IRLANDA - BELFAST

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Região montanhosa situada a oeste da capital da Irlanda — 02:00pm — Calçada dos Gigantes Antrim, Belfast — Uma semana antes do primeiro assassinato.

— Dr. Fritz o que estamos procurando? — Pergunta Spencer ofegante.  Uma equipe de arqueologia, liderada pelo Dr. Fritz Brommer, está subindo a montanha, que fica logo após a famosa "Calçada dos Gigantes Antrim", que são formações rochosas, provocadas por uma erupção vulcânica acontecida milhares de anos atrás. É um lugar de beleza única, e lembram imensos degraus, saindo do mar para a superfície, em Belfast.

— Uma entrada. Digo, um pináculo rochoso com dez altares para sacrifícios. — A voz sai juntamente com o sopro da expiração.

— Altares? Ou Entrada? — Spencer continua intrigado com a resposta.

— Exatamente as duas coisas. É um local de extrema energia e riqueza,
onde eram feitos sacrifícios ao deus Crom Dubn. Os altares indicam uma entrada.

— E por que isso é importante? — Dr. Fritz para de subir. Ele olha para o jovem sobrinho, como um religioso que acabou de escutar uma heresia. E responde:

— Porque além de ser um marco arqueológico importantíssimo, desprezado por muitos, há inúmeras lendas de um tesouro escondido. — Dr. Fritz percebe a surpresa do rapaz e continua: — Ouro Spencer. — Ele fala baixo. — Ouro. — a pronúncia do doutor sai: ouuuro.

— Ouro?

— Shhhh! Fale baixo! Você quer morrer? Ninguém sabe disso! Agora, só você quem sabe. As pessoas que estão a alguns passos, lá atrás, não imaginam a riqueza dourada que acharemos.

— Mas, como o senhor sabe que ainda não encontraram esse... digamos, achado arqueológico?

— As fábulas meu rapaz! As fábulas! Você não tem ideia do poder que elas tem, ao serem contadas como verdade. A religião tem um poder fantástico.

— O que tem haver fábula com religião? Não entendi essa parte.

— Há uma crença local, dos seguidores do deus Crom Dubn, que somente o ouro pode prender o arauto da morte, criado por ele, em seu túmulo.

— E nós vamos libertar o arauto da morte desse deus?

— Dullahan é um mito fantástico. Leia o livro A Lenda do Cavaleiro sem Cabeça, de Washington Irving, do século dezenove. — Dr. Fritz volta a subir. — Não tenho tempo para ficar contando estórias. Quando você ler, vai entender o que estou falando.

— Eu vi o filme com John Deep.

— Eu também. Mas não é totalmente baseado no livro. Porém o que estou falando é da adoração a Crom. Dallahan foi o castigo contra a família cristã Mqcline. — O Dr. Fritz olha para Spencer que continua sem entender muito bem. Talvez, porque o vento esteja mais forte, indicando que estão chegando no topo, ou porque seja lerdo mesmo. O seu sobrinho é uma alma boa, pensa Fritz, mas ainda não amadureceu. Que pena.

Eles chegam realmente ao topo da montanha. Lá de cima, as escadas dos gigantes, parecem pequenos degraus. O frio logicamente está mais intenso, e o céu cinzento, tenebrosamente cinzento, arrepia as imaginações mais férteis.

O restante da equipe vai chegando e descansando. Alguns deles, subiram carregando equipamentos e suprimentos nas costas.

— Acho que meu ouvido vai estourar. — Reclama Spencer. — A dor de cabeça está insana.

— Dor de cabeça? — Pergunta Dr. Fritz. — Eu tenho uma bala de café. — O tio depois de mexer em seus bolsos, entrega-a para Spencer. — Quando mastiga-la, os ouvidos serão destampados.

Spencer faz o que o tio pediu, porém não houve mudança. Parecia que um sino, de duzentos quilos, estivesse badalando em sua cabeça. Dentro dela.

— E aí Spencer? Sente-se melhor?

— Sim! — O rapaz preferiu mentir. — A dor de ouvido está melhorando.

Em volta deles o verde, não é tão verde. Mas estranhamente cinza. Na verdade cinza, é uma forma de tentar mostrar que o verde, embora abundante, esteja morto. A vida sem vida.

A equipe de pesquisa, avança mais um pouco, e vê uma parede verde, inclinada para frente, lembrando a curva de uma onda vista por trás.

Eles sobem esse pequeno morro, e lá estão as dez pedras. Os altares. O coração do velho doutor acelera de felicidade.

— Bingo! — Diz o doutor, quase sem voz.

O local é um imenso círculo. Dentro desse espaço, há dez camas de pedras, acompanhando o círculo milimetricamente.

Dr. Fritz observa que nas extremidades desses altares, onde ficavam as cabeças dos doadores, tem riscos de machados descendo pelo altar de pedra, até perto da base.

O doutor deita-se nesse altar, e percebe que a parte onde ficam as pernas é levemente inclinado, deixando o tórax mais para baixo.

As pernas e a cabeça ficam fora do altar. Ele vira-se, ficando de bruços. Olhando a relva descolorida na base do altar. O doutor observa que há um caminho escondido pela grama alta.

Spencer percebe a excitação do tio ao encontrar a trilha que o sangue fazia quando saía do corpo da vítima... igual um jovem que vai atrás de um rabo de saia, Dr. Fritz levanta-se e segue a trilha.

— Um foço! — Exclama Dr. Fritz. Spencer está acompanhando tudo. O tio parece uma criança que acabou de ganhar um presente. — Pessoal! Escutem todos! — Dr. Fritz já encontra-se em pé, falando com todos os membros da equipe: — Vamos acampar aqui. Levantem o acampamento, vamos ter muito trabalho pela frente.

Dr. Fritz, chama Spencer para perto de si.

— Vide isso. — O tio abaixa-se e corta o dedo, deixando um filete de sangue cair no círculo de pedra, que fica no meio dos alteres.

— O seu sangue foi sugado! — Fala Spencer espantado.

— Exato. Agora, onde o ouro foi escondido? — Dr. Fritz olha para Spencer, e depois vira-se para todos os lados. — Nós estamos nos altares, falta acharmos a entrada.

— E se não houver ouro ou entrada?

— Você não entende Spencer, ou não quer ver, mas aquele círculo de cimento, sugou meu sangue.

— Sim! Eu vi! Porém, se o ouro estiver escondido em outro lugar? Aqui poderia ser somente o local para os sacrifícios, talvez haja um outro lugar... onde eles prenderam esse tal de Dullahan.

— Não! A entrada é por aqui. Eu sinto a energia! — Spencer, quase disse, que a única que estava sentindo era a dor de cabeça ainda mais forte. — Vamos siga-me.

— Mas, daqui a pouco vai anoitecer. Podemos nos perder nessa floresta. — Dr. Fritz olha de soslaio para o rapaz. Spencer percebe a irritação nos olhos do tio. Porém, o segue. Não vai deixar um senhor com mais de sessenta e cinco anos, sozinho numas floresta, que parece está viva e morta ao mesmo tempo.

Eles circulam o pináculo do monte. Descendo para uma parte mais em baixo.

Um nevoeiro aparece.

Não é qualquer nevoeiro, porque Spencer sente-se abraçado pela densa fumaça.

— Por que você está balanço a cabeça? — Pergunta Dr. Fritz incomodado com o sobrinho, que parece está tangendo mosquitos.

— Não é nada. Não é nada. — Spencer olha para trás, depois que respondeu. Ele jura que escutou uma voz feminina chamando-o: "Spencer". Porém a voz demorava mais no "en"... "Speeencer". — Tio? Onde o senhor está? — O rapaz não consegue ver mais do que um palmo à sua frente.

DULLAHAN - A LENDA DO CAVALEIRO SEM CABEÇA - Lançado em 23/10/2019 - COMPLETO. Onde histórias criam vida. Descubra agora