Bônus II - 2/2

2.4K 232 73
                                    

Acordei sentindo uma forte pontada de dor na minha cabeça, como uma promessa velada de que a ressaca seria minha companheira durante todo aquele dia, o que era engraçado, considerando que eu não me lembrava de ter bebido nada alcoólico.

Tento erguer a cabeça e olhar ao redor para ver quando estou, mas percebo que algo me impede de abrir os olhos.

Estou vendada?

E, quando tento erguer a mão para tirar a venda, percebo que também estou amarrada.

- Mas, que diabos...

Sentindo o desespero começar a crescer dentro de mim, eu respiro fundo, tentando me controlar e me obrigar a tomar ciência de cada parte do meu corpo: estou deitada de bruços, minhas mãos e pés estão amarrados separadamente, de forma que eu me encontro numa posição semelhante a do Homem Vitruviano de Da Vinci – é uma comparação idiota, eu sei, mas funciona. Sinto o toque macio de um lençol em volta do meu corpo, mas não consigo perceber se estou vestida.

Começo a tentar me mover e a forçar o máximo que consigo as costas que me mantém atada àquela cama, jurando escalpelar o desgraçado que estava fazendo aquilo comigo. Algum tempo foi necessário até que eu percebesse que usar a força era completamente inútil. Seria necessário usar magia. Então, controlei a respiração e me concentrei em tentar conjurar um dos feitiços que Regina havia me ensinado para soltar as minhas mãos.

- Não perca o seu tempo, querida. Estas cordas estão encantadas para bloquear a sua magia de luz. Você só sairá daí se eu quiser libertá-la.

Aquela voz. Aquele cheiro.

Eu estava tão distraída tentando me soltar que não tinha escutado ela se aproximar. Um desavisado teria facilmente confundido a voz dela com a voz de Regina, mas não eu.

- O que você quer, Majestade?

- Não é óbvio? Quero matar a saudade, bruxa. Achei que você gostaria de relembrar os velhos tempos.

- Ah, claro! - usei o meu tom mais sarcástico. - De quando eu era a sua escrava. Não era assim que você me chamava?

Ela soltou uma risada irônica e eu senti quando ela deitou ao meu lado na cama.

- Ora, veja só! - ela disse. - A julgar pelas lembranças da Regina que ainda estão na minha cabeça, não parecia que você guardava rancor, Salvadora.

Ela enfatiza a última palavra como um insulto e como forma de lembrete de que eu tinha escondido quem realmente era quando estive com ela na Floresta Encantada.

- E não guardo - eu disse. - Solte-me e deixe-me lhe provar isso.

- Bela tentativa - ela respondeu, afastando-se. - Mas, você não conseguiu me enrolar no passado e não será diferente agora.

- Não estou tentando enrolar você, Majestade. Afinal, sou eu que estou em desvantagem aqui, você não acha? Poderia ao menos deixar-me olhar para você.

A resposta não é imediata. Eu ouço ela andar lentamente pelo quarto. Mas, quando ela deita novamente na cama ao meu lado, eu percebo que a minha tentativa de fazê-la tirar à venda para que eu possa olhar ao redor e armar um plano de fuga é em vão.

- Eu adoraria olhá-la nos olhos, Emma - ela disse, bem próximo ao meu ouvido -, mas só tirarei essa venda de você quando tiver certeza de que voltou a ser a minha bruxa, porque odeio olhá-la e ver a maldita Salvadora na qual você se tornou. Além do mais, eu posso não estar mais ligada à minha parte boa, mas ainda conheço seus truques.

Como todas as outras vezes desde que chegou à cidade, a Rainha Má estava um passo à minha frente em todas as tentativas de detê-la. Soltando um suspiro resignado, eu me rendi ao fato de que estava totalmente à mercê dos caprichos dela até que Regina e os meus pais encontrassem um jeito de me resgatar.

Portal do TempoOnde histórias criam vida. Descubra agora