ELEVADORES

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— Como está se sentindo?

— Melhor, obrigada. — Responde Ana Júlia. Porém, Douglas não sente firmeza na voz da moça. O casal continua sentado sobre a proteção da mangueira. — Foi uma coisa estranha. Um sentimento ruim. — Ana esfrega a mão direita, pressionando o peito. — Mas, estou melhor.

— Meu amor, foi assustador vê-la pulando no chão, segurando o pescoço e gritando.

— Eu imagino. — Ana é puxada novamente para junto do namorado. Douglas pergunta, acariciando-a gentilmente na maçã do rosto:

— Podemos ir, ou prefere ficar mais um pouco? — Ana não sabe o que responder. A jovem continua receosa de fazer um novo escândalo

— Façamos o seguinte, vamos ficar um pouco mais por aqui. — Ana responde com um abraço em volta do bíceps do rapaz. E Douglas estaria mentindo, se dissesse que não estaria gostando.

Douglas segura o queixo de Ana, e arranca-lhe um beijo suave. A jovem suspira e treme por dentro. Uma coisa que Ana nunca negou para si mesma, é o efeito que sente todas as vezes, que ele lhe faz carinho.

— Podemos ir para sua casa? — Pergunta Ana, recebendo de volta olhares surpresos com o pedido. — Eu não quero hoje, subir novamente naquele elevador.

— C-claro. É que fui pego de surpresa...

— Eu vi no seu rosto. — Ana Júlia esboça um leve e tímido sorriso. — A minha noite foi péssima. Mas, se você preferir assistir aula, te espero aqui embaixo.

— Nao! Eu prefiro está com você! — A resposta de Douglas foi tão expontânea, que ele achou-se um pouco cafona. Ana entendeu o que passou pela cabeça do rapaz, e diz:

— É justamente esse seu lado, expontâneo e tímido, junto com esse seu jeito simples de ser que sempre consegue arrebatar meu coração.

Os dois se beijam. Douglas apaixonadamente, prende-a pelo torso do pescoço, por baixo dos seus cabelos longos, enquanto Ana Júlia sente seus hormônios explodirem de excitação, com a pegada cheia de desejo e volúpia.

Por um instante, o beijo faz com que se esqueçam aonde estão, levando-os para um mundo que existe somente na imaginação deles.

O regresso desse mundo cheio de amor desejo acontece com os dois se olhando. Olhos nos olhos. O corpo fala, e naquele exato momento, um corpo estava pedindo pelo outro.

— Alguma vez, aconteceu de sentir que não viverá muito? — Pergunta Ana olhando diretamente para Douglas.

— Não. Nunca.

— Pois é — A jovem abaixa a cabeça. —, eu sempre tenho essa sensação... que não viverei muito. — Douglas não tem palavras, e por isso mesmo, prefere calar-se. — É como se a vida tivesse virado o relógio de areia, onde vejo a cada momento, a parte superior ficando mais vazia... e a de baixo, quase completa. Soterrando-me.

— Bem, se for para pensarmos assim, estamos todos juntos nesse mesmo enredo. Um dia morreremos, somente não sabemos em que lugar da fila estamos.

— Eu sei disso... porém há pessoas que verão seus netos e bisnetos crescerem. O que sinto é a sensação que nem viverei para ver meus filhos.

— Meu amor, aposto com você que nos casaremos, teremos filhos e seremos felizes. — Ana faz um gesto de dúvida, com a boca.

O casal se levanta e caminha abraçado pelo pátio da Faculdade e parece exalar feromônio por onde passa.

Douglas ama muito Ana Júlia, desde a primeira vez que a viu na faculdade, no seu coração sempre soube que um dia seus caminhos se cruzariam e que ficariam juntos.

Ela ainda não sabe, talvez porque nunca perguntou, que Ana é sua primeira namorada... e bem lá dentro do seu íntimo, deseja que seja a única.

Os pensamentos dele para com ela, sempre são juntos. Com um futuro imenso pela frente... cheio de filhos e netos, correndo por dentro da casa. Douglas, nunca imaginou um futuro sem Ana Júlia ao seu lado.

O apartamento onde Douglas mora, não fica longe da Faculdade. No máximo são cinco quarteirões.

Ana Júlia sente-se segura ao lado do namorado, enquanto caminham para casa dele, ela sabe que Douglas a ama. Ele não é apenas lindo por fora, mas sempre tem sido um gentleman com ela.

Talvez a única dissonância entre os dois, seja a crença. Ele é católico... Ana, no entanto, não tem nenhuma crença formulada e sempre quando perguntada, a resposta é a mesma: "Ainda não parei para pensar sobre isso."

Porém, a forma como Ana Júlia responde é contundente e definitiva, não dando espaço para os porquês.

Embora haja essa suposta dissonância entre eles, talvez seja exatamente isso que a faça querê-lo ainda mais como homem.

Douglas parece saber que Ana não gosta de falar sobre religião, fazendo assim, uma união ainda mais estável e amorosa. Livre de obrigações e amarras invisíveis.

Os dois se completam. Talvez, se Renato Russo tivesse os conhecido, em outro tempo, uma determinada música poderia ter tido outros protagonistas.

O prédio onde Douglas mora é alto. O casal sobe para o apartamento que fica no décimo terceiro andar. São dois por andar.

— Se tivesse medo de alturas — Ana Júlia fala olhando a cidade do Recife pelo vidro panorâmico do elevador —, acho que todos os moradores estariam me escutando gritar.

Douglas sorri e fala:

— Não seja tão exagerada. Até parece que moro nas nuvens. — Depois que desceram no andar, Douglas abre a porta do apartamento e comenta: — A casa é simples.

E é verdade. O apartamento não é cheio de móveis, embora todos os espaços sejam muito bem aproveitados e de muito bom gosto. As cores variam entre o cinza e branco, respeitando as cores dos móveis.

Uma televisão gigante pega uma parte da parede, até porque o imóvel é grande no comprimento.

Ana Júlia vai até o janelão, que fica no lado oposto da entrada. E sente-se dona do mundo quando o centro da capital pernambucana aparece diante dela, conseguindo ver até mesmo os rios Beberibe e Capibaribe de onde está.

Douglas abraça-a pelas constas, juntando-se como se fossem um só corpo, a admirar a linda vista diante deles.

— O pesadelo era muito real. — Ana começa a falar. — Palpável. Olfativo. Até o gosto da relva molhada eu conseguia sentir. — Ana Júlia repugnasse dentro dos braços de Douglas. — O cheiro dele era podre.

— Dele?

— Sim. O cheiro de carne podre. — Douglas deixa sua namorada virar-se para ele, ficando de costas para janela. — E esse homem, montado no cavalo arrancava minha cabeça fora.

— Você foi dormir depois de assistir a um filme de terror? — Ana abaixa a gola da camisa amarela, que tem a estampa das "Meninas Super-poderosas", deixando aparecer o risco vermelho que circula o pescoço.

Douglas aproxima para ver melhor, porém beija o pescoço de Ana Júlia. A jovem sente o corpo queimar.

— Você é sempre tão gentil.

— A culpa é sua. Estou assim por sua causa. — As bocas voltam a se tocarem, e passarem a mais pura energia febril e carnal.

Ana sente a saúde do rapaz, tocando-lhe virilmente no roçar dos corpos.

— Posso conhecer o restante da casa? — Embora a pergunta pareça ter quebrado o clima, na verdade, só faz alimentar mais o desejo incontido, abrasado, pungente que toma-lhes conta.

Douglas sai apresentando os ambientes, abre a porta do seu quarto, mostrando da porta, a bagunça organizada. Quando ele volta para seguir à sala, Ana trava o corpo e diz:

— Vamos entrar. Eu quero ficar aqui com você. — Douglas abre um leve sorriso em sua face. Ele desejava fazer isso, mas, o que não queria era forçar uma situação. Ana Júlia entra no quarto de Douglas, indo na frente e o puxando pela sua mão esquerda.

DULLAHAN - A LENDA DO CAVALEIRO SEM CABEÇA - Lançado em 23/10/2019 - COMPLETO. Onde histórias criam vida. Descubra agora