nas suas observações.

— Polov, você está gripado?

— Um pouco. Não tem como não ficar, trabalhando aqui dentro. — Com a mão direita, o legista chama o investigador para mais perto da luz.

— A sua excitação é somente por isso mesmo? Ou tem mais alguma coisa acontecendo?

— Você não vai acreditar no que vou te dizer.

— Tenta.

— O miserável aqui, estava correndo, quando foi decapitado pelas costas! — Andrei franze o cenho. — Tem noção como isso é impossível? Um único golpe! Vítima e assassino em movimento! E voilà! — A voz do legista é de pura excitação. Andrei, pensou até que Polov estava tendo um orgasmo, ao ver os dois braços do legista saindo das sombras e mostrando o corpo decapitado.

— Cara, muito estranho essa sua empolgação.

— Ora, não é todos o dia que vemos uma obra de arte, desse naipe. Não acha?

— O que mais podemos saber, dessa decapitação? — Andrei muda o assunto com outra pergunta.

— O artista é um perito. Não foi a primeira vez. Ele não vai parar até que o último esteja vivo. — O legista apoia as palmas das mãos sobre a maca de inox, depois de concluir a frase.

— Último? Como assim? — O investigador encosta-se na maca de inox e cruza os braços.

— Pense comigo: Por que somente algumas pessoas é que são mortas? Por que as vítimas são de vários continentes? O que elas tem em comum?

— Excelente pergunta Polov. É exatamente isso que estou procurando saber. Mas, você não respondeu a minha pergunta.

— Você já ouviu falar sobre a Lenda do Cavaleiro sem Cabeça?

— Só vi o filme.

— Eu ainda não. — O legista sorri. — Mas pretendo. Bem, há um ser chamado Dullahan. Ele é... vamos dizer assim, um ser maligno, perverso, e que tem prazer em arrancar as cabeças de determinadas pessoas.

— Não acredito que estou escutando isso. E ainda mais, vindo de você.

— Ora, mas é a mais pura verdade. As vítimas tem uma co-relação... todas as elas tem algo em comum.

— E como sabe disso tudo?

— Elas devem alguma. São culpadas. — Andrei desencosta-se da maca. — Sei que isso está martelando sua cabeça. As vítimas não seguem um padrão natural, e como você mesmo falou, morre um hoje na França, amanhã outro na Inglaterra, o primeiro nos Estados Unidos.

— Eu falei isso? — Polov sai das sombras em sua integridade. O jaleco branco enfim aparece em sua totalidade. Andrei saca sua arma, uma .380 e dispara. Atira várias vezes. O homem é arremessado para trás, jogado contra todos os materiais cortantes e cirúrgicos que estão atrás dele. O investigador sem demora chuta-o no abdômen, várias vezes seguidamente.

— QUE PORRA É ESSA? — Depois de auto perguntar, faz novos disparos para o corpo dentro do jaleco branco, sem cabeça.

— Madrugada fria Andrei. — O investigador vira-se assustado. — Não acha? Você é um irmão em tanto.— Com cuidado e arma em punho, Andrei Vasile segue a voz. — Mas, não sei como consegue viver em paz com sua consciência... embora que não vai demorar muito mais tempo vivo, porém, deixar o irmão que tanto o ajudou, morar nas ruas? — Andrei com cuidado, segura a luminária que está em cima da maca onde está o corpo de seu irmão e vira-a na direção da voz. — Se você faz isso com seu próprio sangue...

— Meu Deus! — Andrei coloca a mão que segura a arma, com o tambor de balas tampado-lhe a boca, quando ver olhos que parecem aço opaco, numa cabeça demoníaca, sorrindos para ele.

— Obrigado pelo elogio — Fala Dullahan cinicamente. —, Andrei Vasile, sua cabeça foi me dada e sua alma segue comigo para o inferno.

O investigador ao tenta correr, ao se virar tromba com o jaleco branco. Incólume. Parado diante dele. Andrei escuta um leve zumbido no ar indo e voltando.

DULLAHAN - A LENDA DO CAVALEIRO SEM CABEÇA - Lançado em 23/10/2019 - COMPLETO. Onde histórias criam vida. Descubra agora