A FESTIVIDADE

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        O rei Tighermas, está sentado em seu trono na sala oval. Os pensamentos do rei estão longe. Sua decisão já foi tomada. Ele lembra-se da amizade que nutria os três, mas, não poderia deixar uma traição daquelas proporções, onde envolvia a unidade da Irlanda, passasse sem uma punição.

         O rei tinha a certeza que as pessoas precisavam ver, que para todas as suas ações, sempre tem as suas consequências. E que a unidade da Irlanda sempre estaria em primeiro lugar. Não seria ele, o rei Tighermas, que quebraria essa hegemonia. Não seria ele o rei que acabou com a Irlanda. Mesmo, que para isso, tivesse que cometer atrocidades... matando inocentes.

— Saudações, meu rei. — Kraven, entra na sala oval com suas vestimentas para festa. Uma roupa que lembra uma batina, de cor verde, e com fios prateados alinhavando os bordados e o círculo com sete pedras, que fica em seu tórax.

— Saudações Sacerdote. Como estamos organizados para a festividade de hoje?

— Meu rei, tudo está pronto. O altar foi lavado, decorado e as pessoas começaram a chegar.

— Eu sei que você entende o ritual, sacerdote. — O rei Tighermas, olha para Kraven — Uma oferta tem que ser voluntária... ou pelo menos parecer que tenha sido.

— Verdade, meu senhor. Precisa mesmo. — Kraven, responde com reverencia.

— Se não, qual o sentido? E o pior... se não for voluntário, será a força, e sendo a força as pessoas se rebelarão na primeira oportunidade, e qual será o final de tudo?

— Um povo sem um rei.

— Exato Kraven! Sem um rei, mas com vários! E com isso, as nossas fronteiras ficarão abertas para nossos inimigos... sejam eles cristãos, mulçumanos, galeses... estaremos todos perdidos. O nosso povo marchará para a escravidão e o sofrimento.

         O rei Tighermas, levanta-se do seu trono e caminha na direção da janela, que dá vista para os jardins do terraço.

— Sacerdote, o mundo não é mais o mesmo. A lealdade tornou-se mercadoria de barganha... de troca. As amizades ficaram supérfluas. A minha Mão chegará que horas?

— Não sei, meu rei. Ele já deve estar a caminho. Realmente a Mão Direita do Rei, não costuma chegar atrasado.

— O que você acha que aconteceu, Sacerdote Kraven?

— Não sei dizer, meu senhor. — O rei vira-se para o sacerdote Kraven, ao escutar sua negativa.

— Sim... é verdade... você não teria como saber. — Suspirando o rei começa a contar uma estória — Certa vez, numa terra distante, um rei teve uma filha. A menina era linda e única. Aquele reino viva em paz, até que num certo dia, suas terras foram invadidas por uma praga, e o rei confiou a dois amigos seus, de infância, que exterminassem a praga que estava matando as terras. Os servos e amigos do rei, assim disseram que fariam..., mas, apenas disseram. Imbuídos pelo egoísmo, eles tramaram pelas costas do rei, e mataram sua única filha. — Rei Tighermas vira-se para o sacerdote Kraven — O rei ao saber da traição, chorou um dia e uma noite toda. Seu coração partiu-se em pedaços, porque nunca imaginou que sofreria tamanha traição daqueles que eram seus irmãos de sangue. — Aproximando-se do sacerdote, o rei pergunta-lhe — O que o rei deveria fazer com os assassinos da sua filha? Qual o destino que eles merecem ter?

— A morte, meu senhor. Eles merecem morrer. — Kraven, fala sem titubear. Ele sabe que a metáfora fora para ele e Jonathan. E o rei Tighermas, entendeu que eles estavam traindo seu reinado... a sua filha única. E de fato, Kraven sabe que sua ida na casa do cunhado, poderia culminar nesse exato momento.

         Um soldado de patente elevada, entra na sala oval. Ajoelhando-se, pede licença para interromper.

— Meu senhor, a Mão do Rei não estava em sua moradia. Ele e sua família fugiram. — O rei Tighermas, suspirando senta no seu trono. Ele apoia suas mãos no rosto. Seus olhos fervem com a ira.

— Soldado — O rei olha para o sacerdote —, traga o doutrinador. — Kraven, olhando para o chão, não entende o porquê de o rei chamar um homem que cuida de leis promulgadas. O doutrinador somente era chamado, para anotar e promulgar decretos que manifestassem grandes feitos, realizados por um homem, para o povo da Irlanda.

         O doutrinador chega com os olhos arregalados. Nunca um deles, havia sido chamado no último dia do solstício da primavera.

— Meu senhor, seu servo humildemente ajoelha-se em seus pés. — O homem fala sem olhar para o rei. Ele sabe que faltam duas pessoas para serem oferecidas.

— Doutrinador Ulthion, levante-se. — O homem levanta-se assustado — Você está aqui, agora, para testemunhar um feito digno para os grandes reis e líderes. E que toda Irlanda tenha conhecimento disso. — O rei Tighermas, tira um anel de prata com rubi, do seu dedo mindinho e o deposita nas mãos do doutrinador — O sacerdote Kraven, agora passa a ser a Mão Direita do Rei. — Ulthion, olha ainda mais surpreso para um sacerdote em pé ao lado direito do rei. A postura de Kraven está altiva. Um homem que entende sua próxima obrigação.

— Excelente escolha, meu rei.

— Meu rei — Kraven, começa a falar —, fico honrado com sua escolha, prometo honrar essa gratidão com minha vida. E como prova do meu agradecimento, eu e minha esposa seremos voluntários. — O doutrinador Ulthion, quase deixa seu corpo cair. Seu coração acelerou de felicidade, haja vista, a Mão Direita do Rei, poderia colocá-lo como voluntário.

— Assim seja feito. — Sentencia o rei Tighermas — O seu desejo será o meu desejo.

— Meu senhor de toda a Irlanda, e a filha do casal?

— Ela será minha serva. — Kraven, abaixa sua cabeça em gratidão.

— E a família do sacerdote? Digo, o restante da família. — Ulthion, está fazendo alusão para Jonathan Mcline. 

— Serão todos decapitados. — O rei fala olhando nos olhos de Kraven — Toda a linhagem dos Mcline será extinta. Risque o nome dele e de seus descendentes de todos os livros desse reino. Apague qualquer vestígio que um dia ele existiu.

— Sim, meu senhor. Sua ordem será realizada a partir de hoje.

— E Ulthion, após a festividade, você viajará comigo.

DULLAHAN - A LENDA DO CAVALEIRO SEM CABEÇA - Lançado em 23/10/2019 - COMPLETO. Onde histórias criam vida. Descubra agora